No dia 20 de Novembro na Assembleia da República foi aprovado
na generalidade a possibilidade de pessoas do mesmo sexo adoptarem. Ao
contrário do que os jornais afirmaram, ainda não é possível que duas pessoas do
mesmo sexo adoptem uma criança. O projecto-lei ainda tem que ser discutido e aprovado na
especialidade, e aprovado em votação final. Depois
tem que ser promulgado pelo Presidente da República que pode ainda, para além
de promulgar, vetar ou enviar para o Tribunal Constitucional. Se o TC encontrar
alguma inconstitucionalidade, o projecto-lei volta ao Parlamento onde a norma inconstitucional
tem que ser retirada. Se o TC nada opuser, pode ainda o Presidente, mesmo assim, vetar o documento. Se isso acontecer o projecto-lei pode ser outra vez votado
na Assembleia da República, onde tem que ser aprovado pelo voto da maioria dos
deputados em efectividade de funções (115 + 1). A seguir o Presidente tem que
promulgar. Então será publicado em Diário da República e só aí entra em vigor.
É evidente que o mais provável é que, mais tarde ou mais
cedo, este projecto-lei venha a ser lei e que pessoas do mesmo sexo casadas ou
em união de facto possam adoptar. Contudo, para isso, ainda falta finalizar o processo
legislativo o que pode levar de dias, a semanas, a meses (embora seja provável que
o processo seja conduzido com rapidez, não vá haver eleições antecipadas e
alguma coisa mudar na Assembleia da República).
O tema da adopção é sempre um tema delicado e que deve ser
tratado de maneira séria e responsável. Uma criança que entra no processo de
adopção viu ser-lhe cortado qualquer vínculo com a sua família biológica. Ou
seja, provém sempre de uma família destruída. Se uma criança já é frágil, uma
criança nestas condições encontra-se mais fragilizada e desprotegida do que a
maioria. Qualquer discussão sobre o seu futuro tem que ter sempre em vista o
seu interesse, que deve ser ajuizado com seriedade e serenidade, não com
paixões políticas traduzidas em chavões demagógicos.
A adopção por pessoas do mesmo sexo é um tema ainda mais
delicado. Nunca nos podemos esquecer que por trás de vários políticos e
associações que querem impor uma agenda de temas “fracturantes”, estão pessoas são reais. Pessoas para quem poder ou não adoptar uma criança é um assunto
dramático.
Não é novidade que a esquerda radical, que tantos gosta destas
engenharias sociais, não tem qualquer pejo em utilizar pessoas como bandeiras
para fins políticos, para no fim se esquecer delas tão rapidamente quanto
demora a encontrar uma nova “causa”. Assim foi com o aborto, quando tanto
falavam das mulheres em dificuldades, para depois, mal ganharam, nunca mais se
preocuparem com elas. Assim foi com o casamento entre pessoas do mesmo sexo,
quando Miguel Vale de Almeida resignou ao seu mandato de deputado mal a lei foi
aprovada. Assim também será com as crianças institucionalizadas e com os pares
do mesmo sexo mal consigam a aprovação desta lei.
Por isso, opor-se à adopção por pessoas do mesmo sexo nunca
poderá ser uma posição contra os pares do mesmo sexo que querem adoptar. A sua
vontade é compreensível e não tem nenhum sinistro plano por trás. Não façamos
nós a mesma injustiça que os partidos de esquerda, que usam e abusam das
pessoas para fins meramente políticos.
Devemos sim é estar
contra esta lei e contra a agenda por detrás dos seus proponentes.
Esta lei nada tem a ver com preferências sexuais. Não se trata da adopção por homossexuais ou de adopção gay. Para o Estado em nada releva as atracções sexuais de cada pessoa. Mais ainda, o Estado não pode nem deve aferir sobre os afectos das pessoas, sob pena de violar de maneira violentíssima a intimidade dos cidadãos.
Esta lei nada tem a ver com preferências sexuais. Não se trata da adopção por homossexuais ou de adopção gay. Para o Estado em nada releva as atracções sexuais de cada pessoa. Mais ainda, o Estado não pode nem deve aferir sobre os afectos das pessoas, sob pena de violar de maneira violentíssima a intimidade dos cidadãos.
O que está em causa é tornar possível a duas pessoas do mesmo
sexo exercerem em conjunto o poder paternal (ou na forma ainda mais politicamente
correcta, as responsabilidades parentais). Ou seja, uma criança ter, legalmente, dois pais ou duas mães. Para o Estado é indiferente quais os sentimentos ou
os afectos dessas duas pessoas, uma vez que isso também não releva para que
sejam considerados casadas ou unidas de facto.
Ora, na adopção o que está em causa é o superior interesse da
criança. A adopção existe, não para satisfazer um qualquer direito
(inexistente) à paternidade, mas para responder ao drama das crianças que por
alguma razão não têm pai e mãe. O que se pretende com a adopção é recriar a
situação natural tão próximo quanto possível.
Por isso a questão é saber se de facto é igual ter dois
pais, duas mães ou ter um pai e uma mãe. E não, não é igual. Homem e mulher não
são iguais. Pai e mãe, na sua complementaridade, têm ambos um papel essencial
na formação de uma criança. O feminino e o masculino são ambos essenciais para
o desenvolvimento de qualquer pessoa.
Negar a uma criança o pai ou a mãe é negar-lhe uma parte importante do seu desenvolvimento. Existem situações onde, infelizmente, isso acontece pelas circunstâncias da vida. E aí não há nada que seja possível fazer.
Mas afirmar que uma criança pode ter dois pais ou duas mães é ir mais longe. Porque aquilo que se afirma é que não há diferença entre
homem e mulher. Ou seja, afirma-se uma visão amputada da realidade. Priva-se a
criança de um modelo masculino e feminino, substituindo-o por um modelo andrógeno.
Ou seja, aceitar a adopção por pares de mesmo sexo é aceitar
uma visão da realidade que vai contra a própria realidade. É afirmar um projecto
ideológico sobre crianças que estão numa situação especialmente
frágil. E isso não é o superior interesse das crianças, mas um projecto político.
Negar a adopção por pessoas do mesmo sexo não é duvidar da
sua capacidade para exercer a paternidade. É simplesmente constatar que por
muito bom pai que um homem possa ser, não pode ser uma boa mãe. É afirmar que
duas mães, por muito boas que sejam, não são o mesmo que pai e mãe.
Respeito o drama de todos aqueles que, vivendo com alguém do
mesmo sexo, desejam adoptar e não podem. E não duvido que a sua vontade de
adoptar seja sincera e tenha boas intenções. Infelizmente isso não chega. A
adopção tem como critério o superior interesse da criança. Não o interesse
médio ou mais ou menos. E o superior interesse da criança é ter uma pai e uma
mãe. Já é mau que a realidade muitas vezes prive as crianças dessa possibilidade,
que o Estado o faça é uma violência.
Opor-se à adopção por pessoas do mesmo sexo não é ser contra
ninguém. É simplesmente defender que todas as crianças têm direito a pai e mãe.
Mesmo aquelas crianças a quem esse direito foi retirado pelas circunstâncias.