Todos as mensagens anteriores a 7 de Janeiro de 2015 foram originalmente publicadas em www.samuraisdecristo.blogspot.com

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

A Rua do Benfomoso e a irresponsabilidade do PS



1. Sempre houve rusgas em Portugal. Actualmente chamam-se operações especiais de prevenção criminal e estão previstas numa lei aprovada num Governo de José Sócrates, quando António Costa era Ministro da Administração Interna.

Todos os anos há dezenas de operações destas, que incluem cortes de ruas, revistas a pessoas, casas, lojas, etc. Tudo isto devidamente acompanhado por magistrados do Ministério Público.

Estas operações, têm como alvo zonas com altos índices de criminalidade. A Rua do Benformoso, onde só nos últimos dois anos se verificaram 52 crimes com arma branca, encaixa por isso perfeitamente no critério que leva a que habitualmente a polícia realize operações destas.

2. Podemos não gostar destas operações em geral, e até podemos criticar alguma em específico. Eu devo dizer que não sou fã, duvido da sua eficácia e acho que são propensas ao abuso de autoridade.
Dito isto, nada difere esta operação de tantas outras que a PSP normalmente realiza. A PSP cortou a Rua do Benformoso, como há um mês cortou vários bairros da zona da grande Lisboa, como já o fez em bairros do Porto, e no próprio Martim Moniz quando o governo era socialista.

3. O histerismo da esquerda em geral e do Partido Socialista em específico não tem por isso qualquer justificação. Aliás, é espantoso como durante anos nunca ouvimos qualquer resmungo de Isabel Moreira ou Ana Gomes quando estas operações eram feitas na Cova da Moura ou no Bairro do Lagarto. Nunca os arautos do antirracismo se levantaram quando os “corpos” encostados à parede eram negros ou ciganos. Foi preciso esperar por um governo de Direita para de repente se lembrarem que estas operações eram um atentado ao Estado de Direito.

O que está por isso em causa neste “escândalo” não tem nada a ver com xenofobia ou racismo. É pura manipulação que tem como única finalidade colar o Governo à “extrema-direita”.

4. A estratégia do PS é clara e irresponsável. Vivem de exacerbar casos e de manipular indignações, procurando claramente polarizar o debate entre eles, os justos e puros, e os fascistas, ou seja, todos os que discordam deles.

Domingo foi os imigrantes, sexta o aborto, no mês passado o racismo. Os socialistas não têm qualquer problema em usar pessoas, muitas delas em situações de fragilidade, para a sua estratégia política. São bandeiras que atiram fora assim que perdem a sua utilidade.

5. Por isso esteve muito bem Luís Montenegro ao denunciar o extremismo da manifestação “Não nos encostem à parede”. Evidentemente que nem todas as pessoas daquela grande multidão eram extremistas. E alguns têm de facto razões para se manifestar. Mas estão a ser usados por políticos e comentadores que não hesitam em comparar uma acção legal da polícia com a repressão nazi aos judeus.

Por isso a equiparação entre os promotores daquela manifestação e os promotores da vigília pelas forças de segurança não é apenas justa, mas perfeitamente acertada. A estratégia do PS e do resto da esquerda em nada difere da estratégia populista do Chega. Ambos distorcem factos e manipulam indignações para obter escândalos que lhes permitam dominar a narrativa do espaço público. E ambos apostam na polarização para se estabelecerem a si como justos e todos os seus adversários como malvados que procuram destruir a sociedade.

Isto já é mau quando praticado por partidos de protesto com o Bloco (que o faz há muitos anos) ou o Chega (que está agora a dar os seus primeiros passos). Mas o Partido Socialista tem a responsabilidade de não arrastar o país para esta irresponsabilidade, que fractura a sociedade, promove ódios e tem consequências imprevisíveis.

6. A verdade é que enquanto perdemos tempo com o último escândalo inventado por populistas, do Bloco ao Chega, passando pelo actual PS, os problemas do país continuam por resolver. Os populistas são óptimos a apontar problemas, mas totalmente incapazes de os resolver. Tenhamos esperança de que os eleitores não se deixem levar pela narrativa do histerismo, e deem aos que procuram realmente governar, os votos necessários para o fazer.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Alargamento dos prazos do aborto: um mero oportunismo


 

Sexta-feira, dia 10, será debatido na Assembleia da República o alargamento dos prazos do aborto. Aparentemente, como seria expectável dada a constituição do parlamento, as iniciativas irão chumbar, como qualquer pessoa que tenha dois olhos na cabeça conseguiria adivinhar.

A questão, é então por que razão se lembrou a esquerda de vir agora fazer esta proposta? Porque não o fizeram nos nove anos que tiveram maioria na AR? Se o PS está assim tão empenhado em garantir mais tempo para as mulheres abortarem, por que razão não o fez nos dois anos que teve maioria absoluta? A resposta é bastante simples, porque à esquerda em geral, e ao PS em particular, não lhes interessa que esta proposta passe.

Não nos confundamos, claro que eles preferiam prazos maiores para o aborto legal, mas o tema em si, interessa-lhes mais como bandeira política, útil para se abanada conforme as necessidades da agenda, do que a sua aplicação. Se tivessem proposto novos prazos para o aborto quando dispunham de maioria para isso, o assunto teria acabado por ali. Assim fica disponível para o reavivarem sempre que precisarem.

O timing destas propostas tem apenas duas finalidades. A primeira é poder acusar o PSD e o CDS de se encostarem ao Chega. Aposto convosco o que quiserem que depois da votação de sexta-feira estaremos dias a ouvir esse discurso.

A segunda finalidade é desviar a atenção do estado em que a esquerda deixou o SNS, criando um bode expiatório, que são os médicos. A lógica é simples, as mulheres não abortam porque os médicos são maus e objectores consciência. E em vez de discutirmos a falta de material, o estado decrépito do SNS, a falta de pessoal, estaremos a discutir a culpa dos médicos que recusam praticar abortos.

As mulheres que não conseguem abortar são para a esquerda apenas uma bandeira para usar enquanto lhes foi útil. Como foram os emigrantes há quinze, ou os habitantes da Cova da Moura há um mês, ou os transexuais há quatro ou cinco meses. E depois o interesse passará e a esquerda deixará cair ao chão estas pessoas, como o fez anteriormente, e passará para outras que lhes sejam úteis para criar ondas de revolta e gerar mais manifestos (sempre assinados pelas mesmas pessoas).

O problema é que as pessoas que eles usam como bandeira são reais. E merecem respeito. E precisam de apoio. Mas isso à esquerda é indiferente, porque assim que perdem o seu valor como bandeira, perdem qualquer interesse que podiam despertar a esses partidos.

Por isso não nos deixemos enganar: o que se vai votar dia 10 não tem qualquer relação com as mulheres, ou com qualquer drama humano. É apenas mais um oportunismo político daqueles que deixaram o país de rastos e agora tentam encobrir o rasto criando novas polémicas todos os meses.