Fomos
ontem brindando com umas maravilhosas e extraordinárias declarações do
responsável da Direcção-Geral de Saúde. Segundo Francisco George a lei do
aborto é um "sucesso".
Eu,
que não possuo a clarividência de Francisco George, não consigo deixar de perguntar: qual é o sucesso da lei? São as 169.000 crianças que foram eliminadas na
barriga da mãe? É o facto de 1 em cada 5 gravidezes terminar em aborto? As
repetições serem, pelo menos (porque só se sabe se é uma repetição se a mulher
o declarar) 1 em cada 3 abortos?
Ou o
sucesso é o facto de em Portugal haver mulheres a abortar para não serem
despedidas? Ou de mulheres que abortam para não levarem sovas dos companheiros?
Ou para não serem expulsas de casa dos pais?
Ou
será que o sucesso da lei é não haver qualquer tipo de medida de apoio às
grávidas em dificuldade? Será que é a proibição da Direcção-Geral de Saúde de
haver qualquer informação sobre o apoio a quem quer manter o seu bebé nos
hospitais e centros de saúde? Se calhar o sucesso é a ausência de acompanhamento
e aconselhamento no Sistema Nacional de Saúde às grávidas em risco de abortar.
Eu
percebo que quem está na sua torre de marfim, olhando apenas para relatórios de
números escolhidos à conveniência da sua ideologia, possa sentir-se tentado
achar que a lei que liberalizou o aborto é um sucesso. Mas seria de esperar que
a pessoa responsável pela Direcção-Geral de Saúde tivesse um pouco mais de
conhecimento do terreno.
Mas
como pouco depois de anunciar o sucesso da lei, Francisco George afirma que antes
recebia alguns protestos mas agora "já não se fala do assunto", é
fácil perceber que o senhor Director Geral vive completamente alheado da
realidade. Alheado das dezenas de instituições, que com poucos recursos, ajudam
centenas e centenas de mulheres e crianças em risco de aborto. Alheado da Lei de Apoio à Maternidade e Paternidade,
que nasceu da iniciativa de 50 mil cidadãos e que foi rapidamente desfeita pela
esquerda, que há dois anos procurou alterar a lei do aborto. Alheado dos
milhares de pessoas que todos os anos participam na Caminhada Pela Vida.
Alheado do estudo que todos os anos a Federação Portuguesa Pela Vida apresenta
sobre os números do aborto (baseados nos números da DGS, sendo que ainda
estamos à espera do 2016...). Alheado dos muitos encontros, conferências,
debates que todos os anos são feitos em Portugal sobre o aborto.
O
professor Francisco George que me desculpe, mas o único sucesso que pudemos
falar na lei do aborto é o seu sucesso em branquear a chaga social que é o
aborto livre em Portugal. Se algum dia quiser descer da sua torre de marfim e
voltar a tomar contacto com a realidade, o país, e sobretudo as crianças por
nascer, agradecem!