We few, we happy few, we band of brothers; For he today that sheds his blood with me Shall be my brother
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Ministério da Educação: Sexo, Manuais e Doutrinação!
Nas
últimas semanas saíram duas noticias, aparentemente sem nada em comum, sobre a
educação em Portugal.
No
dia 22 de Novembro o DN anunciava que, na opinião de vários especialistas, não
era ilegal negar manuais escolares gratuitos aos alunos das escolas privadas.
Já no
dia 4 de Dezembro, o mesmo jornal, produziu uma reportagem sobre o
Referencial de Educação para saúde que permite, entre outras coisas, educação
sexual no pré-escolar, carregada de ideologia do género, e introdução ao tema
do aborto no 5º ano de escolaridade.
Estas
duas notícias são claros exemplos daquele que é o maior problema do país: a
Educação.
Portugal
vive numa ficção, que este governo alimenta e acicata, que a Escola se divide
entre pública e privada. De um lado a escola pública, paga pelo Estado,
democrática, para todos, do outro a escola privada, elitista, para os ricos
snobs.
Por
isso, para muitos portugueses, é da mais elementar justiça que só os filhos dos
que andam na escola pública tenham direito a livros grátis, porque os das escolas
privadas recusam esse dever de cidadania que é frequentar a escola que Estado manda.
Ora,
a divisão entre escola pública e privada é falsa. Uma escola que seja
propriedade privada pode prestar (e muitas vezes presta) serviço público.
Qualquer escola que eduque uma criança presta um serviço público. O facto de o
serviço ser feito por privados não o torna menos público. Os correios são um
serviço público e contudo é detido por privados. A mesma coisa com a
electricidade, ou com os transportes públicos (com algumas excepções).
Educar
é um serviço público, mesmo que seja prestado apenas para ganhar dinheiro. Por
isso a divisão é entre escolas do Estado e escolas privadas, pois quer uma quer
outra praticam um serviço público.
Os anos têm
demonstrado que não só os resultados dos privados são melhores, como o custo
por aluno é mais reduzido. Se é mais barato e mais eficiente, porque razão este
Governo tem travado um tão grande guerra contra os privados terem uma maior
participação na Educação?
Evidentemente
que existem várias razões. Algumas de ordem técnica, como por exemplo como
garantir que os privados que detêm uma escola não vão proibir a matricula de alunos com maus resultados escolares ou como evitar que cobrem propina para além daquilo que o Estado paga.
Outras razões são meramente políticas: o monopólio da educação pelo Estado
garante mais emprego para os professores.
Mas a
grande razão não é nenhumas das acima descritas. A verdadeira razão é que a
escola estatal não serve para ensinar as crianças a ler e escrever, parafraseando
Clemenceau, mas para formar bons republicanos.
O
Estado não abdica do monopólio da educação, não para o bem das crianças, não
porque este seja o sistema mais eficaz para garantir uma educação melhor para
todos, mas porque não abdica de doutrinar as crianças.
E
isto torna-se evidente na segunda notícia de que falei. Só num país onde a
educação escolar é monopólio do Estado, onde os pais não são tidos nem achados,
onde os programas são decididos numa qualquer capelinha da 5 de Outubro é que
seria possível um programa de educação sexual que impõe a crianças pequenas
assuntos como a ideologia de género e o aborto.
É
evidente que as proposta para o Referencial de Educação para a saúde não tem
por fim a educação escolar das crianças, mas sim a sua doutrinação nas teorias
dos autores da proposta sobre a sexualidade. Não existe nenhum objectivo
educativo, apenas a mais pura doutrinação.
Há
anos que em Portugal temos assistido a um avançar, aparentemente implacável,
das chamadas medidas fracturantes. E em cada uma delas os católicos, e não só,
tem lutado bravamente e sido derrotados. E continuaremos a ser, porque vamos
para a batalha tarde demais. Quando lá chegamos já estamos em total
desvantagem.
Porque
a grande batalha é a batalha da educação. É a batalha pela liberdade dos pais
poderem educar os seus filhos como lhe parece melhor e não segundo a vontade dos
mandarins do Ministério da Educação.
Enquanto
não fizermos da Educação, e sobretudo da liberdade de educar, uma das nossas
prioridade políticas, continuaremos a tentar apanhar chuva com baldes, em vez
de arranjarmos o telhado! Inevitavelmente a casa inunda!
terça-feira, 29 de novembro de 2016
Homícidio a pedido da vítima: à espera do debate - Público, 29/11/16
Só existem dois países do mundo onde a Eutanásia é legal: a Bélgica e
a Holanda. Em ambos os países esta prática é definida como a morte de
alguém que o tenha pedido e que seja executada por um terceiro. Ou seja,
aquilo que neste dois países é legalmente definido como Eutanásia é, na
lei portuguesa, definido como homicídio a pedido da vítima (cfr Código
Penal, artº 134º.).
Em ambos os países o homicídio a pedido da vítima só é permitido em
casos de grande sofrimento, onde não haja esperança de melhoria. Em
ambos os países é preciso que a eutanásia seja autorizada pelo médico.
Em ambos os casos é o médico que executa a eutanásia.
Evidentemente
que os modelos belga e holandês não são os únicos possíveis. É evidente
que poderá haver uma lei que legaliza o homicídio a pedido da vítima
mais restritiva ou mais liberal do que estas. Parece-me é que
dificilmente haverá quem defenda uma lei onde qualquer pessoa que
expresse a sua vontade em morrer tenha o direito a ser executada pelo
Estado.
Ora, como já anteriormente afirmei, não me parece que o movimento
Pelo Direito a Morrer com Dignidade defenda um quadro legal muito
diferente do que aquele que hoje existe nos dois países que referi. Ou
seja: a morte a pedido da vítima ser possível nas circunstâncias que a
lei previr; ser necessário um agente nomeado pela lei para aferir se no
caso em concreto se aplica a lei; a morte ser executada por um
profissional de saúde autorizado pela lei.
É neste contexto que
tenho defendido que aquilo que estamos a debater neste momento em
Portugal não é a autonomia pessoal, mas sim saber se há condições em que
o Estado pode permitir e promover o homicídio a pedido da vítima.
Por isso peço desculpa ao Professor Rosalvo Almeida,
mas perguntar se o Estado pode decidir se há vidas menos dignas não é
uma pergunta capciosa, como afirmou no seu artigo de 5 de Setembro, mas
uma pergunta que se impõe diante da proposta que o Estado autorize e
promova a morte de um cidadão em casos de sofrimento e doença. Mais
ainda, relembro que aquilo que se está a discutir, aquilo que é pedido
na petição a favor da eutanásia que se encontra agora no Parlamento, não
é a mera despenalização da eutanásia, mas sim a sua legalização. Seria
bom que o senhor professor, tão lesto em acusar os outros de usarem
falácias, não as utilizasse só para "ganhar" o debate
Peço também desculpa à Professora Laura Ferreira dos Santos
pela minha insistência, ou perseguição como afirma no seu artigo de dia
1 de Novembro, em debater este assunto. Eu bem sei que seria bastante
mais cómodo que o debate se limitasse aos apoiantes da eutanásia. Bem
sei que se me limitasse a aceitar a autoridade do Professor Rosalvo
Almeida que garante que a minha argumentação é uma falácia (mas sem
nunca a refutar) a vida seria mais agradável. Infelizmente um debate
público inclui o contraditório, até de quem não possui a autoridade
sapiencial dos professores acima citados.
Por isso continuarei à
espera de quem aceite debater realmente o problema da legalização do
homicídio a pedido da vítima. Infelizmente, já percebi que o Professor
Rosalvo Almeida e a Professora Laura Ferreira dos Santos só estão
disponíveis para sermões.
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
Aleppo: Que Deus nos Perdoe.
Estive ontem na Igreja da
Encarnação ao Chiado a ouvir o testemunho da Irmã Guadalupe. Esta freira é
missionária e esteve em Aleppo nos últimos anos. Nos últimos tempos tem
percorrido o mundo a alertar para a situação que se vive naquela cidade.
É impressionante ouvir o
testemunho da irmã e perceber a gravidade da campanha de desinformação de que
temos sido alvos no Ocidente. Todos os políticos e media ocidentais vendem a
guerra Síria como uma luta dos rebeldes pela liberdade contra o tirânico
governo de Assad.
A verdade é que Assad é dos
poucos líderes laicos daquela região. A Síria é dos poucos países com liberdade
religiosa, onde as mulheres tinham direitos (incluindo a andar de cabeça de
descoberta!!) e com total estabilidade.
Os "rebeldes" não
lutam por uma maior democracia, mas por uma teocracia, um estado islâmico, onde
só o Corão é lei. Os "rebeldes", que na sua maioria nem sírios são,
pertencem a grupos extremistas islâmicos, como a Al-Nursa (o braço da Al-Queida
na Síria e berço do Estado Islâmico) e a Irmandade Muçulmana.
Ouvir a irmã Guadalupe
força-nos a tomar consciência do sangue que está nas mãos do Ocidente quando
decidiu ignorar, não apenas as consequências de uma guerra travada por bárbaros,
mas a perseguição sistemática aos cristãos na Síria levada a cabo por grupos
armados e financiados pelos países "democráticos".
Em nome de interesses
políticos e de jogos diplomáticos o Ocidente ignorou o extermínio dos cristãos
sírios. Crianças, mulheres grávidas, idosos torturados e mortos sem ter quem os
defendesse. As cabeças expostas nas praças sírias, os corpos exibidos em
cruzes, os mercados de escravos. Tudo isto foi ignorado com o único objectivo
de remover Assad, qualquer que fosse o custo a pagar.
Porque não, não é apenas os
Estado Islâmico que promove estes actos bárbaros, mas também grupos de rebeldes
apoiados e armados pelo Ocidente (para além disso, o Estado Islâmico só existe
na Síria por causa do enfraquecimento do governo, por isso também pelos seus
actos o Ocidente é responsável).
Durante a campanha eleitoral
americana ouvimos muitas vezes que Trump podia conduzir o mundo a uma guerra
mundial. Isso não sei, esperemos que não. O que sabemos é que Clinton e a
administração Obama, patrocinaram o genocídio dos cristãos sírios, assim como o
martírio de todo aquele povo. Sobre isso nenhum jornalista, nenhum politólogo,
nenhum comentador falou. Preferem todos atacar Vladimir Putin, que com todos os
defeitos, foi quem garantiu que a Síria não ficasse entregue a terroristas
islâmicos. Quando oiço comentar o perigo da aproximação entre Trump e Putin o
meu primeiro pensamento é de que pode ser que finalmente os americanos deixem o
povo Sírio em paz.
O sangue dos inocente de
Aleppo, dos inocentes de toda a Síria, clama por justiça! Diante de uma sociedade
hipnotizada pela comunicação social é urgente proclamar esta verdade: A Síria
precisa de paz e a paz, neste momento, só é possível com a derrota do Estado
Islâmico e dos rebeldes. Apoiar os rebeldes é continuar a apoiar a morte de
inocentes, é continuar a apoiar o genocídio dos cristãos sírios.
A Irmã Guadalupe ontem pedia
só duas coisas: oração e difusão. Rezemos e não cessemos de gritar ao mundo o
que hoje mesmo está a acontecer aos nosso irmãos em Aleppo.
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
Eleições na América: Algumas Notas.
1. A vitória de Trump é clara e em todas as
frentes. Tem o maior número de grandes eleitores, ganhou o voto popular, ganhou
na maioria dos Estados. Os Republicanos têm maioria no Senado e na Câmara dos
Representantes. Não há dúvida nenhuma que os americanos querem os Republicanos
de volta ao poder.
2. Nas últimas semanas muito se falou da
hipotética recusa de Trump em aceitar uma derrota. Sobre este assunto tudo se
disse. É de estranhar pois o silêncio após a recusa de Hillary em publicamente
assumir a derrota. O que vem aliás comprovar que as diferenças entre um e outro
não são assim tão grandes, a diferença parece ser o tratamento que a imprensa concede a cada um.
Os mesmos jornalista e comentadores que acusaram
Trump de não respeitar a democracia procuram agora toda a espécie de desculpas
para justificar a atitude de Clinton.
Num momento de grande divisão teria sido um
importante sinal de unidade nacional e respeito democrático que Hillary
reconhecesse publicamente a derrota.
3. Esta eleições demonstram o divórcio cada vez
maior entre as elites e a maioria popular.
Trump é eleito contra a vontade dos media, dos opinion makers, das estrelas de
Hollywood, dos apresentadores de talk
shows, até contra a vontade da liderança do seu próprio partido.
É cada vez mais evidente que a população (e não
apenas na América, veja-se o Brexit, o sucesso da Frente Nacional ou do Syriza)
desconfia hoje do sistema. Aliás o maior trunfo de Trump sempre foi o seu
passado sem experiência política e o discurso anti-politicamente correcto.
Penso que é hora de se começar a pensar o que está
de errado num sistema onde as elites e o povo vivem de costas voltadas.
4. O discurso de vitória de Trump foi o contrário
da sua campanha: pacífico, moderado, amistoso.
Começou por elogiar Clinton. Apelou a união de
todos os americanos. Disse querer boas relações com todos os países. Falou, em
tom grandioso como lhe é habitual, do sonho americano, do potencial da América
e da reconstrução nacional.
É de assinalar a operação de charme que Trump
lançou aos seus aliados Republicanos durante o discurso. Ao contrário do que é
habitual neste género de discursos, Trump foi muito informal, chamando vários
da seus apoiantes ao placo, sublinhando a sua importância na vitória, usando
quase sempre a palavra "nós".
Este Trump é bastante diferente, para melhor, do
Trump candidato. Agora é esperar para ver se o Presidente Trump será o conciliador
do discurso de vitória ou o populista da campanha.
5. A campanha foi das mais feias da história
americana. Ambos os lados construíram a sua campanha com base no insulto ao seu
adversário. Se isto era expectável da parte do populista Trump, a verdade é que
Clinton em nada contribuiu para subir o nível da campanha.
6. Em muitas discussões que tive durante a
campanha americana ouvi que o aborto era um assunto que não estava em discussão
nestas eleições. A verdade é que com a vitória Republicana vai ser possível
(logo veremos o que acontece) acabar com o financiamento federal ao Planned
Parethood. A nomeação de juizes pró-vida para o Supremo também irá possibilitar
reabrir a discussão sobre o aborto livre.
7. A América está hoje profundamente dividida. A
vitória de Trump, o mesmo aconteceria com a vitória de Clinton, não vem ajudar
a essa divisão. O presidente-eleito terá, entre outros grandes desafios, a
missão de pacificar internamente o país.
O discurso de ontem demonstra essa vontade. Porém, as palavras valem pouco. Também Obama fez sempre o discurso da
unidade do país, enquanto as suas acções ajudavam a cavar ainda mais o fosso
entre americanos.
Esperemos que Trump nos surpreenda e que de facto
passe das palavras à acção. Infelizmente, se assim não for, os Estados Unidos
enfrentarão tempos muito difíceis.
8. Como já começa sendo hábitos, as sondagens e
previsões demonstraram estar enganadas. Ao contrário de todas as previsões, não
só Trump ganhou como os Republicanos mantiveram o controlo sobre o Congresso.
É evidente que existe hoje um problema com as
empresas de sondagens. A população eleitoral mudou e é evidente que estas
empresas ainda não conseguiram acompanhar esta mudança.
Mas também é importante começar a pensar até que
ponto é que hoje as sondagens se transformar em arma de campanha. Gostemos ou
não, estas influenciam os resultados. E a verdade é que hoje em dia parecem mais obedecer aos desejos das empresas que as realizam do que à
realidade.
terça-feira, 8 de novembro de 2016
O Outro Como Bem: O Caminho da Democracia
A
Democracia tem como base a ideia que todos os Homens são iguais em direitos e
dignidade e que por isso cada um tem igual direito de contribuir para o governo
da sociedade.
Por
isso numa democracia verdadeira não é suficiente o sufrágio universal e eleições
livres e justas. É também necessário o respeito pelos direito de cada
individuo.
A
Democracia só funciona quando existe respeito pelo outro. Dentro de uma
democracia não pode haver inimigos, apenas adversários. Pessoas que defendem
soluções diferentes da minha, mas que trabalham para o bem comum.
A
Democracia acaba quando os adversários políticos passam a ser inimigos. Quando
os partidos e as facções se constituem como único alternativa possível, quando
o outro é um mal que tem ser evitado e destruído (ainda que apenas nas urnas),
então aí a Democracia transforma-se numa ditadura da maioria, onde quem
consegue o poder impõe a sua vontade, ignorando a aquela fatia da população que
não votou em si.
Neste
momento, um pouco por todo as democracias ocidentais, assistimos a uma
polarização da política. Trump e Hillary (escrevo enquanto os americanos estão
a ir às urnas) são disso exemplo claro. Das notícias e comentários que vão
sendo publicados parece que ninguém vai votar nos candidatos porque gosta
deles, simplesmente porque considera o adversário mau.
Mas
este fenómeno não é apenas americano. Espanha precisou de dez meses e duas eleições para conseguir ter um governo (e
mesmo assim, parece que só o medo de desaparecimento levou o PSOE a aprovar o
governo PP). Em Portugal, o PS preferiu aliar-se à extrema esquerda do que
permitir aos vencedores das eleições governar. Em França a Frente Nacional é
cada vez mais a maior força política. A Grécia elegeu um governo de extrema
esquerda que não teve problemas em aliar-se à extrema direita para governar.
Em
todos estes casos uma coisa é clara: a clivagem entre forças políticas é cada
vez maior. Não há espaço para os moderados, só para extremos. Ou estás
connosco, ou contra nós. E então nesse caso és um vendido à europa ou então um
nacionalista; a favor da austeridade ou um irresponsável gastador; islamofóbico
ou apoiante do terrorismo. Cada lado vive na sua trincheira, olhando com ódio
para o inimigo escondido poucos metro à sua frente, esperando apenas o momento certo
para o destruir.
Esta
polarização da política é um perigo para a Democracia. É um perigo porque torna
fácil a quem tem força suficiente para governar cair no despotismo. Se o outro
é um mal, se aquilo que outro defende é completamente errado, se eu tenho
poder, então não há razão alguma para não fazer tudo de acordo com a minha vontade,
sem ter em conta os direitos do outro. Claro que todos os sistemas democráticos
têm limites ao poder. Mas mesmo esses limites podem, em democracia, ser
ultrapassados.
Podemos assim ter um sistema aparentemente democrático, com eleições livres e justas, com separação de poderes, com uma constituição, mas que no fundo é a ditadura dos que ganham. E para aí caminhamos.
Podemos assim ter um sistema aparentemente democrático, com eleições livres e justas, com separação de poderes, com uma constituição, mas que no fundo é a ditadura dos que ganham. E para aí caminhamos.
A única
solução é de facto começar a olhar para o outro, para aquele que discorda de
nós, como uma possibilidade de bem. Perceber que em cada homem existe um desejo
de justiça, de felicidade e de amor. E que mesmo quem propõe soluções erradas,
busca tal como nós o Bem Comum.
Não
significa isto um relativismo em relação à Verdade. Mas um olhar aberto para o
outro, de maneira a ser possível fazer verdadeiramente política, ou seja,
construir o bem comum, mesmo com aqueles com quem não concordamos.
É
evidente que existe sempre a liberdade do outro, que pode recusar esta
abertura. Que pode insistir em demonizar-nos e tratar-nos como monstros. Mas
quanto a isso nada podemos fazer.
Este
caminho, o de tratar o outro como um bem, é um caminho difícil e
complicado. Não é fácil vencer suspeitas e ultrapassar preconceitos. Mas é o
único possível para uma sociedade verdadeiramente livre.
Trump ou Clinton, os EUA vão eleger um mau presidente - Rui Ramos, Observador, 8/11/16
Não sei qual dos dois candidatos os americanos vão escolher, mas seja
qual for, vão escolher um mau candidato, que será um mau presidente.
Donald Trump é pior do que Hillary Clinton? Talvez, mas não nos deixemos
ofuscar pelas lendas que fazem de Trump um intruso, a tentar subverter
de fora o regime americano. Porque se o milionário, estrela de televisão
e antigo anfitrião dos Clinton representa alguma coisa, são tendências
há muito manifestas num sistema de que também ele faz parte.
Trump é quase tudo o que dizem dele. Mas não está sozinho. Trump
parece excepcionalmente incivil, mas só até vermos a ousadia com que a imprensa dita “séria” se
permite escrever sobre ele. Trump divide os americanos, mas Clinton faz
o quê, quando, com uma velha sobranceria oligárquica, classifica as
plebes que não votam nela como “deploráveis”?
Trump é paranóico, mas a campanha de Clinton não hesitou em insinuar
que o FBI conspirava contra ela. A indulgência com que Trump trata Putin
é chocante, mas só se nos esquecermos que Obama começou com uma complacência igual. Trump é proteccionista, mas já também Clinton renega os tratados de comércio. Trump é autoritário, mas poucos presidentes abusaram tanto das “ordens executivas”
como Obama. Trump não é apenas um populista: é um espelho do sistema,
mais do que ele próprio ou os seus inimigos gostariam de admitir.
Na política interna, Trump e Clinton concordam em muita coisa, a
começar pelas políticas sociais e pela intervenção do Estado na
economia. É nos negócios estrangeiros, que Trump parece destoar, com o
muro contra o México, a ameaça de guerra alfandegária com a China, e o
desinteresse pela NATO. Dir-se-ia que Trump acredita que a prosperidade
nacional dos EUA pode ser separada da ordem mundial que os EUA fundaram
através de alianças militares e acordos de comércio. Na Europa, já se
chora a perda do guarda-chuva americano, se Trump ganhar.
Acontece que, mais uma vez, Trump não está a romper com uma tradição,
mas a reforçar uma tendência. Afinal, foi Barack Obama quem deixou
Putin à solta na Ucrânia e na Síria, a Turquia em deriva neo-otomana, e a
China a plantar bandeiras nos mares do sul. E foi também Obama quem
denunciou os aliados dos EUA como “free riders”. A tentação isolacionista americana não começou com Trump. Já em 2000, Al Gore acusava George W. Bush de “isolacionismo”. O 11 de Setembro arrastou Bush para fora da América. Mas em 2008, Bush abandonou a Geórgia a Putin, apesar de a Geórgia estar a combater ao lado dos americanos no Iraque.
O problema não está só em Trump. Foi a elite americana que perdeu a
sua velha crença num destino mundial. Os EUA têm uma população a
envelhecer, que exige cada vez mais do Estado. A sua economia é ainda
uma das mais prósperas do mundo, mas já não cresce como no passado e
está carregada com uma dívida maior do que a que existia antes de 2008.
Estes não são os EUA de 1960, de Kennedy e de Johnson, decididos a
combater o comunismo e a pobreza no mundo.
Talvez o mundo precise de um grande presidente americano. Mas se não o
teve em Obama, também não o terá desta vez. A polarização da opinião
americana, conjugada com a divisão constitucional dos poderes, limitaria
o alcance de qualquer presidência. O cadastro dos candidatos – e haverá
mais investigações sobre a falta de transparência e o enriquecimento
dos Clinton – é tão temível, que muito provavelmente o mundo não será a
sua maior preocupação. Para já, ainda ninguém foi eleito, e a conversa
política é já toda sobre o “impeachment” do próximo presidente, Clinton ou Trump.
Nestas eleições, parece que os americanos, à direita ou à esquerda, não
esperam escolher mais do que um mal menor. Mas um mal menor é ainda um
mal. E mais tarde ou mais cedo, é isso que os americanos — e o mundo —
vão descobrir.
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Eleições Americanas: O Debate.
Publiquei ontem um artigo sobre as eleições
americanas sem me lembrar que era o dia do último debate entre Clinton e Trump.
Se me tivesse lembrado teria provavelmente esperado mais um dia, aproveitando
assim aquilo que seria discutido em Las Vegas.
Não o fiz, mas ao ler hoje os resumos do debate
percebo que não teria mudado nada. Confirma-se mais uma vez que estamos diante
de dois candidatos muito maus. Deixo aqui apenas três notas sobre o debate de
ontem.
1. Trump foi Trump: ordinário, populista, demagogo.
1. Trump foi Trump: ordinário, populista, demagogo.
De bom teve a promessa de nomear juízes pró-vida
para o Supremo Tribunal e o seu pragmatismo em relação á Síria e ao papel da
Rússia na luta contra o Estado Islâmico.
De mau (para além da já proverbial malcriação e
ausência de ideias) a sua resposta sobre o que faria em caso de derrota.
"Vou ver na altura" não é uma resposta aceitável quando lhe perguntam
se vai aceitar os resultados das eleições. A Democracia não é compatível com
birras e chantagens.
2. Hillary foi Hillary: a pose de estadista, o discurso
"responsável" ao mesmo tempo que apelava a ala radical do seu partido
no mesmo tom demagógico do seu antigo concorrente democrata, Bernie Sanders.
De bom, a restrição ao porte de armas e a posição
sobre a emigração. Para além disso demonstra melhor preparação que Trump sobre
os assuntos.
De mau: a posição sobre o aborto e o lobby LGBT e
a posição sobre a Síria. Teve o descaramento de afirmar que a guerra civil
continua por culpa da Rússia e de Assad.
Convém relembrar que os Estados Unidos nos últimos
cinco anos armaram a oposição Síria, constituída maioritariamente por
extremistas islâmicos. Sem a Rússia, Assad teria caído e a Síria estaria agora
como a Líbia: entregue a senhores da guerra em continua luta pelo poder, com o
único ponto em comum de quererem impor uma ditadura islâmica. Encerrar o espaço aéreo
da Síria, permitindo assim a recuperação dos rebeldes não levará à paz, mas ao prolongamento
da guerra da Síria. Como Hillary bem sabe. Mas não lhe interessa porque prefere
continuar a demonizar a Rússia do que resolver o problema da Síria.
3. Impressionante como ambos os candidatos têm um
claro problema de honestidade em relação ao dinheiro. E como ambos se defendem
acusando o outro de ser mais trafulha.
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quarta-feira, 19 de outubro de 2016
Eleições Americanas: Entre Cila e Caríbdis.
Os
gregos e os romanos acreditavam que o estreito de Medina, que separa a
península itálica da Sicília, era habitado por dois monstros, um de cada lado
do estreito: Cila e Caríbdis. Isto queria dizer que, ao passar o estreito, os navegantes estavam entre dois
monstros igualmente terríveis.
É
esta imagem que me vem à mente quando penso nas eleições americanas. Daqui a
menos de vinte dias os americanos serão chamados a escolher entre Hillary
Clinton e Donald Trump, dois dos piores candidatos da história da república
americana.
De
Trump já todo o mal foi dito. E, mesmo descontado algum exagero aqui e ali, a
maior parte do que se diz sobre "The Donald" é verdade. Não tem
qualquer experiência política, é totalmente inconstante nas sua ideias, é
populista, arrogante e ordinário, tem negócios pouco claros, não tem nenhuma
ideia concreta. Toda a sua campanha se baseia em ser um anti-obama, procurando
assim captar os votos de todos aqueles descontentes com a presidência dos
últimos oito anos. Em toda a campanha Donald Trump tem demonstrado ser
absolutamente amoral e que está disposto a dizer o que for preciso para ser
eleito. As ideias de Trump sobre a imigração e sobre o islão demonstram um
total desrespeito pela vida humana e pelas liberdades individuais.
O
problema é que do lado de lá está Hillary Clinton. A mulher do antigo presidente Bill
Clinton foi Secretária de Estado no primeiro mandato de Obama. É por isso
co-responsável pela estratégia política que levou à conquista de grande parte
do Iraque e da Síria pelo ISIS. É também co-responsável pelo política
anti-Rússia (que continua a defender) que tem tido como grande resultado o
continuo apoio dos Estados Unidos aos rebeldes sírios (nos quais estão
incluindo o ramo sírio da Al-Qaeda e a Irmandade Muçulmana) e o arrastar da
guerra civil nesse país. Também como Secretária de Estado, Hillary este envolta
num escândalo por ter recebido e enviado mails com material confidencial do
seu servidor privado. Mails esses que apagou por "engano", gorando
assim a investigação que lhe foi feita pelo FBI.
São
muitos os rumores das ligações do casal Clinton às grande empresas. E a verdade
é que a fortuna do casal disparou depois de Bill ter saído da Casa Branca. Se em 2001 o casal tinha um passivo de 8
milhões de dólares, calcula-se que neste momento tenham uma fortuna de 111
milhões de dólares. Evidentemente que a riqueza não é crime, mas para quem
tanto ataca a maneira de fazer negócios de Trump, Hillary parece também ter
telhados de vidro neste campo.
Moralmente
Hillary não é melhor que Trump. É evidente que o candidato Republicano é mais
chocante, quanto mais não seja porque é mais grosseiro do que Hillary. Mas não
é apenas por causa disso.
Trump
sobressai mais porque as barbaridades que diz chocam (e na maior parte das
vezes com toda a razão) a opinião pública politicamente correcta. Infelizmente,
os mesmo que se indignam (e bem) por Trump fazer graças sobre assediar
mulheres, não se chocam quando Hillary defende o aborto livre até aos fim da
gravidez. Os mesmo que se revoltam quando Trump diz que quer expulsar todos os
muçulmanos dos Estado Unidos, ficam em silêncio quando Hillary afirma que as
religiões vão ter que mudar para aceitar os "direitos reprodutivos"
(entenda-se, aborto livre). A questão não é que Hillary não seja tão imoral
como Trump, mas a sua imoralidade está de acordo com a doutrina politicamente
correcta dos media que fazem a opinião pública.
Por
fim, Hillary tem uma vantagem sobre o seu adversário: está mais bem preparada
para o cargo do que ele. Não há dúvida que Clinton é mais capaz para
desempenhar o papel de presidente que Trump. Contudo, entre um presidente
incompetente e uma presidente competente mas que defende políticas erradas, não
me parece que um seja melhor que outro.
Resumidamente:
Hillary Clinton e Donald Trump são ambos maus candidatos. Dificilmente alguém,
especialmente um católico, se pode sentir confortável a votar num ou noutro. Se
Trump neste capítulo até pode aparentar alguma vantagem (tem dito que é
pro-life e a favor da família) isso deve-se mais à sua falta de ideais (o que
lhe permite defender o que quer seja preciso defender para ganhar) do que a uma
qualquer moralidade.
O
melhor resultado para a América no dia 8 de Novembro seria que ambos perdessem.
Contudo, um deles vai ganhar. Para mim tem sido difícil ter uma preferência e
agradeço a Deus não ter que votar nas eleições americanas.
Contudo,
reconheço que o menos mau dos resultados talvez seja a vitória de Trump. Como já acima expliquei, ambos os candidatos
são igualmente maus. O que os separa realmente é a "plataforma" que
os apoia. Ora, Trump é apoiado pelos Republicanos. Mas este apoio é forçado. Só
o apoiam (e mesmo assim nem todos) porque ele é o candidato do partido. Quer
isto dizer que Donald nunca contará com o apoio suficiente no Congresso para
governar à vontade. Se Trump vencer, terá que negociar todas as nomeações (quer
para o governo, quer para os tribunais), terá que negociar todos os gastos,
todos os tratados.
Isto
não o impedirá de fazer muitos disparates, mas não lhe dará muita margem de
manobra. Donald Trump, se ganhar, ficará irremediavelmente "atado" ao
Partido Republicano para conseguir governar.
Já
Hillary Clinton terá espaço de manobra suficiente para impor a sua vontade ao
Partido Democrata que se encontra submetido à sua influência (como os últimos
escândalos da Wikileaks vieram comprovar). Terá provavelmente poder para fazer
cumprir os seu programa, o que inclui
continuar a política pró-aborto e pró-LGBT de Obama, assim como a sua política externa que parece ter como único objectivo enfraquecer a Rússia, mesmo que para isso tenha que apoiar terroristas.
Se
entre Trump e Clinton não vejo grande diferenças, entre Democratas e
Republicanos sim. E é por isso que prefiro a vitória de Donald sobre Hilary.
Ganhe
quem ganhar no dia 8 de Novembro a Democracia vai perder. Porque perde sempre
quando a escolha é entre dois males menores. Resta-nos por isso esperar pelo mal menor. Mesmo sabendo que será sempre uma grande mal.
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
José Sánchez de Río: "Viva Cristo Rei!".
Foi
ontem canonizado pelo Papa Francisco José Sánchez del Río. Joselito, como é
popularmente tratado, era uma criança de 14 anos que se juntou aos Cristeros, o
exército cristão que lutou contra a perseguição religiosa lançada pelo
presidente Mexicano.
Foi
preso e torturado. Recusou-se sempre negar a sua fé. No dia 10 de Fevereiro de
1928 foi morto. As suas últimas palavras foram "Viva Cristo Rei!".
Em
2012 foi lançado o filme "For Greater Glory - The True Story of "Cristiada" que
conta parte da história da guerra dos Cristeros, incluindo a morte de São José
Sanches do Rio. É um belíssimo filme, que se encontra facilmente na internet e
que merece ser visto. Foi o actor que representou o papel de Joselito, juntamente com uma criança de 14 anos da terra do mártir, que ontem entregaram as relíquias do novo santo durante a cerimónia de canonização.
Neste tempo, onde tantas crianças morrem mártires, especialmente na Síria, que
São José Sanches do Rio nos conceda a todos um Fé firme e corajosa como a dele.
Viva
Cristo Rei!
O vídeo não é extarordinário, mas foi a única versão desta cena que encontrei disponível.
terça-feira, 11 de outubro de 2016
Pedro Aguiar Pinto - Pai do "Povo".
O
Senhor decidiu chamar a Si o Pedro Aguiar Pinto. Esta notícia apanhou-me de
choque hoje de manhã. E num momento destes só de facto a Fé nos insondáveis,
mas porém misericordiosos desígnios do Bom Deus nos pode valer. Porque de resto
é incompreensível que alguém que tanta falta faz possa assim ser arrebatado do
meio de nós, deste modo tão inesperado.
Desde
de pequeno que tenho memória do Pedro. Da sua serenidade, da sua simpatia, da
sua paciência, do seu interesse pelas pessoas. Não tenho ideia de alguma vez o
ter visto irritado ou zangado. Muito pelo contrário, a imagem que sempre tive
foi de um homem feliz. E para um homem que viveu o que ele viveu, isto já seria
suficiente elogio. Porque só alguém com uma grande fé pode estar diante do
drama da vida, e sobretudo diante dos dramas concretos da vida do Pedro, sem
ficar amargurado. A sua serenidade e felicidade já eram, por si só, testemunho
da sua santidade. Só por isso já valia a pena conhecê-lo.
Mas o
Pedro foi muito mais do que um homem alegre. Era um homem apaixonado pela vida.
Um homem a quem tudo interessava. Que não estava acomodado na sua importância
de professor universitário consagrado, mas que continuamente se entregava ao
serviço dos outros.
O
Povo é disso o sinal mais público e claro. A fidelidade com que durante anos e
anos, de forma absolutamente gratuita, se entregou à missão de ajudar milhares
de pessoas a formar um juízo verdadeiramente cristão sobre a realidade deu
frutos abundantes, visíveis já aqui na terra, mas cuja a totalidade só veremos
no céu.
O
Pedro fará muita falta. Antes de mais à família que tanto amou. Depois aos seus
muitos amigos, para quem sempre foi uma presença fiel e um testemunho claro de
fé. Mas fará muito falta ao Povo de Deus, que ele ajudou a edificar na Fé com a
sua vida e a sua obra. Conforta-me saber que na presença de Deus, reunido na
plenitude com aqueles que amou e que partiram antes dele, intercederá por todo
o Povo de quem foi pai.
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
Morte Assistida: Ainda à Espera de Resposta.
1.
Foi com tristeza e comoção que li o artigo da Laura Ferreira dos Santos (LFS) publicado
no Público de dia 7 deste mês, onde narrava a história de dois idosos, um deles
afectado por um AVC, que vivem abandonados pela família e pela sociedade. A
história, embora se passe no estrangeiro, podia perfeitamente ser a de milhares
de idosos que em Portugal vivem nessa situação ou em situações ainda piores.
Confesso
contudo que o artigo em questão me parece ter acrescentado nada ao debate sobre
legalização do homicídio a pedido da vítima. Eu percebo que um idosos doente,
que vive sozinho, sem apoio da família e da sociedade deseje a morte. Não
consigo compreender uma sociedade que diante destes factos pondere a morte deste
idoso em vez de procurar soluções para o problema.
Relembro
aliás, que um dos pedidos da petição Toda a Vida Tem Dignidade é precisamente
que se "Promova uma política mais eficaz de combate à exclusão de idosos e
incapacitados, nomeadamente através de apoios concretos às Famílias."
Legalizar
o homicídio a pedido da vítima para dar resposta ao abandono dos nossos mais
velhos e mais frágeis é simplesmente admitir o fracasso da nossa sociedade. É
promover uma cultura individualista, de desresponsabilização pelos que mais
precisam. É um acto de profundo egoísmo disfarçado de falso altruísmo:
preocupo-me tanto com o teu sofrimento que estou disposto a deixar-te morrer,
até a permitir que sejas morto de maneira higiénica e indolor, para acabar com
ele (mas não estou disposto é a fazer sacrifícios para acabar com as causas do
teu sofrimento!).
2.
Para além da tristeza e comoção houve outro sentimento que me assaltou quando
li o artigo em questão: a perplexidade. Isto porque no dia 31 de Agosto
publiquei um artigo neste jornal onde respondia a LFS e lhe colocava duas
simples questões:
"a)
O Estado pode decidir (dentro dos parâmetros acima descritos) que vidas têm ou
não dignidade?
b) O
Estado deve promover a morte dos cidadãos que queiram por termo à sua vida?"
Não
posso por isso esconder o meu espanto pela total ausência de resposta a estas
perguntas. Não sei se LFS considera que estas questões não são pertinentes, se
não tem resposta a dar-lhes, ou se prefere simplesmente não dizer publicamente
a sua opinião.
Qualquer
que seja a razão, tenho pena de não receber resposta. Isto porque me parece
essencial perceber que aquilo que estamos a debater é permitir ao Estado que
termine a vida de uma pessoa a pedido desta.
Repito
aquilo que já anteriormente afirmei: eu percebo que seja mais eficaz, para os
fins políticos de LFS e daqueles que a acompanham, centrar-se em
sentimentalismos sobre a autonomia pessoal. Contudo, os portugueses merecem um
debate sério e não apenas mais uma campanha publicitária. Continuarei por isso
à espera de uma resposta.
P.S.:
Tive conhecimento da morte de João Ribeiro Santos, com quem também travei este
debate. Embora em lados opostos da barricada, não posso deixar de me curvar,
perante a sua morte, ao homem que, num país onde o activismo cívico é tantas
vezes menorizado ou ignorado pela "política oficial", esteve disposto
a dar cara e a trabalhar por aquilo em que acreditava.
José Maria Seabra Duque
Jurista
Subscritor da Petição Toda a
Vida Tem Dignidade
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Morte a Pedido: Duas Questões - Público 31/08/2016
1. Tenho
mantido neste jornal um acesso debate com Laura Ferreira dos Santos e com João
Ribeiro Santos sobre a questão da morte a pedido. Infelizmente temos perdido
muito espaço em questões laterais em vez de focar-mos o debate no essencial.
Peço por isso desculpa, mas não farei uma introdução descrevendo tudo o que foi
dito até aqui. Sobretudo, porque me vejo, mais uma vez, obrigado a insistir nos
pontos que constituem o cerne da petição e dos meus dois artigos anteriores e
para os quais ainda não recebi resposta.
2. Diz
Laura Ferreira dos Santos no seu último artigo que " Por acaso terá ouvido
algum de nós dizer que o Estado devia determinar a dignidade ou não de uma vida
humana?". De facto, não ouvi ou li tal afirmação da parte de nenhum dos
defensores da eutanásia. Contudo, é a consequência lógica de se defender a
legalização do homicídio a pedido da vítima e do suicídio assistido.
3.
Digo isto porque não acredito que os peticionários do Direito a Morrer com
Dignidade defendam a simples liberalização do homicídio a pedido da vítima e do
suicídio assistido. Não acredito que defendem que o Estado tem o dever de
autorizar e eventualmente executar a morte de qualquer pessoa que o peça.
Duvido seriamente que defendam que deixe de ser crime matar alguém ou ajuda-la
a cometer suicídio desde que se faça prova que a vítima o pediu.
4. Acredito que aquilo que defendem é que em
certas circunstâncias (quando existe grande sofrimento e um pedido expresso)
possa e deva o Estado autorizar a que se ponha fim à vida de uma pessoa.
5.
Ora, isto significa duas coisas: primeiro que é o Estado que define, através da
legislação, quem pode recorrer ao homicídio a pedido da vítima e ao suicídio
assistido. Segundo que será o Estado, através do mecanismo que for criado para
fiscalizar a aplicação desta lei, a decidir em que casos concretos pode e deve
esta ser aplicada.
6. É
evidente que o pedido será da pessoa que quer morrer. E que esta pode sempre
mudar de ideias. Contudo, quem decide se de facto aquela pessoa pode morrer é o
Estado. De facto não será suficiente a vontade expressa de morrer, será sempre
necessário:
a)
que se preencham os requisitos legais;
b) o
consentimento do Estado.
7.
Existe ainda outro ponto essencial da intervenção do Estado: tendo autorizado o
homicídio a pedido da vítima ou o suicídio assistido, caberá naturalmente ao
Estado executa-lo, através de profissionais de saúde devidamente autorizados e
capacitados. Não está em discussão uma simples autorização administrativa do
suicídio ou do homicídio. O debate não é sobre se o Estado pode ou não permitir
que um cidadão se mate. Mas sim, se o Estado pode, ou pior se está obrigado, a
conceder os meios para por termo à vida de um ser humano.
8.
Por tudo isto é que continuamos a insistir que o centro desta discussão não é a
autonomia pessoal. Não estamos a discutir a licitude do suicídio. Já todos
sabemos que a Laura Ferreira dos Santos e o João Ribeiro Santos consideram que
cada um tem direito a por fim à sua vida. Mas aquilo que realmente interessa é
saber se consideram que:
a) O
Estado pode decidir (dentro dos parâmetros acima descritos) que vidas têm ou
não dignidade?
b) O
Estado deve promover a morte dos cidadãos que queiram por termo à sua vida?
9.
Estas são as duas questões que temos colocado desde o principio do debate.
Estas são as duas questões para as quais ainda não obtivemos resposta.
José Maria Seabra Duque
Subscritor da Petição Toda a
Vida Tem Dignidade
Jurista
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