Hoje é dia da exaltação da Santa Cruz, uma das
mais misteriosas festas do cristianismo. O normal é festejar as grandes
vitórias, como o nascimento ou a ressurreição. Mesmo o sacrifício, mesmo sendo
um momento de derrota, é razoável celebrar: o amor e a coragem de quem se
oferece pelos outros. Mas hoje celebramos a próprias Cruz. Celebramos o
instrumento da tortura do Nosso Salvador.
Exaltamos a cruz, porque foi o sofrimento que
Jesus nela sofreu que redimiu os nossos pecados. A cruz lembra-nos que a morte,
a dor, o sofrimento, não têm a última palavra. Nem o mais atroz sofrimento, nem
a mais flagrante injustiça, nem o drama mais esmagador têm a palavra
definitiva. O sofrimento, a dor, a injustiça, a morte, entregues a Deus são possibilidade
de redenção. É no maior sofrimento, totalmente despojados de todos os confortos
do mundo, que podemos imitar verdadeiramente a Cristo e entregarmo-nos
totalmente nas mãos de Deus.
Nada
disto é fácil, nem imediato. O Padre João Seabra, que hoje faria 74 anos, explicava
na última homilia que fez no dia dos seus anos: “A vida toda não chega para
perceber isto, para começar a perceber isto: começar a perceber o bem que há
para nós na derrota, no fracasso, no insucesso, nos tormentos, na morte. É este
o significado desta festa: aprendermos a amar as circunstâncias em que Deus nos
ama, e deixarmo-nos amar por Deus como Deus nos ama.”
O Padre João
foi para nós, foi para mim, um claro testemunho da liberdade que só é possível
na Cruz. Na liberdade a quem mais nada resta do que o Senhor. Por isso esta
festa é tão importante: para vivermos com os olhos na Cruz na qual fomos, e
continuamente somos, redimidos.