Os ataques de dia 13 em Paris deixaram-nos chocados. Todo o Ocidente ficou abalado pelos actos tenebrosos cometidos
numa das maiores capitais da Europa. E a verdade é que estes ataques nos
tocaram mais do que os actos terroristas que nestes dias ocorreram no Quénia e
no Líbano. Dizer o contrário é uma hipocrisia.
E chocaram-nos mais por uma razão muito simples. Não é que as
vítimas do Líbano e do Quénia sejam menos inocentes que os mortos de Paris, ou
que a sua vida tenha menos valor. Os libaneses e os quenianos são tão inocentes
como os parisienses. A sua vida tem o mesmíssimo valor. Infelizmente vivem em
zonas do mundo onde estes acontecimentos são habituais. Os seus governos, as
suas forças de segurança, as suas forças armadas enfrentam grupos terroristas
muitas vezes mais bem armados, com mais recursos e mais apoio do que eles. Por
isso o terrorismo nestes países, embora igualmente desprezível e bárbaro, é
expectável.
Mas que uma coisa destas aconteça no coração da Europa
choca-nos e assusta-nos. Porque França tem ao seus dispor toda a tecnologia,
todos os recursos, tem estabilidade política, força armadas e de segurança capacitadas
com os mais modernos meios de investigação e com o armamento mais eficaz. E
mesmo assim demonstrara-se incapaz de garantir a segurança de Paris. Incapazes de defender a sua capital de um pequeno grupo de
terroristas armadas de AK-47 e explosivos artesanais.
O ataque a Paris choca mais o mundo do que os ataques no Líbano
e no Quénia, porque deixa claro que não é apenas nos países pobres que estas
coisas acontecem. Deixa claro que os terroristas podem atacar em qualquer lugar
do mundo, por muitos meios que tenhamos à nossa disposição.
O Ocidente pode, e deve, arrasar o Estado Islâmico na Síria e
no Iraque. Pode, e deve, aumentar a vigilância sobre os extremistas islâmicos:
desde a internet até às mesquitas radicais. Pode, e deve, melhorar o controlo
fronteiriço. Mais ainda. O Ocidente pode, e deve, acolher melhor aqueles que
fugindo da guerra e da miséria procuram a Europa. Pode, e deve, procurar uma
maior integração das comunidades islâmicas. Pode, e deve, fazer muitas coisas.
Contudo, nem assim se resolve o problema do terrorismo islâmico.
Dos cinco terroristas até agora identificados, quatro eram
europeus. Nados e criados no centro da Europa. Filhos do império francês,
educados na Europa. Não falamos por isso de jovens nascidos no meio da
violência e da guerra, educados em madraças, habituados à morte. Mas de jovens
(todos tinham menos de trinta anos) que preferiram matar e morrer em nome do
Islão a tudo aquilo que o Ocidente lhe tinha para oferecer.
A força não é suficiente para acabar com o terrorismo. Mas também
não será o multiculturismo de esquerda que oferecerá solução. A culpa não é do
imperialismo ocidental que bombardeia a Síria ou dos soldados americanos que
lutam no Afeganistão. Estes terroristas não foram expulsos dos seus países pela
malvada NATO. Não eram vítima do capitalismo, ou pelo menos, não eram mais vítima
do que os outros milhões de jovens que vivem nas capitais europeias sem fazer mal a ninguém.
Não bastam discursos retóricos, ideológicos vazios.
Nem as ameaças de Hollande, nem o pacifismo da esquerda. É preciso ir à raiz do
problema: o que é o Estado Islâmico tem para oferecer a estes jovens que é mais
atractivo que do que aquilo que a sociedade ocidental oferece? Porque
preferiram estes homens matar e morrer em nome do Islão a viver na paz
europeia?
E aqui chegamos à raiz do problema: a Europa não tem nada
para contrapor à ideologia islâmica. O ocidente já não acredita em nada. Não é
que agora já não acredita em Deus ou na religião, nisso já não acredita há mais de um
século. A nossa sociedade já não acredita em nada.
O problema não é que não reconhece a Verdade, é que nega a existência de uma Verdade (qualquer que ela seja). Para a nossa
sociedade a Verdade é uma opressão, tudo é relativo. Não há Verdade quer dizer
que não há verdadeira Beleza, ou verdadeira Justiça ou verdadeiro amor. Tudo é
relativo.
Por isso, contra a ideologia apaixonada do extremismo
islâmico a Europa só tem a oferecer aos seus jovens o "nada". O extremismo
islâmico apela ao desejo profundo do coração do homem. O desejo de liberdade,
de justiça de eternidade e depois deturpa-o. Mas o Ocidente nega que esses
desejos sequer existam e afoga-os numa quantidade enorme de ofertas de
distracções.
Entre uma versão deturpada da Verdade ou a
negação da existência dos desejos mais essenciais do coração humano, há muitos
que preferem a deturpação ao nada. E isso fica mais evidente quando quatro
jovens criados na Europa decidem entrar numa sala de espetáculos e matar tantas
pessoas quanto podem antes de morrer.
Por isso o problema do terrorismo não é resolúvel através de
projectos políticos. Pode-se conter, pode-se diminuir, pode-se até tornar
ineficaz, mas o problema permanece.
O terrorismo antes de ser um problema sociológico ou político
é um problema humano. É no coração do homem, de cada homem, que se ganha ou se
perde a “guerra contra o terror”. Por isso, enquanto o Ocidente só tiver para
oferecer o “nada” esta guerra continuará a perder-se.
Atenção à gralha "Paria" em vez de "Paris".
ResponderEliminarMuito bom artigo!, na linha de "O desafiado verdadeiro diálogo após os atentados de Paris" e ao nível a que nos tem habituado o blog "Nós os poucos". Abraço desde Madrid.
Concordo inteiramente Zé.
ResponderEliminarOntem, ao ler um artigo de Helena Matos no Observador, dei por mim a constatar com o facto de que este Ocidente em que vivemos já não tem convicções, e quando isso acontece só lhe restam indiganações (passageiras, para mais).
Mas para "combater o terrorismo islâmico" como defendes tu e a Helena, são necessárias "intervenções militares e policiais que só se fazem com o tempo longo dos pactos e a resiliência que nasce das convicções."
A consequência, é que é muito provável que "às primeiras imagens de uma operação mal sucedida e aos primeiros homens caídos, político europeu algum fora do Reino Unido resiste às “manifestações pela paz”, até porque logo os seus rivais usarão esse apelo como argumento eleitoral."
Não vejo como vai a Europa sair deste "nada" como resposta, não no imediato, não em tempo "útil". Infelizmente...
Não bastasse toda tragédia, ainda fazem escárnio com o símbolo publicado no post. Ele representa a cruz de Nero. A crucifixação de cabeça para baixo com os braços estendidos e o círculo ao redor é o símbolo de satã.
ResponderEliminarEnfim, o Ocidente está todo dominado pelos asseclas do mal.
O mundo cristão ou "cristão" gemerá ainda mais.