Desde
as eleições de dia 4 de Outubro desdobram-se os esforços de várias figuras,
sobretudo ligadas ao Partido Socialista, para explicar que o Partido Comunista
Português é um partido democrático, igual a todos os outros. Para estes quem ataca o
PC é anti-comunista primário. Regra geral citam a luta
"anti-fascista" e a resistência de Álvaro Cunhal a Salazar.
Ora,
a história não é a preto e branco. Não há apenas maus e bons, hás bastantes
tons de cinzento pelo meio. Álvaro Cunhal não se opunha a Salazar para instaurar
um regime livre e democrático. Mas sim para construir um regime comunista, onde
a liberdade e a democracia estavam sujeitas ao bem da revolução comunista.
Aliás,
Cunhal nunca escondeu este facto. É fascinante ler a entrevista que o grande líder
comunista deu à jornalista Oriana Fallaci, que foi publicada no Jornal do Caso
República, no dia 27 de Junho de 1975.
Nessa
entrevista Álvaro Cunhal explica que nunca haverá um parlamento em Portugal; que os comunistas não entram no jogo das eleições; que há menos presos
políticos do que deveria a haver e que são libertados muito rapidamente; e acaba
afirmando que Portugal não será um pais com liberdade democráticas e monopólios,
companheiro das democracias burguesas.
Mais
ainda, o Partido Comunista não se ficou por palavras, mas demonstrou com os
seus actos qual era o seu objectivo. Entre Abril de 1974 e Novembro de
1975 sucederam-se os saneamentos, as nacionalizações e as ocupações. Os
comunistas, através dos sindicatos e dos estudantes, com o apoio de alguns militares, tentaram garantir na rua o que nunca conseguiram ganhar nas urnas.
É
verdade que isto aconteceu há 40 anos e que entretanto o PCP mudou. Hoje em dia
apresenta-se apenas como defensor dos trabalhadores e do povo contra o
capitalismo e o imperialismo. Já não fala de revolução e respeita as eleições
(até se intitula de patriótico, valor que antigamente era burguês, mas que
agora é de esquerda). Vive sobretudo graças ao apoio dos sindicatos, que lhe
dão um poder desproporcional ao seu apoio eleitoral.
O PCP não mudou por vontade própria, mas apenas por uma questão
de sobrevivência. Mudou porque perdeu o exército e a rua em 75. Mudou porque
com a entrada na CEE a nossa democracia estabilizou. Mudou sobretudo, porque a
União Soviética ruiu.
O Partido Comunista Português é um partido da nossa democracia, mas não é
um partido democrático. Quer na vida interna (provavelmente o único partido que
não precisa de disciplina de voto, porque só há uma opinião dentro do partido)
quer na vida publica.
Quem não acredita vá ler os estatutos do Partido
Comunista, onde se defende a nacionalização da economia. Ou então, os número do
jornal Avante onde louva Lenine e a Revolução Bolchevique e ataca a queda do
Muro de Berlim, apelidando-a de golpe do imperialismo. Ou ainda, veja quais os
partidos irmãos, recebidos na festa do Avante, entre os quais se conta o MPLA,
o Partido Comunista Chinês e o Partido Comunista Cubano.
Afirmar
que o Partido Comunista Português é um partido democrático é por isso um mito.
O PC vive numa democracia e adaptou-se a ela como mero expediente de
sobrevivência, no qual é especialista. Não é caso único em Portugal, também o
PNR ou o MRPP fazem o mesmo. É apenas o de maior expressão.
Com
isto não quer dizer que o PCP deva ser ilegalizado. A liberdade democrática não
se defende diminuindo a liberdade de expressão e a liberdade política. A
Constituição garante a Democracia. As instituições, especialmente o Presidente
da República e o Tribunal Constitucional, garantem a defesa da Constituição.
Contudo,
não podemos é escamotear a verdade. O Partido Socialista tem toda a
legitimidade para formar um governo com o Partido Comunista. O voto de um
deputado comunista tem o mesmo valor que o voto de qualquer outro deputado,
assim como um voto de um eleitor comunista tem o mesmo valor do que o voto de
qualquer outro eleitor. Mas é preciso que não se esconda que, ao aliar-se com o
PC, o PS escolhe aliar-se a um partido anti-democrático.
Se assim for, ficaremos a saber que António Costa e o Partido Socialista preferem estar no poder com um partido anti-democrático a aceitar uma derrota democraticamente imposta pelos eleitores.
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