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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

CDS razões de um voto


 1. Uma mudança de época.

Vivemos um tempo de fim de uma era. A civilização ocidental, construída pelo cristianismo, rejeita as suas origens. Se é verdade que o Ocidente se tem descristianizado nos últimos séculos, aquilo que é hoje diferente é que aquelas evidências, fruto da cultura cristã que ainda sobravam, ruíram completamente nos últimos vinte anos.

Hoje a cultura dominante professa um homem criado à sua imagem e semelhança, que se define a si mesmo. Que define quando começa e termina a vida, que define a sua sexualidade, que define onde começa e termina a dignidade. Uma cultura que aceita tudo excepto a possibilidade da Verdade.

O resultado político desta cultura reflecte-se num Estado que procura moldar a realidade através do poder. Um Estado que define o que é vida e o que não é, o que é a família, quem é homem e quem é mulher. Evidentemente que o resultado é um Estado totalitário, que não admite a própria realidade.

É por isso urgente procurar espaços na política onde seja possível defender a liberdade de afirmar a Verdade. Antes de mais, que o Homem é criatura de Deus, que é anterior ao Estado, e que a sua Dignidade e Liberdade não está dependente do Estado ou da sociedade. Que o Estado existe para servir o Homem, para defender a família e a sua liberdade, os corpos sociais, ou seja, que exista para fortalecer a sociedade civil e não para a dominar.

Temos a tentação hoje de olhar para a política pelo critério do mundo, que a divide em direita e esquerda. Esta divisão, por muito facilitadora que seja, é redutora. A verdade é que, quer à direita quer à esquerda, encontramos a mesma mentalidade onde Deus foi substituído pelo Estado, pelo Mercado, pela Pátria, ou por outro qualquer chavão ideológico. A mim pouco me interessa a direita e a esquerda, o que me interessa realmente é encontrar uma realidade política que defenda a Dignidade e a Liberdade do Homem e da sociedade.

 

2. O paradoxo entre ideal e realidade.

O empenho político nasce de um desejo de justiça, de verdade, de beleza. Nasce de um pulsar do coração que nos leva a desejar um mundo melhor.

Ao mesmo tempo, a política é feita em geral de pequenas coisas e de grande limites. A política está sempre limitada, antes de mais pela nossa incapacidade e disponibilidade. Mas sobretudo, limitada pelo liberdade do outro. É impossível em milhões de pessoas que tudo seja como nós desejamos.

Temos por isso duas soluções. Rejeitar qualquer compromisso, e viver de tal maneira presos ao ideal que acabamos sós e impotentes, ou perceber como é possível, dentro dos limites que a realidade impõe, servir o ideal.

É um equilíbrio nem sempre fácil. É fácil cair na trincheira da ideologia, em que o ideal se transforma no único prisma porque olhamos a realidade até a reduzirmos a uma ideologia. Não é mais difícil, a coberto do realismo utilitário, descartar o ideal com a desculpa da eficácia.

Por isso a política vive nesta tensão entre o ideal e o real. Exige um discernimento constante em cada circunstância sobre como é possível viver o ideal em cada decisão concreta.

Este paradoxo está especialmente presente na hora de votar. Nenhum candidato é o ideal, todos têm defeitos ou aspectos com os quais discordo. E todos nós preferíamos outros candidatos quaisquer. Mas o facto é que nas eleições somos chamados a escolher entre os candidatos que há, e não entre os candidatos que sonhámos. E por isso a alternativa é entre escolher aquele que mais se adequa ou desresponsabilizar-nos (com a desculpa que nenhum serve) da política.


3. Porque voto CDS.

Nas eleições de 30 de Janeiro, é preciso escolher entre os vários partidos qual aquele que melhor defende a Dignidade do Homem e a sua liberdade. Existem várias questões concretas que serão importantes nesta legislatura e que ajudam a discernir sobre o voto.

A primeira questão é a da eutanásia. A legalização da morte a pedido significa que o Estado reclama para si o direito de definir em que circunstâncias a vida humana tem ou não valor. E se o Estado pode decidir sobre a dignidade humana, significa que pode decidir sobre qualquer outro direito. Se há circunstâncias em que o Estado pode decidir que é licito matar, significa que haverá sempre circunstâncias onde o Estado pode decidir retirar qualquer outro direito fundamental.

Por isso, não posso votar num partido que não rejeita a eutanásia. Bem sei que provavelmente, e independentemente do meu voto, a questão será aprovada no Parlamento. Mas existe um diferença fundamental entre não conseguir travar um lei injusta e dar o meu voto a quem a vai aprovar.

Mas a questão da dignidade humana não se esgota no direito à vida. O respeito pela dignidade de cada pessoas concreta em cada circunstância, significa também respeitar a dignidade dos trabalhadores, dos mais pobres, dos doentes, de todos, incluindo  daqueles que cometem crimes. Porque ou a dignidade humana é objectiva e independente da circunstância, ou então está à disposição do poder.

Um segundo ponto essencial é a liberdade de educar. E não se trata apenas da liberdade de escolher a escola, ou da autonomia das escolas (que também é importante). Mas sim de reconhecer que a missão de educar cabe antes de mais à família e que ao Estado cabe auxiliar as famílias, não substituir-se a elas. Defender o fim da doutrinação obrigatória nas escolas e liberdade dos pais para escolher a educação dos filhos é essencial.

Um terceiro ponto essencial é liberdade dos corpos sociais. Portugal é um país profundamente estatista, onde o Estado tem a tendência de absorver qualquer iniciativa fora da sua esfera. É necessária uma sociedade forte, que seja capaz de responder aos problemas sociais. Por isso apoiar os corpos sociais (a Igreja, as associações, as IPSS, etc) é essencial para uma sociedade livre.

Por fim, também é importante a liberdade económica, porque esta é essencial para garantir a dignidade humana. O homem é sempre digno, mas quando vive na pobreza a sua dignidade não é respeitada. É preciso criar condições para que cada pessoa possa trabalhar dignamente e viver dignamente do seu trabalho. E isso não é possível com a asfixia fiscal em que vivemos. É preciso uma sociedade onde seja possível criar riqueza.

De todos os partidos, aquele que mais claramente tem defendido todas estas questões é o CDS. Fá-lo no seu programa eleitoral e tem feito delas os temas centrais da sua campanha. Por isso, não apenas voto como apelo a que se vote no CDS. Não por um qualquer clubismo, mas por ser o partido onde reconheço de forma mais evidente a defesa das questões que a mim me parecem mais essenciais.

Evidentemente que com isto não quero dizer que o CDS seja perfeito ou a única opção. Mas não tenho dúvidas que é aquele que de forma mais clara defende a Dignidade Humana e a sua liberdade.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O voto (in)útil



Têm-se multiplicado nos últimos dias os apelos ao voto útil por parte do PSD. Eu compreendo que perante a incompetência do actual governo haja a tentação de votar nos sociais-democratas. Mas a verdade é que para o voto ser útil é preciso que se vote numa alternativa. E olhando para o actual PSD, não consigo perceber como pode pretender ser uma alternativa ao PS de Costa.

É evidente que o PSD tem activos bons, bastante superiores ao PS. Penso por exemplo em Joaquim Miranda Sarmento ou em Ricardo Baptista Leite. Mas infelizmente, já percebemos que neste PSD quem manda é Rui Rio, que exerce o seu poder da forma despótica e mesquinha que lhe é habitual. Para o líder laranja, o partido é ele e só ele. Por isso, para saber se o PSD é realmente alternativa ao PSD, é preciso avaliar se Rio é um alternativa a Costa, e a resposta parece-me bastante evidente.

Do ponto  de vista ideológico, pouco ou nada distingue Costa e Rio. E o primeiro a admiti-lo foi o próprio Rio, quando explicou que só não era do PS por causa de Sá Carneiro. Mas mais do que o socialismo, o que une ideologicamente Costa e Rio é a sua maleabilidade: Costa consegue passar de adversário a aliado do PC e BE num piscar de olhos, conforme lhe convém. Já Rui Rio, nuns dias quer aliar-se ao CDS, noutros vê com bons olhos acordos com o PS. Relativamente ao Chega, passa da abertura ao desprezo pelos seus eleitores conforme o dia. A verdadeira ideologia de Rio, tal como a de Costa, é o poder.

As únicas ideias que Rio parece disposto a defender com convicção são a agenda fracturante do Bloco de Esquerda. Para isso, está disposto a ignorar o seu eleitorado, os militantes e até o Congresso do seu partido.

Depois há o carácter de Rio, que mais uma vez em pouco ou nada difere de Costa. Tal como Costa passou anos a torpedar a direcção do seu partido. Com a diferença de que Costa o fez enquanto estavam na oposição e Rio o fez enquanto Passos Coelho tentava salvar o país. Também para Rio lhe é indiferente trabalhar com pessoas de reputação duvidosa. Aliás, conquistou o partido com o apoio dos grande caciques sociais democratas, com currículos tão variados como Malheiro ou Rodrigo Gonçalves. Tem uma relação ténue com a verdade, como ainda recentemente se viu na campanha interna do PSD onde, após prometer que não faria campanha, passou um mês a enviar SMS a todos os militantes. Apesar de todos os banhos de ética, já ficou claro que Rio é tão confiável como Costa.

Mas as semelhanças com Costa não acabam aqui: também Rio tem uma relação difícil com o escrutínio público. Acabou com os debates quinzenais, vive em guerra com a imprensa, purga a oposição interna, desobedece ao Congresso. A única diferença é que Costa disfarça melhor o desprezo pela democracia.

A verdade é que quer nas ideias, quer no carácter, pouco ou nada distingue Costa de Rio. O presidente do PSD só vai para a direita quando é obrigado, de resto é feliz a navegar no Bloco Central. Aliás, é preciso não esquecer que Rio foi a aposta daquele PSD dos interesses, dos favores e dos tachinhos que se viu apeado do poder com Passos Coelho e só sossegou quando lá conseguiu colocar Rui Rio.

Votar Costa ou votar Rio pouco muda, a não ser que de facto o PSD tem alguns deputados melhores que os do PS. Votar neste PSD é votar na continuação das mesmas políticas deste PS, mas com outras caras. A verdade é que um voto em Rio é um voto inútil.