Nos últimos vinte e quatro anos a Direita governou o país apenas
sete: após o pântano de Guterres e a catastrófica governação de José
Sócrates. A acreditar nas sondagens, a Direita prepara-se para ficar
mais uma vez longe do poder nas legislativas deste ano.
Olhando para este factos só poderia pensar-se que os socialistas têm
feito uma grande obra neste país para merecerem a confiança dos
eleitores. Infelizmente, a realidade demonstra que os anos de governo
socialista têm sido marcados por ineficiência, corrupção, deterioração
das infra-estruturas e dos serviços públicos, aumentos sucessivos da
carga fiscal, da dívida pública, etc.
Como se justifica então que o
Partido Socialista pareça destinado a dominar a política nacional? Se
não é pela capacidade dos socialistas, então só pode ser pela
incapacidade da Direita em atrair o eleitorado.
Se a
Direita quer voltar realmente ao poder (não apenas quando o PS empurra o
país para o abismo) tem que repensar a sua estratégia, perante um
eleitorado cada vez menos interessado em política e em partidos, para
quem os políticos e os partidos são todos iguais e que vota (quando o
faz) no partido que aparentemente «reverte» mais.
Para romper este
ciclo é preciso que a Direita se distinga claramente do PS e da
Esquerda. É preciso que apresente uma ideia clara para o país e para a
sociedade, que entusiasme as pessoas. Infelizmente, as máquinas
partidárias e os seus especialistas em comunicação insistem cada vez
mais em transformar a Direita na “governanta” do país, que não se mete
nem tem opinião sobre nenhum assunto estruturante, apenas apresenta
gestão rigorosa e boas contas.
Os partidos de Direita,
actualmente, têm tanto medo de ser confundidos com designações como
extremistas, retrógrados, populistas, ou com qualquer outra categoria
com que a Esquerda, aliás, gosta de caracterizar a Direita que não se
atrevem a defender em voz alta qualquer ideia que desafie a agenda
cultural da Esquerda. A Direita tem mais medo do desprezo dos
intelectuais de Esquerda do que do seu próprio eleitorado. Por isso,
enquanto a Esquerda participa orgulhosamente nas actividades cívicas dos
grupos LGBTI, pró-eutanásia, pró-aborto, etc., a Direita vai mantendo
uma relação mais ou menos envergonhada com os grupos cívicos que
defendem a dignidade da vida humana, a defesa da família ou a liberdade
de educação. Ainda em Novembro último, a Federação Portuguesa pela Vida
trouxe à rua cerca de dez mil pessoas em cinco cidades do país, (numa
altura em que nenhum dos partidos de direita, com toda a sua estrutura,
sonha colocar mil pessoas na rua) perante o silêncio quase total e a
falta de apoio dos partidos da direita.
Este é provavelmente o
maior drama da Direita: na sua ânsia de ganhar novos eleitorados, foi
diluindo os seus ideais até pouco se distinguir da Esquerda. O resultado
foi que não ganhou o eleitorado da Esquerda e está cada vez mais
distante do seu próprio eleitorado. Cada vez mais o povo de Direita vota
no PSD e no CDS sem qualquer entusiasmo, movido apenas pela necessidade
de tirar a Esquerda do poder. O pragmatismo eleitoral da Direita tem
tido um único resultado: o seu declínio.
Isto acontece porque as
questões que a Esquerda apelida de fracturantes (e das quais a Direita
foge) são de facto as questões estruturantes da sociedade. O principio
da dignidade objectiva da vida humana é o centro dos Direitos
fundamentais dos quais decorrem todos os outros. O direito à liberdade
(em todas as suas declinações), à propriedade privada (e portanto o
mercado livre, a recusa do saque fiscal, etc.), os direitos políticos e
sociais são tudo decorrências da dignidade humana.
Por isso,
querer defender a diminuição do peso do Estado na economia e na
sociedade, defender a liberdade económica, a liberdade das empresas, a
desburocratização do Estado, sem defender primeiro a dignidade da Vida
Humana em todas as circunstâncias é construir a casa pelo telhado.
Se
a Direita quer voltar a ser poder tem que voltar a reconquistar as suas
bases populares. Para o fazer tem que voltar às suas raízes, à defesa
clara do personalismo contra o estatismo socialista. As pessoas movem-se
por ideais, não por estratégias. E basta olhar para o exemplo de maior
sucesso político na Direita dos últimos tempos: Francisco Rodrigues dos
Santos, que com um discurso claro sobre os ideais da Direita, conseguiu
não apenas transformar a Juventude Popular na mais entusiasta e activa
juventude partidária, como ganhar uma tal influência na vida política
que será o número dois do CDS no Porto.
Insistir no caminho
actual, do pragmatismo, da agregação, da Direita suave e moderna, de
braço dado com a Esquerda em todas as questões culturais, tem como
resultado previsível continuar a lenta decadência da Direita até ser
tomado por um Trump ou uma Le Pen, que cavalgue o descontentamento
popular com as elites políticas (e não nos esqueçamos que André Ventura
está à espreita).
A alternativa, voltar ao personalismo, a defesa
da dignidade da Vida Humana, da defesa da família e da sua importância
para a sociedade, ou seja, voltar aos ideais que fundaram a Direita
democrática, já não é meramente um imperativo ético, é uma necessidade
estratégica. Não se trata de cegueira ideológica ou de uma tentativa de
muscular a Direita, mas do caminho que é necessário percorrer para
voltar ao poder.