Escrevo estas linhas a menos de um mês de nascer o meu terceiro
filho. É provável que quando as estiverem a ler já o meu filho Zé Maria esteja
em casa com os pais e os irmãos (Deus o queira!). A espera do nascimento de um
filho, ainda por cima tão próximo do tempo do Natal, não pode deixar de me
levar a meditar mais profundamente no tempo do Advento.
O Advento é o tempo da espera, da espera desse Menino que
nos foi dado, desse Menino que é Deus feito homem. Mas esta espera é também a
espera de alguém que já é, que já existe. Assim é como qualquer pai que espera o
nascimento do seu filho, assim foi também para a Virgem Maria e para São José.
Porque a escritura deixa-nos claro algo que a ciência só
conseguiu provar centenas de anos depois: que dentro do ventre de uma mãe está
uma pessoa. Se hoje com a biologia sabemos que desde o momento da concepção
estamos diante de uma nova vida, um Ser Humano que, embora totalmente
dependente da mãe, tem uma identidade biológica própria, pela fé a Igreja
ensina-o há dois mil anos.
Neste tempo de Advento viremos os olhos para Maria Santíssima.
O Anjo anuncia-lhe que vai ter um filho. Diz-lhe também que a sua prima Isabel
concebeu um filho e que já é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril. Maria
corre a visitar sua prima. Entra na casa, saúda Isabel e esta, alertada pelo
filho que cresce no seu seio, reconhece que está diante do Seu Senhor. Como é
isto possível? Jesus tem no máximo uma semana, pouco mais é do que um amontoado
de células. E contudo, aquele amontoado de células é Deus feito Homem. Deus
fez-se célula! E o primeiro a reconhecê-lo e a anunciá-lo, como voltará a
fazê-lo no Jordão trinta anos depois, é o seu primo João que ainda nem nasceu!
Todos os dias a Igreja relembra este mistério, nas
palavras do Angelus. Todos os dias
dizemos “O Anjo do Senhor anunciou a Maria e ela concebeu pelo Espírito Santo
(…) e o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
O Advento é tempo de mais uma vez relembrar que a nossa Fé
não é sentimental ou apenas espiritual, mas profundamente carnal: Deus
encarnou! Deus quis ser como nós!
Neste tempo de Advento meditemos em Maria, que acreditou
desde o primeiro instante. Meditemos naquela jovem, mais jovem que muitos de
nós, que durante nove meses viveu esta intimidade com Deus, de O trazer no seu
ventre.
A Fé da Igreja ao fazer memória (ou seja ao tornar
presente hoje) deste Deus escondido no seio de uma Virgem, ao fazer memória
desta espera do Seu nascimento, proclama a santidade da vida por nascer.
No Advento esperamos Jesus que vai nascer mas que já
existe. Por isso ainda hoje em Nazaré, no local da Anunciação, estão as
palavras: Aqui o Verbo se fez carne! Deus fez-se carne com o Sim de Maria. Ali
começa a sua maternidade.
Neste Advento pensemos em Maria, imagem perfeita de todas
as mães. Pensemos como amou aquele filho desde o primeiro momento em que teve
consciência da sua existência. Pensemos em João Baptista, que exulta de alegria
ao reconhecer naquele monte de células a encarnação Divina. Pensemos em Isabel
que proclama diante da jovem prima “Bendita és tu entre todas as mulheres, como
me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?”. E como Maria, João
Baptista e Isabel esperemos também nós o nascimento deste Menino. E à imagem
desse Menino, que já dentro do ventre materno era Deus, olhemos assim para
todas as crianças que já existem, mas ainda não nasceram.