Todos as mensagens anteriores a 7 de Janeiro de 2015 foram originalmente publicadas em www.samuraisdecristo.blogspot.com

segunda-feira, 22 de abril de 2024

CDS: Um pouco de humildade ficava bem

 



Aconteceu este fim-de-semana o congresso do CDS. Eu, por motivos familiares, não consegui ir. Mas fui acompanhando os acontecimentos. E confesso alguma preocupação com a soberba (que alias, preocupação que tenho desde 10 de março).

A verdade é que o CDS entre 2015 e 2019 perdeu 13 deputados. Também devemos lembrar que nesse mesmo ano, não conseguiu recuperar o seu segundo eurodeputado, tendo como cabeça de lista o actual presidente.

Entre 2019 e 2022 o CDS viveu uma guerra civil, onde muitos dos actuais dirigentes tiveram participação activa. Alguns dos que hoje apoiam entusiasticamente o CDS chegaram a apelar ao voto noutros partidos em 2022.  Isto num partido falido. O resultado, com muita responsabilidade da direcção então no poder, mas também daqueles que lutaram até ao fim para garantir o seu falhanço, foi que não conseguimos eleger qualquer deputado.

Em 2024 o resultado das eleições deixou claro que o CDS não cresceu eleitoralmente (as sondagens já o indicavam) e que a eleição de dois deputados se deveu a coligação com o PSD. Coligação que Francisco Rodrigues dos Santos tentou em 2022 e que foi abertamente criticada por muitos dos que hoje apoiam a actual direcção e pelo próprio Nuno Melo.

Por isso, fingir que o que aconteceu nos últimos anos do CDS foi um desastre de uma única direcção e que está ultrapassado devido ao génio do actual presidente, não só é mentira, como é uma estratégia perigosa. Francisco Rodrigues dos Santos não foi o causador dos problemas do CDS, mas também não os conseguiu inverter. E Nuno Melo, também não, teve foi mais sorte e um partido mais pacificado.

O CDS tem agora, com o regresso ao parlamento e a presença no Governo uma segunda hipótese, que não fez por merecer, de renascer. Convém aproveitá-la com humildade. Temos dois bons deputados, o que me alegra. Mas é preciso fazer realmente prova de vida e não embandeirar em arco. Sobretudo, é preciso que o CDS deixe de ser uma coutada pessoal, dos de sempre, que se abra realmente e sobretudo, que volte a ocupar o seu lugar como o partido da Direita Social, com propostas e medidas concretas de apoio às famílias, no reforço da sociedade civil, no apoio aos mais frágeis, na defesa da liberdade, sobretudo na liberdade de educação.

A soberba é sempre um pecado, mas a soberba sem ter razões para isso é também um dos piores erros que se pode fazer em política.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Parem de importar guerras culturais!

 


Em 1997 o Partido Comunista propôs o aborto livre até às 12 semanas e foi chumbado. Ainda nesse ano, o Partido Socialista, pela mão do então presidente da JS, Sérgio Sousa Pinto, propôs a legalização do aborto até às 10 semanas. Para evitar a sua aprovação o então Primeiro-Ministro e Secretário-Geral do PS, António Guterres, acordou com o presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro referendo da democracia. O referendo haveria de se realizar em Julho de 1998 e o resultado foi a vitória do “Não”.

Nos anos seguintes houve várias tentativas de legalizar o aborto livre, até quem em 2006, com o regresso do PS ao poder, foi convocado novo referendo, que se realizou em Fevereiro de 2007 e onde o “Sim” ganhou.

Desde então, foi legalizada a procriação artificial, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, foi proposta e chumbada a co-adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada a adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada, chumbada pelo Tribunal Constitucional e novamente aprovada as barrigas de aluguer, foi aprovada a Lei da Identidade de Género, foi votada seis vezes a legalização da eutanásia (chumbada no Parlamento, chumbada pelo Tribunal Constitucional, vetada pelo Presidente da República, chumbada pelo Tribunal Constitucional, vetada pelo Presidente da República e finalmente aprovada e promulgada), foi proposto o aumento dos prazos do aborto.. Nestes anos foi introduzida a educação sexual obrigatória nas escolas, criada a disciplina de Educação para a Cidadania posteriormente tornada obrigatória, foram criados os Referenciais para a disciplina, que incluem a defesa do aborto e da ideologia de género.

Ou seja, nos último 17 anos quase todos os anos foram propostas leis ditas fraturantes, quase sempre pelos mesmo deputados e defendidas pelos mesmos protagonistas. Não houve legislatura (e quase não houve ano) em que estes temas não tenham sido colocados na agenda política por essas pessoas.

Por isso é especialmente irritante ouvir comentadores, em geral idiotas úteis de direita, a explicar que são os “conservadores” que estão a importar “guerras culturais”. Eu passei boa parte da minha adolescência e vida adulta a lutar sobre estes temas e, como dizem os miúdos, nunca fui eu que comecei. Eu não tenho qualquer interesse nesta agenda, foi a esquerda progressista (agora adoptada pela IL) que decidiu importar estas causas para Portugal, nós limitamo-nos a opor-nos.

Por isso, se os senhores comentadores acham que estes temas não têm interesse, se consideram que desvia o foco dos assuntos fundamentais (e eu concordo) têm uma boa solução, a próxima vez que encontrarem a Isabel Moreira no Lux, ou se cruzarem com a Teresa Violante num estúdio, peçam-lhes que parem de importar guerras culturais. Nós agradecemos. Assim podemos começar a tratar dos assuntos realmente importantes como a pobreza, a saúde a educação e tudo aquilo que o PS prefere não tratar para se dedicar antes à causa woke.

E já agora aproveito para falar do progresso de que falam tanto, para defender a morte de crianças como direito fundamental. Eu percebo o glamour de estar a par das modas do estrangeiro, porque se no Eça a cultura vinha de Paris em caixotes, hoje vem dos Estados Unidos (mas continua a ficar-nos curta nas mangas). Mas eu tenho um enorme problema com este progresso: cheira a mofo! Este progresso tem o cheiro dos fornos onde os cartagineses sacrificavam bebés aos deuses, lembra o extermínio dos fracos e incapazes de Esparta, um déjà vu aos eunucos da Pérsia antiga. Este progresso tem o cheiro putrefacto de um cadáver com milhares de anos, vestido com roupas modernas para ser admirado por aqueles que desejam tanto parecer modernos que não percebem que retrocederam dois mil anos. Pessoalmente, eu prefiro continuar com o humanismo cristão, aquele que garante a infinita dignidade de cada ser humano. Pode não ser progressista, mas tem a enorme vantagem de ser verdade.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Debater o aborto: quanto vale o embrião?



Nos últimos tempos voltou ao debate público a questão do aborto. É possível notar uma mudança profunda neste debate. Se em 2007 o centro do debate era o valor da vida intra-uterina, neste momento esse assunto é completamente ignorado, sendo o aborto apresentado como se fosse uma mera questão de saúde feminina. Isso nota-se aliás na linguagem, quando se fala em direitos sexuais e reprodutivos.


Ora, se é verdade que os direitos da mãe são uma parte importante na questão do aborto, a questão realmente de fundo é saber qual o valor da vida por nascer. Porque se a vida que está no ventre da mulher não tem valor, então a discussão do aborto é apenas absurda. O aborto seria um acto médico qualquer e não fazia qualquer sentido ter sequer legislação especial. Mas se a vida intra-uterina tem valor, então a discussão só pode ser a partir de que momento é que ganha esse valor: porque é que as 9 semanas pode ser eliminado e às 11 não? Qual o critério para decidir o momento em que o embrião passa a mercer protecção jurídica?

A biologia é muito simples: a partir do momento da fecundação há um ser vivo, com ADN próprio, que pertence ao género humano. Ou seja, a partir da fecundação há um novo Ser Humano. Isto é que o a ciência afirma. Aqueles que se opõem ao aborto afirmam que este facto, o simples facto de ser humano, é suficiente para que à aquela nova vida seja reconhecida toda a sua dignidade e deve por isso merecer toda a protecção legal.

Quem pelo contrário afirma até um certo prazo da gravidez o aborto deve ser legal afirma que para lhe ser reconhecido a dignidade não basta existir, tem que ter mais alguma característica. O seja, nega que o ser humano por si mesmo mereça protecção legal, mas que essa protecção depende do reconhecimento social do seu valor. Por ser um amontoado de células, por o coração não bater, por não ter sistema nervoso central, não é verdadeiramente humano como nós.

Podemos dar as voltas que quisermos, adocicar o debate, usar eufemismos e siglas, mas a verdade é simples: defender que o aborto é legal é defender que a dignidade do ser humano não é inata mas sim definida pelo poder. Está longe de ser a primeira vez na história que isto acontece e os resultados desta lógica são tragicamente conhecidos.

Eu percebo que há desafios gigantes ligado à gravidez. Desafios que afectam as mulheres. Mas esses desafios têm que ser enfrentados à luz do facto de que no útero de uma mulher grávida está uma vida humana. Ignorar este facto, desumanizar o embrião ou o feto, pode ajudar a sossegar a consciência, mas não resolve nenhuma injustiça. Pelo contrário agrava-a.

Para o mundo contemporâneo é mais fácil ignorar a questão da vida por nascer. É mais fácil dizer que a mulher tem na barriga uma coisa, que depois, num passo de magia, se transforma num bebé. Porque reconhecer que ali está um bebé significa enfrentar o horror dos milhões de vidas ceifadas anualmente pelo aborto. Reconhecer a dignidade infinita da vida por nascer significa dar-se conta da monstruosidade que a cultura do aborto introduziu no nosso tempo. E por isso é mais fácil esquecer o bebé, e reduzir o aborto a uma mera questão da intimidade da mulher.

Respeito o drama das mulheres que não desejam ter os seus filhos, das mulheres que procuram aborto ilegal, das mulheres que estão em situações de dificuldade e estão grávidas. E defendo uma sociedade que apoia e acolha essas mulheres, assim como todas as mulheres grávidas. Mas a solução para um drama, a solução para uma injustiça, não passa por ignorar que o aborto elimina uma vida. O drama do aborto é, antes de mais, o drama de uma vida que existe e que merece ser defendida. 

terça-feira, 9 de abril de 2024

Henrique, o gajo de Alfama


 

De há uns anos a esta parte que Henrique Raposo chamou a si a tarefa de ser um verdadeiro intérprete da tradição da Igreja, o garante da pureza evangélica e o guardião da fé. Por isso de vez em vez brinda-nos com um artigo onde denuncia uns quaisquer hereges que, ao contrário de si, sempre cheio de caridade, são responsáveis por uma quantidade de malefícios para o mundo e para a Igreja.

O problema é que se é verdade que Henrique Raposo escreve com toda a arrogância de um Doutor, os seus argumentos em geral estão ao nível do gajo de Alfama. Henrique Raposo tem certezas sobre todos os assuntos, sobretudo aqueles sobre os quais nunca estudou ou trabalhou. E exibe a sua ignorância nos jornais com a mesma arrogância de um bêbado na tasca do bairro.

Entre as pérolas com que já nos brindou, está um artigo onde explicava que um aborto em caso de violência era uma questão de legítima defesa (demonstrando que nem se deu ao trabalho de ler a definição de legítima defesa do Código Penal), um artigo onde se propunha a corrigir Santo Agostinho e repetidas proclamações de que um nacionalista não pode ser católico, deixando assim claro que nunca pousou os olhos na obras do Padre António Vieira ou na poesia de Peguy.

Raposo é em tudo igual ao gajo de Alfama: não estuda, não lê, mas tem opiniões sobre tudo, convencido da sua genialidade, incompreendido pelo mundo, mas tudo julgando com rigor a partir do seu pequeno mundo. Só lhe falta o lugar na mesa da tasca e a tacinha de tinto.

Nestes dias o gajo de Alfama alçado a cronista decidiu escrever um artigo onde, a propósito do livro Família e Identidade, insulta todos os que defendem a Vida e a Família. Não tenciono responder ao artigo, é um conjunto de insultos, com afirmações categóricas sem qualquer referência, e conclusões ideológicas, quando por exemplo explica que ao não falar do motherhood gap os autores do livro contribuíram para o crescimento da direita populista e machista (aparentemente ele explicar a Manuela Eanes ou a Isabel Galriça Neto sobre com o que as mulheres se devem preocupar não é machismo). Mas fico impressionado que um homem adulto não perceba a figura ridícula que faz quando insulta um conjunto de personalidades com obra académica, profissional, social e política extraordinária sem pelo menos se dar ao trabalho de estudar os temas ou ler o que eles escrevem. Não terá Henrique Raposo sentido do ridículo? Não percebe o quão absurdo é um homem cuja única obra conhecida é escrever artigos medíocres, explicar a Manuela Eanes que ela não se preocupa com a vida das crianças em concreto? Ou a Dom Manuel Clemente a doutrina da Igreja? Ou em acusar Guilherme de Oliveira Martins de contribuir para o crescimento da direita populista?

Os autores do livro não precisam de defesa, a sua obra fala por si. Mas Henrique Raposo precisa de um amigo daqueles que, vendo o gajo de Alfama completamente bêbado a fazer figura ridículas na tasca, o leva discretamente para casa.

P.S.: O gajo de Alfama não é uma referência aos moradores do bairro lisboeta, mas à famosa personagem do Ricardo Araújo Pereira. 

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