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terça-feira, 2 de junho de 2020

Os Conservadores, o movimento LGBT e o duplopensar.



Tenho visto por aí algumas pessoas de direita muito contentes por o partido Conservador inglês ter decidido juntar-se aos festejos do mês do orgulho homossexual. Este contentamento vem acompanhado de muitos conselhos para que a direita portuguesa, sobretudo o CDS, lhe siga o exemplo.

Segundo estes arautos da nova direita, esta seria uma posição que respeita a liberdade pessoal e a igualdade. Há, contudo, um pequeno problema. É que esta posição, aparentemente liberal e humanista, ignora uma primeira premissa.

Para que a agenda LGBT seja de facto uma questão de liberdade pessoal e dignidade, primeiro há que reduzir a pessoa à sua sexualidade. É preciso que a intimidade de cada um seja identificativo de quem ela é. Já não se trata de A ou B, com a sua história pessoal, com a sua vivência própria da sua intimidade, passa a ser parte de uma entidade abstrata que são os homossexuais. É a aplicação da tese clássica do marxismo, da guerra de classes, a todo uma nova panóplia de grupos e sub-grupos.

Isso é claríssimo naquilo que foram as duas grandes conquistas do movimento LGBT na última década: o casamento e a adopção por pessoas do mesmo sexo. O que estava realmente em discussão nestes casos não era a sexualidade de cada um. Porque para o Estado a vida íntima de cada um não releva. O Estado não legisla afectos, não legisla a olhar pelo buraco de fechadura. O ponto era saber se o Estado devia regular a relação entre duas pessoas do mesmo sexo, no caso do casamento, e se duas pessoas do mesmo sexo poderiam adoptar uma criança.

Não estava em causa a igualdade ou a liberdade pessoal. Pelo contrário, estava em causa impor a visão de uma sociedade onde a sexualidade é um factor de diferenciação. Trata-se de impor, através do Estado, uma visão da sociedade onde a pessoa é definida pela sua sexualidade. Vejamos o exemplo da adopção: antes dois homens nunca podiam adoptar. Agora dois homossexuais podem adoptar, mas dois irmãos não podem. Antes a diferença era ser preciso pai e mãe para a criança, agora a diferença é a relação que tem com o outro adoptante.

Por isso nunca percebi aqueles que tanto se opõem ao Estado, sobretudo os Liberais, e depois defendem que o Estado possa interferir e regular a vida íntima dos cidadãos.

Mas mais grave do que isso é perceber o que significa este apoio à causa LGBT hoje. Hoje quando a questão do casamento e da adopção está encerrada. Hoje quando já existe legislação abundante contra qualquer forma de discriminação. Qual é agenda que este movimento defende hoje? A educação! Dos adultos e das crianças.

Para o movimento LGBT não é suficiente que o Estado tenha adotado a sua visão da organização social, é preciso que todos concordem com essa visão. Não basta que exista o casamento entre pessoas do mesmo, é preciso que ninguém se atreva a discordar dele. A lei não é suficiente, querem também a hegemonia cultural. E isso faz-se através da repressão do adultos e da doutrinação das crianças.

A repressão dos adultos usa como instrumento os crimes de ódio. Ou seja, censura e criminaliza opiniões. E não falo de insultos e de bullying. Falo de opiniões como esta que escrevo. Ou de outras opiniões com as quais não concordo, mas que não me passaria pela cabeça censurar.

Mas mais grave é querer impor essa visão da sociedade às crianças. É retirar aos pais a liberdade de educar os seus filhos. Não se trata simplesmente de ensinar a aceitar e a respeitar a diferença, trata-se de incutir nas crianças uma visão social, cultural, moral, independentemente da vontade dos pais. Para o movimento LGBT eu não tenho o direito de ensinar ao meu filho a visão cristã da sexualidade. Ou seja, não posso ensinar que a sexualidade é para ser vivida dentro do matrimónio entre homem e mulher.

Aquilo que o partido Conservador hoje apoia, assim como os seus seguidores em Portugal, é que o Estado tenha o direito (e mesmo o dever) de impor a visão dos movimentos LGBT sobre a sexualidade a todas as crianças.

É sempre grave ver que há quem defenda que o Estado tem o dever de impor uma visão ideológica à sociedade. Que deva operar engenharia social através da lei e da educação. Mas pior é que haja quem o defenda em nome da liberdade. Orwell estaria orgulhoso.

 


4 comentários:

  1. Excelente análise! Além do mais, essa violência impositiva da proibição de discordar, da anulação da liberdade de opções educativas para os pais é ANTICONSTITUCIONAL. isto é mais grave do que ' inconstitucional'

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  2. Excelente como sempre! Obrigada por escrever tão bem aquilo que eu penso

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  3. Só me surpreende que alguém ainda se espante com estas coisas. Não se trata de igualdade, de discriminação ou de direitos. Trata-se de impor uma agenda à sociedade. Os conservadores foram cúmplices por omissão nesta batalha ideológica. Agora já é demasiado tarde para estas argumentações. O poder já passou para "o outro lado", o qual não está interessado em discussões.

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