Ao ler as descrições do derrube de estatuas, censura de filmes e demissões de jornalistas por causa do movimento Black Lives Matter, não consigo deixar de pensar na Revolução Francesa. Também nessa altura para começar uma nova civilização, livre do obscurantismo católico e da tirania dos reis se queimaram bibliotecas, destrui-se o panteão real, lançado as velhas ossadas reais para valas comuns, vandalizaram-se Igrejas e monumentos. Na ânsia de um novo mundo mudou-se o nome dos meses e os anos passaram a ser contados desde da revolução.
Eevidentemente que para alcançar este mundo novo era preciso combater todos os que ainda viviam agarrados ao antigo. Perseguiram-se padres, nobres ou simples inimigos da revolução. A Vendeia foi arrasada a ferro e fogo. O rei foi morto.
E contudo, a revolução acabou no Império, que acabou na restauração. Luís XVIII foi rei no lugar que antes fora de seu irmão. Pelo meio tinham ficado milhões de mortos e uma França que nunca mais voltaria a ser a grande potência europeia.
A revolução foi paga, idealizada, dirigida não pela populaça oprimida, mas por nobres, clérigos e intelectuais. Foram eles que soltaram o monstro, para já não o conseguirem apanhar. Muitos deles acabariam mortos e exilados.
O mais importante apoiante e patrocinador da revolução foi o Duque de Orleães, primo do rei. Sonhava ser rei. Aderiu entusiasticamente à revolução, em todos os seus caprichos. Votou a morte do rei, mudou o nome para Filipe Egalite, certo de que o povo revolucionário haveria de reconhecer que ele não era como os seus primos.
Nenhuma das humilhações a que se submeteu lhe valeram. Acabou também ele guilhotinado.
Não consigo deixar de pensar no Duque de Orleães quando vejo tantos poderosos dispostos a patrocinar e aderir ao movimento revisionista que procura retratar a história europeia como uma longa opressão. Penso em todos aquele que justificam e até incentivam actos bárbaros de destruição da nossa cultura. Em todos os que aderem à nova censura em nome de uma suposta pureza histórica. Pergunto-me quantos deles terão o mesmo fim de Filipe Egalite: serem devorados pela revolução que criaram.
Parece-me que finalmente está a entender o que se está a passar.
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