Calhou-me
em sorte só ter (até agora) filhos rapazes. Nascidos neste tempo tão
esclarecido, infelizmente teimam em não perceber que o género é uma mera
construção social, e insistem em praticar os mais arcaicos estereótipos de
género. Aliás, já por mais de uma vez apanhei o mais velho a recusar ver certos
programas televisivos por, segundo esta criança preconceituosa, serem para “meninas!”.
O
facto dos meus filhos insistirem em ser rapazes, com todos os estereótipos
associados, traz os seus desafios. Bem aventurado o inventor da box das
televisões e do youtube que me permite resolver com facilidade o preconceito
dos miúdos contra os tais desenhos de “meninas”. A escolha não abunda, mas
entre Patrulha Pata e Dartacão a coisa vai-se resolvendo.
Quanto
a histórias, não são muitos estranhos. Gostam dos clássicos sem dúvida, embora
prefiram quando eu invento histórias de cavaleiros onde eles participam. Por
outro lado, também nas histórias demonstram não ter absorvido bem os
ensinamentos do seu tempo: insistem em caçar o lobo e na morte do dragão, numa
gritante manifestação de espécismo. Aparentemente as campanhas do PAN, o
episódio da Patrulha Pata onde o dragão é bom e só ataca pessoas porque está
magoado assim como o episódio do Super Wings onde um pobre tubarão persegue os
heróis só porque tem uma lata nos dentes, não foram suficiente para as crianças
perceberem a importância de tratar com igualdade todas as espécies. Pode ser que um
dia prefiram perseguir o caçador, mas por enquanto mantêm-se obstinados com
noções arcaicas do herói contra o animal feroz.
O
mais complicado desde machismo dos meus filhos são mesmo os brinquedos.
Felizmente eles são bastante dados à imaginação. Passam a vida a inventar brincadeiras,
com cavaleiros, vilões, dragões, etc. Nestas brincadeiras, cruzam-se heróis da
Marvel, cães da Patrulha Pata, cavaleiros, personagens da Disney, vilões, pistolas,
espadas e lanças. A mãe é quase sempre a princesa e a missão passa normalmente
por salvá-la de uma qualquer ameaça (eu por norma sou um aliado, embora aqui e ali já tenho servido de lobo mau).
O
problema é que se a imaginação abunda, cada vez é mais difícil encontrar
brinquedos para estas brincadeiras. Espadas, escudos, pistolas, castelos: pouco
ou nada. Em qualquer supermercado ou loja de brinquedo é possível encontrar com
facilidade cozinhas, vestidos de princesa, bonecas, e uma profusão de
personagens de desenhos animados. Encontra brinquedos para rapazes (se é que
hoje em dia se pode dizer isto) é cada vez mais complicado.
Bem
sei que hoje é suposto nós ensinarmos às crianças que não há brinquedos para
rapazes, o problema é que, por muito que a sociedade insista, as crianças
parecem resistir à modernidade. Apesar dos desenhos animados onde todos são
bons, apesar dos brinquedos cada vez mais unisexo, apesar das histórias cada
vez mais apatetadas, os meus filhos gostam mesmo é de brincar aos cavaleiros,
derrotar os maus e salvar a princesa.
Como
todos sabemos as teorias são muito bonitas, mas os filhos são o que são. E no
caso dos meus parecem ser impermeáveis ao João Costa, às senhoras das Capazes
ou aos grande educadores da ILGA. Não posso por isso deixar de perguntar a quem
vende brinquedos, se não querem reconsiderar esta política de brinquedos cada
vez mais gender neutral. É que ceder a lobbys tem muita graça, mas no fim quem
pede os brinquedos são as crianças!
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