segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Boys will be boys!




Calhou-me em sorte só ter (até agora) filhos rapazes. Nascidos neste tempo tão esclarecido, infelizmente teimam em não perceber que o género é uma mera construção social, e insistem em praticar os mais arcaicos estereótipos de género. Aliás, já por mais de uma vez apanhei o mais velho a recusar ver certos programas televisivos por, segundo esta criança preconceituosa, serem para “meninas!”.

O facto dos meus filhos insistirem em ser rapazes, com todos os estereótipos associados, traz os seus desafios. Bem aventurado o inventor da box das televisões e do youtube que me permite resolver com facilidade o preconceito dos miúdos contra os tais desenhos de “meninas”. A escolha não abunda, mas entre Patrulha Pata e Dartacão a coisa vai-se resolvendo.

Quanto a histórias, não são muitos estranhos. Gostam dos clássicos sem dúvida, embora prefiram quando eu invento histórias de cavaleiros onde eles participam. Por outro lado, também nas histórias demonstram não ter absorvido bem os ensinamentos do seu tempo: insistem em caçar o lobo e na morte do dragão, numa gritante manifestação de espécismo. Aparentemente as campanhas do PAN, o episódio da Patrulha Pata onde o dragão é bom e só ataca pessoas porque está magoado assim como o episódio do Super Wings onde um pobre tubarão persegue os heróis só porque tem uma lata nos dentes, não foram suficiente para as crianças perceberem a importância de tratar com igualdade todas as espécies. Pode ser que um dia prefiram perseguir o caçador, mas por enquanto mantêm-se obstinados com noções arcaicas do herói contra o animal feroz.

O mais complicado desde machismo dos meus filhos são mesmo os brinquedos. Felizmente eles são bastante dados à imaginação. Passam a vida a inventar brincadeiras, com cavaleiros, vilões, dragões, etc. Nestas brincadeiras, cruzam-se heróis da Marvel, cães da Patrulha Pata, cavaleiros, personagens da Disney, vilões, pistolas, espadas e lanças. A mãe é quase sempre a princesa e a missão passa normalmente por salvá-la de uma qualquer ameaça (eu por norma sou um aliado, embora aqui e ali já tenho servido de lobo mau).

O problema é que se a imaginação abunda, cada vez é mais difícil encontrar brinquedos para estas brincadeiras. Espadas, escudos, pistolas, castelos: pouco ou nada. Em qualquer supermercado ou loja de brinquedo é possível encontrar com facilidade cozinhas, vestidos de princesa, bonecas, e uma profusão de personagens de desenhos animados. Encontra brinquedos para rapazes (se é que hoje em dia se pode dizer isto) é cada vez mais complicado.

Bem sei que hoje é suposto nós ensinarmos às crianças que não há brinquedos para rapazes, o problema é que, por muito que a sociedade insista, as crianças parecem resistir à modernidade. Apesar dos desenhos animados onde todos são bons, apesar dos brinquedos cada vez mais unisexo, apesar das histórias cada vez mais apatetadas, os meus filhos gostam mesmo é de brincar aos cavaleiros, derrotar os maus e salvar a princesa.

Como todos sabemos as teorias são muito bonitas, mas os filhos são o que são. E no caso dos meus parecem ser impermeáveis ao João Costa, às senhoras das Capazes ou aos grande educadores da ILGA. Não posso por isso deixar de perguntar a quem vende brinquedos, se não querem reconsiderar esta política de brinquedos cada vez mais gender neutral. É que ceder a lobbys tem muita graça, mas no fim quem pede os brinquedos são as crianças!

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