Ontem um homem sírio atacou crianças com uma faca num parque infantil em França. Um acto tão cobarde e monstruoso como este não pode deixar de revoltar qualquer um. Atacar crianças é a maior perfídia que consigo imaginar.
Este ataque voltou a levantar a questão da migração em massa
de África e do Próximo Oriente para a Europa. Em Portugal o Chega já fez
questão de alertar para o perigo que todas as crianças correm em todos os
parques infantis por causa da imigração em massa.
Eu também concordo que a política de imigração da União
Europeia é má. Má não apenas para os países europeus, mas também injusta para
os imigrantes, que acabam na maioria das vezes abandonados e explorados nos países
que os recebem. E também acho que há uma falta de clareza na diferença entre migrantes
e refugiados. Pior, a União Europeia aposta numa falsa política de portas
abertas, que ajuda a alimentar redes de tráfico e máfias, sem ter capacidade de
dar respostas às pobres almas que procuram refúgio na Europa. E o resultado
está à vista no cemitério em que se transformou o Mediterrâneo e no inferno em
que Lesbos se tornou.
Por isso, se a política da extrema-esquerda, das falsas
portas abertas, que só conduzem à miséria e à revolta dos migrantes, é uma
ilusão, a resposta da extrema-direita, de tornar a Europa numa fortaleza
fechada, também não me satisfaz. Porque em nome de uma falsa segurança das
crianças europeias, estão dispostos a deixar morrer crianças não europeias no
fundo do mar, ou às mãos de senhores da guerra, ou exploradas por uma qualquer
máfia. A preocupação da extrema-direita não é com as crianças, nem com as
mulheres, nem com os homens. A preocupação da extrema-direita é apenas com as
pessoas da cor certa.
E pelo crime de um, querem fazer pagar milhões. Porque não
exigem de facto uma resposta ao drama que hoje se vive nas rotas do Mediterrâneo,
um negócio alimentado por máfias e senhores da guerra, à custa de milhões de
inocente. Não pedem um combate eficaz ao tráfico humano, políticas de apoio ao
desenvolvimento dos países de origem, campos de refugiados em condições, políticas
eficazes de emigração. Só querem culpar um inimigo externo, demonizá-lo, e unir
as massas à sua volta. Ou seja, querem força eleitoral, à custa de uma multidão
de pobres e explorados.
Recuso que o preço da minha segurança seja a morte de milhares
de crianças, só porque nasceram no continente errado. Sim, a Europa tem que
encontra respostas a esta crise, mas não à custa de inocentes cujo único crime
foi nascer no país errado.
Parte da extrema-direita vocifera contra os migrantes e refugiados
em nome dos valores cristãos. Ignorando que se o primeiro mandamento é amar a
Deus sobre todas as coisas, o segundo é em tudo igual a este: amar o próximo
como a ti mesmo.
Uma Europa fechada sobre si mesmo, afogando-se na riqueza criada
pela exploração do resto do mundo, uma Europa que ignora o grito de desespero vindo
de África e do Próximo Oriente, será muitas coisas. Será herdeira de Roma e de
Atenas. Será herdeira do Alemanha pura e da União das Repúblicas Soviéticas.
Aquilo que não é seguramente, é cristã.
Dou graças a Deus por nascido na segurança e na abundância
da Europa. E ainda mais agradecido por ter nascido numa sociedade herdeira do
cristianismo. Sei bem que isso comporta riscos, mesmo assim incomparáveis a
atravessar o Mediterrâneo num bote de plástico. E não estou disposto a abdicar
desta herança por uma falsa sensação de segurança.
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