O isolamento social para os pais
significa, gostemos ou não, que as crianças vêm mais televisão. Eu bem sei que
nós devíamos ser capazes de as entreter todo o dia com actividades lúdicas e
pedagógicas que as desenvolvam. Mas entre as belas teorias educativas e a bruta
realidade há uma enorme distância. Três crianças abaixo dos quatro anos em casa,
pais a trabalhar, todo um dia para ocupar, inevitavelmente haverá mais
televisão. E não tenciono perder a pouca sanidade mental que me resta a atormentar-me
porque os meus filhos vêm mais televisão do que o último livro pedagógico da
moda recomenda.
Uma das experiências mais interessantes
da relação das crianças com a televisão, é que por muitos filmes e séries que
tenham à disposição, eles querem sempre ver a mesma série e o mesmo filme.
Todos os dias, várias vezes se preciso, os mesmo episódios se não houver nenhum
novo!
Tenho a sorte dos meus filhos terem
fixado a sua atenção nos Incríveis. Para quem desconhece, este filme é
sobre uma família de super-heróis que tiveram que passar ao anonimato por ordem
do governo. O pai, o Senhor Incrível, vive frustrado e nostálgico dos seus
tempos de super-herói. Até ao dia em que recebe uma proposta para ajudar um
misterioso milionário que precisa dos seus serviços. Sem dizer nada à mulher, o
Senhor Incrível começa uma carreira secreta de super-herói. Acaba preso e a ser
salvo pela família. Todos juntos derrotam o grande vilão.
O filme é divertido e bem feito, mas
para além disso há duas coisas no filme que valem muito a pena. A primeira é a questão
dos poderes. Parte do filme gira à volta do debate entre o Senhor Incrível e a
Mulher Elástica (sua mulher) sobre o uso dos poderes. O pai acha que os filhos
devem desenvolver os seus poderes. Que fazem parte do que eles são. A Mulher
Elástica defende que eles têm que ser normais, iguais a todos os outros. Num
tempo em que as as crianças são formatadas para serem todas iguais, é bom ver
um filme que defende a unicidade de cada criança e de como é bom que sejam
ajudadas a desenvolver os seus talentos.
A outra coisa que eu gosto neste filme
é como é necessária a família para derrotar o vilão. E como é necessário o
poder de cada um deles: a força do pai, a elasticidade da mãe que chega a todo
o lado, os campos de força da irmã mais velha com que defende o irmão, e a supervelocidade
de Flecha o filho pré-adolescente. O único que não luta é o bebé Zé Zé, cujo os
poderes só se conhecem no fim do filme: um bebé que muda de um diabo enfurecido,
para ser de puro chumbo, até simplesmente desaparecer. Embora a maior parte das
famílias não tenham superpoderes facilmente reconhecerão não apenas esta
qualidades, mas também esta complementaridade que faz uma família funcionar!
Nem só de grandes livros e grandes filme
se faz o isolamento social. Também se faz de desenhos animados. E se é para ver
o mesmo todos os dias, os Incríveis são uma boa escolha.
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