Tem sido notícia na última semana um surto de hepatite A no nosso país. Sobre isso vale a pena ver alguns factos:
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Até agora existem 126 pessoas afectadas: 119 homens e 7 mulheres.
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A maior parte das pessoas afectadas são de Lisboa.
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A doença transmite-se pelo contacto oral com matéria fecal, sendo um meio comum
de transmissão certas práticas sexuais.
Ora,
olhando para estes factos é bastante evidente que este surto tem afectado
sobretudo os homens homossexuais. Esta observação não tem qualquer juízo de
valor ou de moral sobre as suas relações, trata-se apenas de observar os factos.
Infelizmente,
vivemos num tempo em que a ideologia é mais forte que a realidade. Por isso mal
alguém insinuou que os homens homossexuais são um grupo de risco no que toca à
hepatite A, saltaram logo os activistas a condenar estas afirmações, dizendo
que não havia grupos de risco, mas apenas comportamentos de risco.
A
Direcção Geral de Saúde, que ainda tentou esboçar uma opinião realista sobre o
assunto, rapidamente tratou de emendar a mão e começar a tratar este assunto
como se de facto desconhecesse que este surto tem afectado esmagadoramente
homens homossexuais.
Isto seria cómico se não fossem as
consequências. Ao recusar
reconhecer que existe de facto um grupo de risco por mera questão ideológica, a
DGS, assim como os media, e os
activistas homossexuais colocam em risco os homossexuais.
Diante
de uma doença que afecta uma parte especifica da população será razoável uma
campanha junto dessa parte da população sobre os cuidados a ter para evitar o
contágio. Em vez disso escolhem tratar este surto como se não fosse conhecido a
sua origem ou as suas causas.
O
absurdo chegou ao ponto em que a DGS vai disponibilizar meios de prevenção da
hepatite A nas consultas de viajante, sobretudo para os viajantes que se
deslocam a África, África Subsariana, Ásia e América Central e do Sul. Isto
quando já se identificou a Holanda como origem deste surto que se está a
espalhar na… Europa!
Fingir
que se desconhece as causas deste surto em nada contribuirá para a sua
erradicação. Muito pelo contrário, servirá apenas para evitar a sua prevenção.
Por isso, em nome dos direitos dos homossexuais, para evitar a sua
discriminação, coloca-se em risco a sua saúde.
Mas,
mais ainda, esta cegueira ideológica não afecta apenas os homossexuais (o que
já de si seria suficiente para nos revoltarmos com o que está a acontecer).
Afecta-nos a todos.
Ao
tratar este surto como se fosse de causas desconhecidas, a DGS requisitou meios
para lá dos que seriam necessários para o combater. Este organismo público não
só requisitou e se prepara para distribuir sete mil vacinas grátis
(misteriosamente apenas no Centro de Saúde da Baixa de Lisboa…) como vai
disponibilizar tratamentos de prevenção da hepatite A nas consultas de
viajantes em todos os centros de saúde do país (como já acima referi). Isto no país
onde uma grávida que mora no centro de Lisboa não consegue arranjar uma vacina
contra a tosse convulsa e onde a vacina contra a meningite tipo B (que quando
não mata deixa sérias sequelas) custa 90 euros a dose (sendo que é preciso
três, num total de 270 euros…).
Não
posso deixar de perguntar porque razão é que uma doença que é fácil prevenir,
que afecta apenas uma parte da população, que em
mais de 90% dos casos é curada sem qualquer tratamento, merece todos estes
recursos? Isto quando os meios de tratamento e prevenção de doenças possivelmente mortais são
de difícil acesso. Um pai pobre não consegue vacinar o seu filho contra a
meningite, um homem rico e educado, para não ter que ter cuidado na sua vida
sexual, tem direito a uma vacina grátis.
Resumindo:
para não criar um “estigma” gastam-se recursos já de si escassos a combater de
maneira ineficaz o surto de uma doença não especialmente perigosa e de fácil
prevenção. Tudo isto enquanto o Estado não é capaz de garantir que estejam
disponíveis tratamentos e meios de prevenção para doenças que são potencialmente
mortais. Este é o perigo de ser a ideologia e não a realidade ditar as
políticas da saúde.
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