1 - O
católico na política deve sempre procurar o ideal. Isto aplica-se tanto para
aquele que governa como para aquele que simplesmente cumpre o seu dever cívico
de votar. A procura do Bem, da Justiça, da Paz, do Bem Comum é o dever de todo
o católico, especialmente na política.
Mais
ainda, os católicos têm o dever de se empenhar na política, ou seja, na coisa
pública. Este empenho não passa necessariamente pela vida partidária: pode
fazer-se através da cultura, do trabalho social, dos movimentos cívicos. Mas se
não passa obrigatoriamente pela vida partidária, também não a pode excluir.
Este
é o grande paradoxo de um católico na política: é que sendo cidadão dos céus e
concidadão dos santos vive neste mundo. E é neste mundo que é chamado a
intervir na política.
Isso
significa que somos chamados a decidir, não em abstracto mas no concreto da
circunstância em que vivemos, sobre qual a melhor solução política. E isto é
verdade para um católico que governe e para um católico que simplesmente vote.
2 - A
política é a arte do possível. Esta frase, usada muitas vezes de maneira
depreciativa, é para mim das melhores descrições do que é a política em
democracia.
Aquele
que só toma decisões políticas, que só vota ou que só legisla, se o resultado
for exactamente o que ele quer, ou é um ditador (e mesmo assim, nunca poderá
fazer tudo o que quer porque a própria realidade, em última circunstância, lhe
limita o poder) ou então vive alheado da política, perdido na sua utopia.
Na
política raramente as circunstância são exactamente as que nós queremos. Os
candidatos nunca são tão bons como nós desejávamos, os políticos nunca têm
exactamente as mesmas ideias que nós, as pessoas em geral nunca concordam
totalmente connosco. O problema da política é que há sempre o outro. Ou melhor,
milhões de outros, com opiniões diversas da minha. Por isso para a política
funcionar é preciso sempre fazer escolhas, que não exactamente as que nós
queremos.
A
política é de facto a arte do possível, o resultado entre o ideal e a circunstância
concreta.
3 - Diante
disto o que pode um católico fazer? Pode e deve sempre ajuizar na circunstância
concreta de uma decisão política qual o caminho possível que vai mais de
encontro ao ideal.
Não
se trata de um qualquer maquiavelismo, de escolher um mal menor para um bem
maior. O mal é mal, a mentira é mentira e nenhum bem último as justifica.
Contudo,
diante da circunstância concreta nem sempre podemos escolher o ideal, porque
não existe, temos que escolher o possível.
Dou
como exemplo a Lei de Apoio à Maternidade
e Paternidade, Pelo Direito a Nascer recentemente revogada pela Assembleia
da República. Não era a lei ideal, porque o ideal é que o aborto não seja
legal. Era a lei possível para relançar publicamente o tema da defesa da vida.
E se, infelizmente, a lei foi revogada, a verdade é que o tema da vida voltou a
público e conseguimos voltar a testemunhar a todo o país o drama que é o
aborto.
Ainda
como exemplo dou as última eleições. É verdade que a coligação Portugal à
Frente estava longe de ser o ideal. Durante quatro anos que detiveram o poder
nada fizeram para reverter as engenharias sociais da anterior maioria
socialista. Mas também é verdade que a maioria absoluta de esquerda, em menos
de 3 meses, aprovou a adopção por pessoas do mesmo sexo, a nova regulamentação
da PMA e revogou a Lei de Apoio à Maternidade e Paternidade.
Se um
católico só apoiar leis perfeitas, se só votar em candidatos perfeitos, se só
estiver num partido católico, então alheia-se da política. Se a escolha for
apenas entre o Reinado Social de Cristo ou nada, então provavelmente será o
nada.
4 - No
próximo dia 24 de Janeiro haverá eleições para a presidência da república às
quais concorrem dez candidatos. A campanha eleitoral tem deixado claro que
nenhum dos candidatos é o candidato ideal. Todos eles têm posições com as quais
um católico não pode concordar. Por outro lado votar em branco, nulo ou
abster-nos também não é o ideal.
Por
isso, mais uma vez somos chamados a fazer este juízo: na circunstância concreta
qual é a opção mais adequada para servir o bem comum, sabendo que qualquer que
seja a nossa decisão não será a ideal, mas sim apenas a possível.
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