Qualquer pessoa que conheça o país fora de Lisboa sabe que não há imigrante a mais. Somos um país assolado por uma crise demográfica há décadas, enquanto o número de emigrantes tem aumentado. O resultado é que, mesmo com a imigração, há um sem número de sectores que enfrenta uma crise de mão de obra.
E também não é verdade que precisemos de mão de obra qualificada. Não precisamos de médicos, engenheiros, gestores, cientistas, etc.: esses formamos em quantidade e qualidade nas nossas universidades, só precisamos de conseguir que não abandonem Portugal. A imigração que precisamos é mesmo para trabalhar no campo, na pesca, e vários outros sectores que até ao “boom” da imigração não encontravam mão de obra.
Evidentemente podemos discutir se a imigração em massa não tem um efeito perverso sobre esses sectores, permitindo manter uma política de baixos salários, perante trabalhadores que não têm a mesma capacidade negocial que os portugueses. Mas isso não significa que tenhamos imigração a mais.
Então isto significa que não há qualquer problema com a imigração em Portugal? Não, significa apenas que o problema não é haver muitos imigrantes, mas a total incapacidade do Estado de fiscalizar a Imigração. Abrir as portas à Imigração sem ter a capacidade de lidar com os processos de legalização, sem garantir que há capacidade para alojar estas pessoas, sem saber se têm emprego, sobretudo sem investigar a forma como cá chegaram, dando carta livre às redes de tráfico para explorar pessoas pobres à procura de uma vida melhor, é um crime humanitário.
Quem defende uma política de portas abertas sem qualquer critério defende tanto os imigrantes como André Ventura e as grupetas neo-fascistas a que ele andou a piscar o olho neste fim-de-semana. Uns e outros usam pessoas em situação especialmente frágil como arma de arremesso político, sem qualquer vergonha.
Sim, Portugal precisa de Imigrantes. E precisa de Imigrantes que estejam dispostos a fazer trabalhos duros e mal pagos. Mas o Estado tem a obrigação de garantir que os imigrantes têm condições de vida e de trabalho dignas. Não pode continuar a acolher pessoas que vêm dormir na rua, explorados por redes de tráficos, sem qualquer esperança de legalização e sem condições para se integrar na sociedade. O discurso humanista das portas abertas esconde a exploração de milhares de pessoas sob a incompetência do Estado.
Mas é preciso clareza. Acreditar que é preciso controlar a imigração não se confunde com o nojento discurso do Chega, que sentindo-se apertado nas sondagens, com medo de novos influencers fascistas nas redes sociais, adopta envergonhadamente a linguagem de movimentos racistas, desumanizando os imigrantes e atacando o principio básico da civilização ocidental, herdeiro do Cristianismo, de que todos os homens foram criado à imagem e semelhança de Deus. E aqueles que enchem a boca em defesa dos valores cristãos, pregam contra o islão e enchem a boca com a defesa da vida, deviam corar de vergonha quando tratam os imigrantes da mesma forma que os defensores do aborto tratam os embriões. Podem tentar enganar a consciência, com discursos redondos, mas só tentam disfarças o indisfarçável: que caminham lado a lado com Mário Machado e amigos, ecoando os mesmos hinos que os movimento neo-nazis cantam por essa Europa fora.
E por fim, não posso deixar de referir os católicos que publicamente participam nesta campanha contra a imigração e que este Domingo orgulhosamente marcharam explicando que Portugal é nosso e clamaram pela deportação: o Papa tem sido claríssimo sobre a imigração. E ouvir o Papa quando fala do aborto, mas ignorar quando fala sobre migrantes, é igual à extrema-esquerda que ouve o Santo Padre sobre o migrantes e depois ignorar o Bispo de Roma quando fala sobre o aborto. Não se pode servir a dois senhores, não se pode servir o poder e a Cristo.
No centro da política deve estar o Ser Humano. Seja uma criança por nascer, seja um imigrante. É justo e humano defender políticas de imigração ajustadas, capazes de acolher imigrantes sem descurar os que já estão cá estão que precisam de apoio. Mas não confundamos uma preocupação humana por aqueles que chegam ao nosso país com o egoísmo e o racismo daqueles que considera que o humanismo é apenas para aqueles que nasceram no local certo.
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