Todos as mensagens anteriores a 7 de Janeiro de 2015 foram originalmente publicadas em www.samuraisdecristo.blogspot.com

sábado, 23 de dezembro de 2023

Testemunhas de um facto


 

Excerto da homília do Padre João Seabra de dia 18 de Dezembro de 2016, IVº Domingo do Advento.

O Natal não é uma recordação piedosa de algo do passado; não nos voltamos para trás porque, se assim fosse, cada ano que passasse o Natal estava cada vez mais longínquo, seria uma recordação vaga, e celebrávamo-lo com menos intensidade do que o celebraram os nossos avós. Portanto, estaria cada vez mais distante e nós, pelo contrário, celebramo-lo como um acontecimento presente. O que é que significa a palavra “tradição”? Significa que fazemos hoje de novo aquilo que aconteceu no princípio. O que é que significa aproximarmo-nos do presépio e venerámos o Menino Jesus? É vivermos de novo, sobrenaturalmente, na ordem do Sacramento, aquilo que aconteceu na história. E por isso eu, hoje, no século XXI não sou menos beneficiado, nem menos feliz, do que o foram os pastores e os magos que adoraram o Menino em Belém.

Como acontecimento humano, o Natal pertence a um tempo determinado; mas como acontecimento sobrenatural é meu contemporâneo. Jesus entrou na história não para ficar delimitado aos 33 anos da Sua vida entre nós, mas para ser contemporâneo de todos os homens. Jesus é contemporâneo de todos o que o precederam, de todos os que viveram no Seu tempo e de todos os que nascera depois d’Ele. É também nosso contemporâneo, nasce hoje, nasce dentro de uma semana, para podermos, como os pastores e os magos, ir ao presépio vê-Lo com os olhos da Fé.

É o que acontece na Eucaristia. O corpo de Cristo que nasceu da Virgem Maria, que foi crucificado e morto, que ressuscitou, que está glorioso no Céu, encontra-se na Eucaristia para me amparar, mas para me fazer companhia, para ser meu amigo. E eu posso caminhar com Ele na margem do Lago de Tiberíades; posso pedir-Lhe como os discípulos: Senhor ensina-me a rezar (Lc 11,1); posso contempla-Lo pregado na Cruz; posso ir com Ele a caminho do Emaús, escutando-O a ensinar-me as Escrituras. Posso fazer tudo isto porque Ele é meu contemporâneo e está presente na minha vida. A nossa fé não é nada menos do que isto! Não somos visionários de um sonho, somos testemunhas de um facto. Vivemos de um facto que aconteceu há dois mil anos e que acontece hoje. Deus que se fez homem para fazer companhia à minha vida é um Mistério presente, aqui e agora.

Pedimos ao Senhor para não descermos a fasquia da nossa expectativa do Natal. Reconheçamo-lo presente com fé verdadeira, confiemos Nele para mudar a nossa vida, para mudar aquilo de que já desistimos ou não somos capazes de mudar, para fazer de nós gente nova pelo poder da Sua Graça. Faltam sete dias para o Natal. Quanta conversão se pode fazer em sete dias! Quanto regresso a Deus, quanto perdão das ofensas, quanta graça acolhida, quanta oração sincera, quantas coisas boas podemos fazer em sete dias para chegar ao Natal com um coração novo, para recebermos o Senhor com a nossa casa preparada e as portas escancaradas.

Que o meu coração não seja a hospedaria onde não há lugar para o receber, mas a gruta, ainda que pobre e tosca, onde Ele se pode reclinar e recebe a adoração dos pastores e dos magos que somos todos nós. Que o Senhor nos dê um Natal Santo, um Natal de conversão e de esperança.

Sem comentários:

Enviar um comentário