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quinta-feira, 3 de março de 2022

Os bem mais preciosos não se procuram, esperam-se




Quando soube que ia sair um novo filme da Disney confesso que não fiquei especialmente entusiasmado. Não que os últimos filmes da Disney sejam maus, mas já há algum tempo que nenhum me enche as medidas. E a história de uma família com poderes que morava numa casa mágica não prometia. De tal maneira que a primeira vez que o comecei a ver com a minha mulher desistimos ao fim de pouco tempo.

Mas depois chegou a noite de cinema com as crianças e ele insistiram que queriam ver o Encanto (o peer pressure não perdoa) e, a contragosto, lá vi o filme com eles. E a verdade é que valeu a pena.

Há muitas boa razões para ver Encanto: as músicas são divertidas, tem boas piadas e uma história interessante. A história é de facto sobre uma família com poderes que vive numa casa mágica, mas é muito mais do que isso.

Encanto conta a história da família Madrigal, que depois do sacrifico do avô Pedro, recebeu um milagre, assinalado por uma vela que nunca se apaga.  Por causa do milagre cada membro da família recebeu um dom, excepto a protagonista do filme, Mirabel.

A família é governada pela austera avó Madrigal, que tem como missão proteger o milagre que dá vida, não só à sua família, mas a toda a comunidade que a rodeia. Mas será a necessidade de proteger o milagre que levará a família Madrigal a zangar-se. A incompreensão da avó para com Mirabel, o desespero de Mirabel pela responsabilidade de salvar o milagre, o Bruno (do qual não falamos), tudo isto leva a uma terrível zanga que acaba com a destruição da casita e ao apagar da vela.

Então acontece a cena mais bonita do filme, quando a avó conta a Mirabel a sua história de amor com o avô Pedro, e de como no momento de maior desespero, quando Pedro é morto a proteger a mulher e os filhos recém nascidos, lhe foi dado um milagre. E este é talvez o que eu mais gosto do filme: a consciência de que o milagre é algo que não nasce do esforço, nem pode ser salvo pelos dons, mas algo que foi concedido gratuitamente.

Há muito mais coisas para dizer sobre este filme. Aposto que há imensos detalhes técnicos que me escaparam, pormenores em que não reparei, e várias lições que não aprendi. De facto a minha vocação não é ser critico de cinema.

A mim comoveu-me esta consciência do milagre que é dado gratuitamente. Sobretudo porque me ajudou a compreender uma frase que me tem acompanhado desde Setembro, que é a frase do ano da escola dos meus filhos: os bens mais precisos da vida não se procuram, esperam-se. Este filme ajudou-me a compreende-la. De facto os bens mais preciosos, não nascem do nosso trabalho ou do nosso esforço, mas são nos oferecido, gratuitamente, como o milagre da família Madrigal. Por isso a posição razoável é daquele que espera.

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