A política é a tensão entre o ideal e o real. Ou seja, entre
aquilo que se acredita ser o melhor para a sociedade e o que é possível
fazer.
Assim começava o artigo que escrevi no Observador há dois anos, pouco
antes do congresso do CDS em Lamego, quando muito se discutia se o CDS
devia ser mais ideológico ou mais pragmático. Já na altura tinha a mesma
posição que tenho hoje: pragmatismo e idealismo não são antagónicos,
pelo contrário, são complementares.
O resultado do
pragmatismo como estratégia política ficou à vista nos últimos dois
anos: um partido sem rumo, a cavalgar todos os escândalos, sem um
projecto para o país, perdido em estratégias de comunicação. A famosa
fotografia dos deputados do CDS reunidos com os deputados da esquerda
para aprovar a reposição do tempo dos professores que tanto dano causou
na campanha, não foi fruto de um azar, foi fruto desta estratégia. Os
últimos dois anos deixaram claro que o CDS era contra os socialistas,
mas ninguém percebeu qual a alternativa que propunha.
O problema
do CDS não se resolve, como tantos parecem achar, com um simples afinar
do tiro ou com um estilo novo. Não basta uma nova agência de
comunicação, renovar slogans ou fazer publicidade gira nas redes
sociais. O problema do CDS é um problema de substância e isso não se
resolve com triunfalismos gerados por vagas de fundo criadas por
estruturas do partido.
Infelizmente, muitos parecem confundir substância com
proclamação de princípios. Como se fosse suficiente afirmar aquilo em
que acreditamos, sem um projecto realista para transformar a doutrina em
propostas concretas para o país. A posição do idealista entrincheirado
nos seus princípios serve para um partido de protesto, mas não é útil
para um partido que queira realmente construir o bem comum.
Aquilo
que o CDS precisa é de apresentar um projecto claro ao país. Retomar o
ímpeto fundador, de ser não apenas oposição, mas uma alternativa real ao
socialismo. É preciso que a defesa da Vida, a subsidiariedade, a
economia social de mercado, a defesa das liberdades individuais, dos
trabalhadores, do mundo rural, dos mais pobres, das pessoas deficientes,
da cultura portuguesa, da Europa das nações e da portugalidade não
sejam apenas palavras mortas, mas dêem origem a um verdadeiro programa
de governo.
É isto que o CDS devia debater: como trazer para o século XXI estes
princípios, os princípios da democracia cristã, os princípios que
tornaram o CDS um partido realmente diferente e necessário na política
portuguesa.
É isto que a moção Juntos pelo Futuro de
Filipe Lobo d’Ávila tenta fazer. É uma moção longa (a maior das que
foram apresentadas ao congresso), despida de truques de grafismo ou de
comunicação. É verdadeiramente um programa de governo, que reafirma de
maneira cristalina a doutrina do CDS e que faz propostas concretas para a
sua aplicação.
Num
tempo onde a aparência parece ser o mais importante na política, Filipe
Lobo d’Ávia apostou na substância. Sem agências, sem truques de
comunicação, sem o apoio de estruturas partidárias, apresentou um
documento fruto da sua reflexão com o grupo que o tem acompanhado nos
últimos anos.
Filipe Lobo d’Ávila não é príncipe herdeiro de uma
dinastia decadente, nem um Dom Sebastião vindo de uma qualquer manhã de
nevoeiro. É precisamente quem foi nos últimos anos: a voz que propôs um
caminho diferente daquele que o CDS percorreu nos últimos tempos. Vai a
Aveiro propor aquilo que propôs em Gondomar, quando se opôs à sucesão de
Paulo Portas, e aquilo que propôs em Lamego, quando o CDS exultava com o
resultado de Lisboa. Um projecto para trazer o CDS de volta à
democracia cristã, um projecto para trazer os ideais do CDS para o
século XXI. Penso que chegou a hora de o ouvir.
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