Todos as mensagens anteriores a 7 de Janeiro de 2015 foram originalmente publicadas em www.samuraisdecristo.blogspot.com

domingo, 19 de maio de 2019

A prudência do Patriarcado.



1. A missão da Igreja não é fazer política, mas salvar as almas. Não é construir um mundo mais justo, mas anunciar a Cristo, redentor do Homem. 

Contudo, na sua missão de salvar as almas a Igreja não pode deixar de anunciar a Verdade e de orientar o povo. Por isso, não fazendo política, a Igreja tem o dever de anunciar os critérios para uma sociedade justa e denunciar a injustiça. Cabe depois aos leigos fazer política, tendo em consideração os critérios que a Igreja anuncia. 

2. A Federação Portuguesa pela Vida tem lutado sempre pela defesa da vida, sobretudo dos ataques que tem sido alvo nos últimos anos. As chamadas medidas fracturantes procuram impor uma cultura onde a vida não tem valor por si mesma, mas está sujeita aos critérios decididos pela sociedade: se é mais ou menos desenvolvida, se é mais ou menos saudável, se é mais ou menos útil. 

A Federação defende que toda a Vida tem dignidade, que não pode ser eliminada, alugada, vendida. Contraria uma ideologia que tenta reduzir o Homem a uma construção social, uma política que usa a educação para doutrinar as crianças nesta cultura da morte. 

3. É neste contexto que a Federação publicou um quadro com a posição dos partidos sobre alguns temas ligados à defesa da vida. Os temas são essenciais: a vida por nascer, a oposição à eutanásia, a liberdade de educação, a rejeição da ideologia de género e a luta contra a prostituição. Quem defende a Vida não pode votar em quem não é a favor destes temas. Não vale a pena fingir que são questões menores ou indiferentes. Não são temas fracturantes, mas sim estruturantes de uma sociedade. Um sociedade que não respeita a Vida Humana é uma sociedade que não respeita mais nenhuma dos direitos que dela advêm. 

Evidentemente que estes temas não são os únicos para decidir o voto. São apenas aqueles que a Federação Portuguesa pela Vida considera mais essenciais. E por isso dá a conhecer a posição dos partidos sobre eles. 

4. A partilha do quadro pelo Patriarcado foi de facto imprudente. É evidente que todos os temas do quadro coincidem com temas defendidos pela Doutrina Social da Igreja. Mas a DSI vai bastante mais longe. 

A Federação tem uma agenda política própria, centrada sobretudo nos temas apresentados. Mas à Igreja não se pede uma agenda política, mas sim ensinamento. Por isso a Federação pode fazer uma campanha simples de comunicação política, a Igreja não. 

Quem olha para um quadro feito pela Federação sabe que aquilo representa a agenda pró-vida. Mas quem olha para um quadro partilhado pelo Patriarcado pensa que representa a posição da Igreja, mesmo que esteja claramente assinalado que o quadro é responsabilidade da Federação. 

E a Igreja não pode evidentemente apresentar uma coligação como o Basta sem referir que esta tem posições contrárias à Doutrina da Igreja. Se é verdade que a coligação respondeu que sim às questões da Federação (mesmo sabendo que integra o movimento D21 que publicamente defende o contrário), também é verdade que o Basta defende a prisão perpétua, a castração química e tem um discurso sobre as minorias e os refugiados que está longe daquilo que a Igreja ensina e que o Papa Francisco tanto tem falado. 

Por isso, mesmo sabendo que o quadro não é um apelo ao voto, mesmo sabendo que não é um apoio a qualquer partido, a prudência manda que a Igreja não deixe espaço para confusões. 

5. O Patriarcado esteve muito bem em chamar a atenção para Carta Pastoral "Um olhar sobre Portugal e a Europa à luz da doutrina social da Igreja". Lá estão os critérios paras ajudar os cristãos a decidir o seu voto em consciência. É essa a missão da Igreja: ensinar e esclarecer as consciências. 

6. A política cabe aos leigos. E é isso que fizeram e fazem tantos leigos (como eu) que estão empenhados na defesa da Vida. 

Querer passar para a Igreja a responsabilidade de fazer política é desresponsabilizar-nos do nosso papel enquanto católicos e cidadãos. A Igreja educa-nos nos critérios e urge-nos a trabalhar para a causa pública. Construir uma sociedade mais justa, onde a Vida seja respeitada, não é dever do Patriarcado, nem da Igreja, mas de cada cristão. 

N.B.: Evidentemente que este artigo é da minha inteira responsabilidade pessoal, não representado em momento algum a posição da Federação Portuguesa pela Vida. 

Sem comentários:

Enviar um comentário