O
vice-presidente da Iniciativa Liberal descobriu, num artigo publicado na semana
passada, que Assunção Cristas não é liberal. Segundo o dito o facto de defender
que a Câmara Municipal de Lisboa ponha no mercado casas com rendas controladas,
assim como não descartar a hipótese de o Estado produzir remédios, tornam
Cristas numa socialista!
Aparentemente
o senhor tem andado distraído nos últimos quarenta anos (ou então está ele
próprio a praticar o populismo de que acusa a líder do CDS, tentando com um
pouco de demagogia ganhar alguns votos) mas é evidente que o CDS, e por
conseguinte a sua líder, não é um partido liberal. O problema é que não ser
liberal não significa ser socialista.
O
liberalismo é uma ideologia e como qualquer ideologia está fechada nos seus
dogmas. Para os liberais há o Mercado e o Estado, e nada pelo meio. Ou se confia
cegamente que o Mercado se equilibra por si mesmo ou se é um perigoso
socialista! Para os liberais a liberdade é, por si só, o valor supremo.
O
problema é que o Mercado tem falhas. As pessoas nem sempre fazem as escolhas
mais razoáveis, as leis nem sempre são bem feitas, as circunstâncias nunca são
um “mercado de concorrência perfeita”. E o resultado é que o Mercado, entregue
à sua liberdade, produz muitas vezes pobreza e exploração. Não é preciso ir
muito longe para perceber estes factos, basta recuar ao séc. XIX e princípio do
séc. XX, e ver as crianças nas fábricas e os trabalhadores explorados.
A
Democracia Cristã, doutrina do CDS, nasce precisamente para
combater não apenas a ideologia socialista, mas também a ideologia liberal.
Recusa o endeusamento do Estado, mas recusa também o endeusamento do Mercado.
Coloca o Homem como centro da política e o bem comum como seu objectivo.
Por
isso o CDS confia no Mercado, porque confia nas pessoas, porque acredita na
liberdade de cada um em dispor da sua propriedade. A economia de Mercado é a
forma que mais respeita a liberdade e a dignidade pessoa, por isso o CDS
defende essa organização da economia. Mas ao mesmo tempo o CDS também sabe que
o Mercado pode produzir injustiças e não está disposto a sacrificar a
dignidade das pessoas ao dogma liberal. Por isso olha com realismos para as
circunstâncias e procura soluções que possam corrigir essas injustiças. Isso em
alguns momentos significa menos Estado, noutras pode significar mais Estado.
No
caso da liberalização das rendas era evidente que esta era necessária. Há
cinquenta anos que o Estado fazia política de habitação à custa dos
proprietários. Por isso o CDS, e sobretudo Assunção Cristas, defendeu a
liberalização do mercado de arrendamento. Por outro lado, sendo esta a solução
justa, também é evidente que a liberalização de um mercado que esteve congelado
durante cinquenta anos, aliado à explosão do turismo e ao aumento do
investimento estrangeiro em Portugal, trouxe um problema grave, especialmente
visível em Lisboa: um aumento do preço do arrendamento que o torna
incomportável para a maior parte das famílias.
Segundo a esquerda socialista a
solução é simplesmente voltar a congelar o arrendamento, tornando outra vez o
centro das cidades um cemitério de prédio degradados. Mas a solução liberal
também não é melhor: deixar o Mercado actuar, mesmo que isso
signifique que as famílias da classe média têm todas de ir viver para os
subúrbios tornando o centro de Lisboa num condomínio privado de estrangeiros e
portugueses ricos.
Ora,
Assunção Cristas veio propor uma solução que escapa a estas duas ideologias: a
Câmara colocar os imóveis que possuiu (assim como os que venha a possuir com o
projecto de Entrecampos por exemplo) no mercado a preços controlados. Assim,
sem tirar direitos aos proprietários, tenta-se equilibrar o mercado. Só dogmático é que podia ver socialismo
nesta medida. Mas assim como o PC vê fascistas em tudo o que discorda deles, a
IL vê socialistas!
E
isso é claro na questão, que tanto escandaliza o senhor vice-presidente da IL,
da produção de remédios por parte do Estado. Assunção Cristas, diante de uma
proposta de que não se conhecem pormenores, não se limita a rejeita-la por capricho
ideológico, afirma que irá estudar o assunto. Isto é a resposta razoável de
quem procura o bem comum e não apenas impor uma ideologia. Evidente, para IL
isso é impensável e prova de socialismo!
Assunção
Cristas não é liberal, nem o CDS, e ainda bem. Assim como não é socialista em
nenhuma das suas várias declinações. Assunção Cristas é Democrata-cristã ou seja,
defende uma política ao serviço do homem e não da ideologia. Tenho pena que a
IL tenha demorado tanto tempo a percebê-lo!
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