Elogiar o Professor
Gentil Martins é uma tarefa fácil. A sua vida é tão preenchida, tão
extraordinária, que qualquer pequena pesquisa no Google nos permite coleccionar
factos suficientes para exemplificar a sua excepcionalidade.
Cirugião pediátrico de
excelência, participou em mais de 12 mil intervenções cirúgicas. Foi director
de serviço de Cirurgia Pediátrica do Hospital da Estefânia durante 34 anos. Fez
7 operações para separar gémeos siameses. Escreveu artigos científicos e proferiu
conferências um pouco por todo o mundo. Foi bastonário da Ordem dos Médicos e
presidente da Associação Médica Mundial. Criou a primeira Unidade Multidisciplinar de Oncologia Pediátrica a
nível mundial no IPO de Lisboa.
Como
se a sua carreira médica não fosse suficiente ajudou a fundar ou apoiou várias
organizações de apoio social como a ACREDITAR ou a CAVITOP. Foi
atleta de várias modalidades, chegado a representar Portugal nos Jogos
Olímpicos.
Teve
e tem uma forte intervenção cívica. Foi uma das vozes mais sonantes
contra o aborto, manifestou-se sempre contras as barrigas de aluguer e ainda este ano foi o promotor da carta que os cinco antigos
bastonários da Ordem dos Médicos escreveram contra a eutanásia.
Aos
86 anos continua a trabalhar sempre disposto a servir o bem comum. E com toda
a humildade. Vale a pena contar uma pequena história: no primeiro Prós e
Contras sobre o aborto foram mobilizados apoiantes dos dois lados para ir
assistir ao programa. O Professor Gentil Martins foi um dos que foi, tendo-se
sentado no meio do público. Só após grande insistência da Fátima Campos
Ferreira é que aceitou ir para a primeira fila e falar.
Esta
fim-de-semana o Professor Gentil Martins foi entrevistado para o Expresso. No
seu registo habitual, de homem habituado a dizer o que pensa sem se preocupar
com politiquices, deu a sua opinião sobre a homossexualidade.
Como já é habitual logo se criou um escândalo, com a inevitável Isabel Moreira
a clamar pela intervenção da Ordem dos Médicos por o Senhor Professor ter
proferido palavras contra a ortodoxia contemporânea. Clamor no qual foi
acompanhada pelos seus antigos companheiros de blog (cujo o nome dispenso de
publicitar) Miguel Vale de Almeida (o ex-deputado que só o foi até ser aprovado
o casamento entre pessoas do mesmo sexo, tendo logo de seguida resignado ao mandato)
e Ana Matos Pires (uma das já famosas “duas médicas” que vão apresentar queixa
à Ordem). Só faltou de facto a Fernando Câncio, para o ramalhete ficar completo.
A
nova Comissária Política das causas fracturantes lida com as divergências ao
bom velho estalinista: qualquer desvio da ortodoxia (ditada por ela) é um erro
que deve ser eliminado. Isabel Moreira não discute opiniões ou ideias. Ela é a
detentora da verdade e quem dela discorda deve ser perseguido. E, infelizmente, existem sempre alguns seres, daqueles
cuja a vida se resume ás campanhas virtuais e cujo o sonho é viver no eixo
Chiado – Príncipe Real – Campo de Ourique, dispostos a seguir fielmente a
querida líder.
E
chegado aqui não posso deixar de perguntar: quem é Isabel Moreira e porque
razão lhe dão os media tanta tempo de antena? Que obra ou feito tem a senhora
deputada no seu currículo para ser a guardiã da ortodoxia?
A última vez que eu reparei Isabel Moreira devia toda a sua carreira a três factos:
o nome, o apoio do lobby fracturante e a sua enorme falta de educação. Não fora
ser a filha rebelde de Adriano Moreira, defensora ardente de qualquer causa
fracturante, capaz de insultar e ameaçar todo os que discordam de si, quem
é que ligaria à senhora? A diferença entre Isabel Moreira e os trolls do facebook, é que a ela o
Partido Socialista decidiu dar palco.
E
vivemos num tempo tão estúpido, tão dominado pelos pequenos escândalos da redes sociais empolados pelos jornalistas, que um homem que serviu o país toda
a sua vida sem nunca ocupar qualquer cargo político pode ser perseguido por uma
mulher que só ocupou cargos políticos sempre ao serviço dos lobbies seus amigos. E há quem a aplauda
e lhe aprecie a “coragem” (de perseguir um senhor velhinho através dos seus “seguidores”…).
Evidentemente
o Professor Gentil Martins não precisa da minha defesa. Sobretudo contra
pequenos Comissários Políticos que claramente nasceram demasiado tarde para cumprir a
sua verdadeira vocação como bufos da PIDE ou informadores do NKVD.
Contudo há nesta polémica um facto que é importante sublinhar. É que existe em
Portugal uma deputada, apoiada pela direcção de um grande partido e apaparicada
pelos meios de comunicação social, que emite uma fatwa contra um dos maiores médicos portugueses vivos porque
discorda das suas afirmações. Não discute, não debate, limita-se a proclamar
que é dever dos médicos fazer queixa de um colega porque este se atreveu a
publicamente afirmar aquilo em que acredita.
Para
mim a grande questão é: o Partido Socialista adere à
perseguição ideológica da sua deputada? Os restantes partidos políticos ficam
em silêncio perante a tentativa de censura por parte de uma deputada? A
comunicação social vai continuar a fingir que é normal uma politica incitar à
perseguição por parte dos seus seguidores de quem não pensa como ela? Chegámos
a um tempo onde ninguém ousa publicamente contrariar o lobby representado pela
Isabel Moreira?
Mal
estamos quando aquilo que alguém pensa é mais escandaloso do que a tentativa de
instaurar uma ditadura de pensamento único.
O que o Professor disse é a sua forma de pensar que respeito, como é óbvio. Nem sempre ser frontal é uma virtude. Acho que se expôs sem necessidade. Ora também há uma mensagem para quem nos lê. Estamos num país livre e estas coisas da sexualidade e direito à vida e à morte não são assuntos que se aceitem por estarem na lei. Milhares ou milhões de portugueses pensarão como ele, mas não são figuras públicas e não o transmitem à comunicação social. Tolerância seria a palavra de ordem.
ResponderEliminarMuito bem!!!
ResponderEliminar"Por muito que tenha querido acompanhar a evolução do pensamento social, há áreas em que o não consegui.
ResponderEliminarÉ o caso do cada vez mais freqüentado teatro de homens sexualmente atraídos que se recusam o mais primordial dos instintos: adubar a árvore de que são ramos e honrar os pais, continuando-os;
E que por vezes, nas tábuas do palco a que sobem e onde se expõem à luz dos holofotes, têm o supremo dislate de querer convencer-nos que levam passo errado os que na marcha da vida o não acertam por eles."
José Guerreiro
Assino em baixo.
EliminarLi o artigo. Independentemente daquilo que a autora diz ser a deputada Isabel Moreira, a mesma esquece-se de um (e o único !) factor que aqui interessa : A homossexualidade foi retirada da lista de doenças pela American Psychiatric Association da lista de patologias, seguindo-se-lhe a OMS, etc. Ora o Professor Doutor Gentil Martins já nessa altura era médico (um fora de série, aliás !) e continuou a sê-lo, ao longo dos anos. Não é, portanto, curial - nem admissível - que um cientista e professor universitário deste quilate possa proferir "opiniões" fundamentadas em coisa nenhuma ou que resultam, apenas e tão-somente, das suas próprias convicções católicas, às quais nada há a opor. No caso vertente, nada há a "discutir" ou a debater. É como se amanhã um astro-físico especialista na teoria dos buracos negros resolvesse vir opinar que o Sol é que gira em torno da Terra e não o contrário. Em Ciência há verdades indiscutivéis e o Professor Doutor Gentil Martins, enquanto académico brilhante, sabe isso perfeitamente. Que, num círculo de amigos, proferisse este tipo de "opinião" ainda vá-que-não-vá. Agora numa longa entrevista a um jornal com a magnitude do Expresso é que não. Fica-lhe mal a ele, enquanto académico, e - o que é pior - incita os menos informados a aceitar a sua "opinião" como um facto científico, o que pode levar a raciocínios do género "se é uma doença, trate-se". Basta ver muito do que escreveu nas redes sociais e até alguns comentários supra. Gostaria muito de ouvir a sua opinião acerca do que aqui escrevo, Caro José Riobom, E termino como uma nota que transcreve aquilo que anteriormente afirmei: "In 1973, the American Psychiatric Association (APA) removed the diagnosis of “homosexuality” from the second edition of its Diagnostic and Statistical Manual (DSM). This resulted after comparing competing theories, those that pathologized homosexuality and those that viewed it as normal. In an effort to explain how that decision came about, this paper reviews some historical scientific theories and arguments that first led to the placement of homosexuality in DSM-I and DSM-II as well as alternative theories that eventually led to its removal from DSM III and subsequent editions of the manual. The paper concludes with a discussion of the sociocultural aftermath of that 1973 decision." Melhores cumprimentos !
ResponderEliminarQuando Galileu afirmou que a terra girava à volta do sol estava a contrariar uma verdade científica indiscutivel...
EliminarAplaudo !
EliminarCaro Rodrigues Pereira,
EliminarNão tenho capacidade para opinar sobre se a homosexualidade é uma anomalia. Sei que tenho algumas (anomalias) e que 99% das pessoas que conheço também as têm. So what?! Porquê todo esse medo de ter uma "anomalia"?! E, o que é isso de anomalia? É isso que nos faz singulares e, quem tem determinadas anomalias, sem aspas, tem também determinadas qualidades que são só suas. Não opino sobre se se trata, ou não, de uma anomalia. Se a homosexualidade foi retirada da lista de patologias, foi-o numa votação renhida (conforme resulta, aliás, do texto que transcreve) em que havia posições concordantes e discordantes. Num mundo livre, podemos concordar e discordar. Com respeito pelo outro. E foi aqui que o "caldo se entornou". O Professor Gentil Martins não tem que dar a sua opinião num circulo de amigos fechado. Pode dá-la quando e onde quiser. A ciência não é um dogma de fé. Todos os dias se discutem, acesamente, temas que alguns têm por assentes. Caso contrário, tudo isto se transforma num dogma de fé, com perseguições politicas e religiosas. Não vá por aí.
Há um facto da natureza que passa despercebido e que importa reter: os peixes dos rios poluídos (estudos europeus e americanos) estão a virar fêmeas e hermafroditos. Pensa-se que esta alteração da espécie tem a ver com a exposição aos poluentes químicos (fertilizantes, pesticidas e herbicidas levados pelos efluentes) que, nos organismos vivos, se comportam (a grande maioria deles), como hormonas sexuais femininas. Estes produtos são chamados de disruptores ou desreguladores endócrinos. A primeira vez que ouvi falar desta questão foi há cerca de 20 anos, numa conferencia proferida por um oncologista espanhol que andava à procura de uma explicação para um aumento da incidência dos chamados cancros hormonais (mama, próstata, testículo).
EliminarRodrigues Pereira ! O Dr. Gentil Martins tambem não disse aue a homossexualidade era uma DOENÇA ! Disse que era uma ANOMALIA ! Cada palavra tem o seu significado ! Há que não confundir !
ResponderEliminarA Homossexualidade não é uma doença é uma deficiência que deve ser tratada como outra deficiência crónica qualquer.
EliminarO problema do "Senhor Professor" não "foi ter proferido palavras contra a ortodoxia contemporânea", como diz a autora, mas ter proferido palavras contra a ciencia e o bom senso, e ter insultado pessoas em público.
ResponderEliminarMais uma vez volto ao exemplo de Galileu, que também foi acusado de dizer coisa contra a ciência.
EliminarQuanto aos insultos, de facto fez uma apreciação dura de CR, mas não disse nenhuma mentira.