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terça-feira, 8 de novembro de 2016

O Outro Como Bem: O Caminho da Democracia




A Democracia tem como base a ideia que todos os Homens são iguais em direitos e dignidade e que por isso cada um tem igual direito de contribuir para o governo da sociedade.

Por isso numa democracia verdadeira não é suficiente o sufrágio universal e eleições livres e justas. É também necessário o respeito pelos direito de cada individuo.

A Democracia só funciona quando existe respeito pelo outro. Dentro de uma democracia não pode haver inimigos, apenas adversários. Pessoas que defendem soluções diferentes da minha, mas que trabalham para o bem comum.

A Democracia acaba quando os adversários políticos passam a ser inimigos. Quando os partidos e as facções se constituem como único alternativa possível, quando o outro é um mal que tem ser evitado e destruído (ainda que apenas nas urnas), então aí a Democracia transforma-se numa ditadura da maioria, onde quem consegue o poder impõe a sua vontade, ignorando a aquela fatia da população que não votou em si.

Neste momento, um pouco por todo as democracias ocidentais, assistimos a uma polarização da política. Trump e Hillary (escrevo enquanto os americanos estão a ir às urnas) são disso exemplo claro. Das notícias e comentários que vão sendo publicados parece que ninguém vai votar nos candidatos porque gosta deles, simplesmente porque considera o adversário mau.

Mas este fenómeno não é apenas americano. Espanha precisou de dez meses e duas eleições para conseguir ter um governo (e mesmo assim, parece que só o medo de desaparecimento levou o PSOE a aprovar o governo PP). Em Portugal, o PS preferiu aliar-se à extrema esquerda do que permitir aos vencedores das eleições governar. Em França a Frente Nacional é cada vez mais a maior força política. A Grécia elegeu um governo de extrema esquerda que não teve problemas em aliar-se à extrema direita para governar. 

Em todos estes casos uma coisa é clara: a clivagem entre forças políticas é cada vez maior. Não há espaço para os moderados, só para extremos. Ou estás connosco, ou contra nós. E então nesse caso és um vendido à europa ou então um nacionalista; a favor da austeridade ou um irresponsável gastador; islamofóbico ou apoiante do terrorismo. Cada lado vive na sua trincheira, olhando com ódio para o inimigo escondido poucos metro à sua frente, esperando apenas o momento certo para o destruir.

Esta polarização da política é um perigo para a Democracia. É um perigo porque torna fácil a quem tem força suficiente para governar cair no despotismo. Se o outro é um mal, se aquilo que outro defende é completamente errado, se eu tenho poder, então não há razão alguma para não fazer tudo de acordo com a minha vontade, sem ter em conta os direitos do outro. Claro que todos os sistemas democráticos têm limites ao poder. Mas mesmo esses limites podem, em democracia, ser ultrapassados.

Podemos assim ter um sistema aparentemente democrático, com eleições livres e justas, com separação de poderes, com uma constituição, mas que no fundo é a ditadura dos que ganham. E para aí caminhamos.

A única solução é de facto começar a olhar para o outro, para aquele que discorda de nós, como uma possibilidade de bem. Perceber que em cada homem existe um desejo de justiça, de felicidade e de amor. E que mesmo quem propõe soluções erradas, busca tal como nós o Bem Comum.

Não significa isto um relativismo em relação à Verdade. Mas um olhar aberto para o outro, de maneira a ser possível fazer verdadeiramente política, ou seja, construir o bem comum, mesmo com aqueles com quem não concordamos.

É evidente que existe sempre a liberdade do outro, que pode recusar esta abertura. Que pode insistir em demonizar-nos e tratar-nos como monstros. Mas quanto a isso nada podemos fazer.

Este caminho, o de tratar o outro como um bem, é um caminho difícil e complicado. Não é fácil vencer suspeitas e ultrapassar preconceitos. Mas é o único possível para uma sociedade verdadeiramente livre.

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