A palavra "austeridade" tem-se
tornado um vocábulo essencial para qualquer conversa sobre política nos últimos
anos. Tanto se tem usado esta palavra que a certa altura ela ganhou uma vida
própria. De facto a esquerda tem construido toda uma narrativa à volta da
"austeridade" de maneira a transforma-la numa ideologia política,
como se a austeridade fosse uma escolha e não uma imposição.
Esta
narrativa chegou ao seu auge com a vitória do Syriza nas eleições
gregas. Para gaúdio da esquerda há finalmente um partido anti-austeridade no
governo. Um partido que aliás decretou logo o fim da mesma e tomou um
conjunto de medidas (subir o salário mínimo, oferecer electricidade a
300 mil famílias pobres, readmitir na função públicas todos os que foram
despedidos nos últimos anos, etc.) que deram forma a essa declaração.
O problema é que a austeridade não foi nem
é uma decisão mas uma imposição. Não da Troika ou da Alemanha,
mas uma imposição da realidade. O facto é que quer em Portugal quer na Grécia não havia
dinheiro. O país gastava muito mais do que aquilo que produzia.
A dívida não foi inventada, foi contraida
para pagar os gastos para os quais não tinhamos dinheiro.
Claro que que é discutivel se as medidas
tomadas foram as melhores, se não haveria outra maneira de ultrapassar a crise. Também é evidente que muitas vezes as
medidas tomadas para ultrapassar a crise levaram a resultados dramáticos.
Famílias sem casa, sem luz, sem comida, sem médicos.
Mas a opção não era entre a austeridade e a
abundância, mas sim entre as medidas de austeridade que se deviam tomar.
Porque a austeridade não é uma política, nem sequer existe por si mesma. A austeridade é fruto da ausência
de riqueza.
O problema de aumentar o salário mínimo ou
de oferecer electricidade é que tudo isso tem um custo. E se é fácil criar leis
que obriguem os salários a ser mais altos ou a electricidade a ser mais barata
não é possível criar o dinheiro para pagar estas decisões por decreto.
Por isso ser anti-austeridade é ser
anti-realidade. Querer continuar a gastar o que gastavámos e ao mesmo tempo não
pagar mais por isso não é uma opção. É como eu ganhar €500 e arrendar uma casa
por €600. Ao fim de três meses estou na rua e ainda mais pobre do que estava
antes de arrendar a casa.
O preço da utopia grega vai ser paga pelo
povo grego. E vai ser paga de maneira ainda mais dura do que tem sido. Porque o
dinheiro vai acabar (e a este ritmo rapidamente) e ninguém vai querer emprestar
mais a quem não paga.
E o resultado vai ser que, apesar de todas
as leis anti-austeridade, esta vai regressar. Só que vai regressar a um país
ainda mais pobre.
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