1.
Em Portugal assiste-se a um desencanto cada vez maior com a política. São cada
vez menos os que votam e os que votam fazem-nos de maneira cada vez mais
desanimadas. Há muitas razões para que isto aconteça. A política parece cada
vez mais distante da vida diária das pessoas, cada vez mais embrenhada em
trincheiras partidárias. Os escândalos de corrupção e de abuso de poder parecem
não acabar. Os políticos falam uma linguagem que só eles parecem entender, mais
pensada para os comentadores e os outros políticos, do que para os cidadãos.
Contudo
as razões que levam tantos a uma posição cínica diante da política, não são
exclusivas da política. São fruto de uma sociedade cada vez mais distante da
realidade, de uma humanidade cada vez mais desinteressada pela sua própria
vida, pela dos seus filhos, pela dos seus amigos. A política é aquilo que a
sociedade dela faz.
Temos
a política que temos porque a maior parte de nós não se empenha nela.
Para que a política mude é preciso o empenho de quem a quer mudar. E neste
momento esse empenho significa dia 6 de Outubro ir votar.
2.
A política vive da tensão entre o ideal e o real. Nós empenhamo-nos na política
para servir o ideal. Contudo o ideal serve-se na realidade concreta. E a
realidade nunca é como nós queremos, nunca é a melhor, é o que é.
Se
só nos empenhamos na política quando estão reunidas todas as condições para se
construir o que consideramos melhor, então nunca o faremos. Ficaremos
encerrados na nossa trincheira, cheios de razão e superioridade moral, mas sem
realmente construir nada.
Dia
6 de Outubro não somos chamados a votar nos candidatos perfeitos, com ideias
justas e vidas privadas impolutas. Somos chamados a votar em quem aparece no
boletim de voto. E o nosso trabalho é ajuizar como é que nosso voto pode ajudar
a construir o bem comum.
Votar
é escolher entre as possibilidades que existem, não entre as que nós queremos.
Se nos refugiamos na nossa exigência moralista de candidatos perfeitos o único
resultado será não termos qualquer voz na construção da nossa sociedade.
3.
Estas eleições são dramáticas. Infelizmente, como tem vindo a ser habitual,
muitas das questões essenciais têm ficado longe da campanha. Dia 6 de Outubro
está em jogo:
-
A possibilidade de aprovação da eutanásia, do alargamento dos prazos legais do
aborto, do regresso das barrigas de aluguer;
-
A ameaça à liberdade de educarmos os nossos filhos: mais ideologia de género
nas escolas, mais perseguição às escolas não estatais, menos possibilidade de
escolher a escola, mais centralismo do Ministério da Educação;
-
Um Estado cada vez mais poderoso e centralizador, que chama a si todos os
aspectos da vida social, desde a saúde à economia, passando pelo apoio social,
reduzindo assim a possibilidade intervenção pessoal e das comunidade;
-
A continuação da impunidade para os casos de corrupção e de abuso de poder.
4.
Está nas mãos de cada um de nós tomar posição sobre estes temas. Cabe a cada um
de nós escolher se queremos um Estado que respeita a dignidade humana, a sua
liberdade, a sua consciência. O tempo é grave por isso não farei qualquer
apelo partidário. Apenas apelo para que todos em consciência não fiquem na
indiferença perante as eleições. Dia 6 é dia de escolher: dá trabalho, mas a alternativa é deixar outros escolherem por nós.
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