Na
última semana de Dezembro o país ficou chocado com a notícia de um jovem
estudante morto num assalto em plena Lisboa. Passado uma semana, nova morte de
um jovem estudante, desta vez em Bragança, por um bando de delinquentes da
noite.
Normalmente
estas duas tragédias seriam sobre a dor das famílias e a necessidade de
combater dois fenómenos: a insegurança junto da Cidade Universitária e a
violência que tem vindo ao aumentar na “noite”.
E
provavelmente assim seria se o primeiro jovem não fosse branco e o segundo
negro. Rapidamente a morte destes dois rapazes enquanto tragédia foi esquecida,
para se transformar numa batalha política.
É
verdade que a politização começou logo com o primeiro crime, ainda que de forma
marginal. Mas com a segunda morte a coisa rapidamente se descontrolou. O crime
era um acto de racismo, a comunicação social não tinha dado a mesma cobertura
aos dois, diziam os activistas anti-racismo. Em resposta, vieram logo aqueles
que diziam que estas associações não se preocupavam com a morte do jovem branco
e que tinham sido negros a matar o primeiro.
Entretanto
foram marcadas várias acções contra o racismo por causa da segunda morte, mesma
sem qualquer indicação que o crime tivesse relacionado com a cor do morto.
No
meio surgiu o boato de que o jovem teria sido morto por ciganos. Nova ronda de
acusações que culminou na manifestação anti-racismo onde o famoso activista
Mamadou Ba quase agrediu o repórter António Abreu por lhe perguntar sobre os
ciganos. De seguida as redes sociais tornaram-se num campo de batalha, com
acusações de racismo, de fake news, de isto e daquilo de ambos os lados.
Finalmente
veio a notícia de que afinal o crime não tinha motivações racistas e não tinha
sido executado por ciganos e a questão esmoreceu. Não havendo racismo, não
havendo ciganos, aparentemente a morte de dois jovens estudantes começou a
perder o interesse.
E
isto é talvez das coisas mais trágicas do nosso tempo. Vivemos numa mentalidade
marxista, que impregna muitas vezes até aqueles que o dizem combater. Contrariando
a ideia de da fraternidade cristã, de homens criado à imagem de Deus em igual
dignidade, e a ideia clássica da sociedade como um corpo que tem que trabalhar
em harmonia, o marxismo dividiu a sociedade em classes que lutam entre si. E se
o marxismo se ficou pelo povo contra o capital, hoje os seus herdeiros
desdobraram esta luta numa quantidade infinda de identidades. Infelizmente,
muitos dos que se opões ao marxismo acabam a olhar para a sociedade da mesma forma,
mas escolhendo o “outro”lado como bom. Também acreditam que o mundo se divide
entre homens e mulheres, homossexuais e heterossexuais, brancos e negros, só
que estão do lado dos homens, dos heterossexuais e dos brancos!
E
assim vivemos num tempo de trincheiras, onde a morte de dois jovens só tem
interesse enquanto arma de arremesso contra o inimigo. Onde o que realmente
importa é se essa morte permite acusar o inimigo de alguma coisa.
Esta
mentalidade é trágica. Pedro e Giovani foram mortos por bandidos. Mas foram
mortos segunda vez por todos aqueles que os quiseram reduzir a arma política.
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