Celebramos
há dias os 75 anos da libertação de Auschwitz. O mais famoso campo de
concentração nazi ergue-se na nossa memória como um monumento aos monstruosos crimes do século XX, sobretudo os crimes cometidos pelos nacionais socialistas
contra o povo judeu.
O
Holocausto não se mede apenas pelos números. Foi um plano frio e racional de
eliminar todo um povo. Não se tratou e um acto de uma turba irada, ou fruto de
uma revolução. Foi uma decisão razoável, levada cabo por pessoas comuns, movidas
por uma ideologia que ditava que os judeus eram culpados pelos males do mundo.
A solução final foi de facto a última solução que os nazis encontraram para resolver
o problema judeu: não tendo para onde os deportar só sobrava matá-los. A fria lógica
do Holocausto, a maneira metódica, quase científica com que foi executado,
torna-o ainda mais assustador. Este crime não foi fruto de loucos ou de
sociopatas, foi fruto de corações empedernidos pela ideologia. Uma ameaça que parece
estar ressurgir na nossa sociedade.
Mas
se é importante não nos esquecermos de todo o mal de que Auschwitz é símbolo,
também é importante recordar que no meio de todo aquele mal, quando toda a humanidade
parecia embrutecida, animalizada, desfeita, houve pessoas que foram um
testemunho de esperança no meio do desespero. Homens que brilharam como um
farol no meio de uma noite escura.
Um
desses homens é São Maximiliano Kolbe. Homem com uma grande obra, acabou preso em
Auschwitz. Um dia, após a fuga de alguns prisioneiros, foram escolhidos dez
homens para serem mortos em retaliação. O décimo escolhido gritou que tinha
mulher e filhos. O Padre Kolbe avançou então em direcção aos soldados e pediu
para morrer na sua vez.
Foi
então preso com os restantes nove, numa cela sem qualquer alimento, deixados a
morrer de fome e sede. Durante os dias do seu suplício o Padre Kolbe celebrou
missa, cantou hinos e rezou o terço com os seus companheiros. No fim, quando só
sobravam ele e dois companheiros, foram mortos para libertar o espaço. O padre Kolbe
sorriu ao seu carrasco e estendeu-lhe o braço para receber a injecção letal.
A
morte de São Maximiliano Kolbe mostra que um homem pode ser livre até na maior
opressão. Mesmo diante de todo o poder do mundo, aquele homem testemunhou a
liberdade daqueles que tem os olhos posto s em Deus. Por isso abraçou sem medo a
morte, sem ódio, só caridade. Todo o mal de Auschwitz, todo o terror Nazi não foi suficiente para o
derrotar. A verdade é que o Padre Kolbe era mais livre que os seus carrasco.
Preso e condenado a morrer à fome era mais livre que Hitler, líder de exércitos incontáveis e senhor de meia Europa.
É
importante recordar Auschwitz, porque é importante relembrar até onde o mal
pode conduzir aqueles que lhe cedem. Num tempo onde tantas vezes os meios
parecem justificar os fins, que o mais importante parece ser o combate ao inimigo,
convém não esquecer o exemplo de todos aqueles que acabaram a exterminar um
povo em nome de uma suposta causa justa.
Mas
também é importante lembrar que nesses tempos de horror, onde toda a esperança
e toda a bondade pareciam ter desaparecido, existiram homens como Maximiliano
Kolbe. Homens que testemunham que temos sempre escolha entre o bem e o mal. Homens que testemunham que um coração que ama é mais livre que o mais poderoso dos exércitos.
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