Há algo de extraordinário em Pedro Passos Coelho. Poucos políticos suscitam tanto respeito, tanta admiração e, ao mesmo tempo, tanto ódio. Embora só tenha governado quatro anos, a verdade é que PPC marcou a política portuguesa como poucos.
É difícil descrever o que há de extraordinário no antigo primeiro-ministro. Se olharmos para o seu mandato não veremos nada fora do comum. Governou com o memorando da troika, aplicando um pacote de “austeridade” imposto por terceiros e acordado por terceiros. É verdade que o fez sem nunca se desviar do objectivo. Também é verdade que foi sempre honesto e corajoso na aplicação das políticas que lhe foram impostas. Cumpriu as suas responsabilidades. Aliás, talvez a sua frase mais memorável seja “eu não abandono o meu país” aquando da crise Vítor Gaspar/Paulo Portas. Fez política de forma educada, elevando o nível do debate político que tinha descido à lama nos tempos de Sócrates. Nunca fugiu do contacto com o povo, nem na altura de maior contestação social. Não procurou dominar a imprensa, a justiça ou a banca. Respondeu sempre diante do Parlamento e não da comunicação social. Governou para o bem do país sem pensar nas eleições. Tudo somado, fez aquilo que é suposto um Primeiro-Ministro fazer. E, apesar de no seu mandato o país ter enfrentado uma das suas maiores crises, entregou um país bastante melhor do que aquele que encontrou e assim ganhou eleições.
Nada do que fez como primeiro-ministro aparenta ser extraordinário. Mas a verdade é que o foi, ainda que não seja fácil explicar porquê. Confesso que só percebi realmente a excepcionalidade de Pedro Passos Coelho quando morreu Laura Ferreira, sua mulher.
Pouco sabemos da vida pessoal de Passos Coelho. Ele sempre foi discreto e a sua mulher ainda mais. Sabíamos que vivia em Massamá, que passava férias no Algarve. Que é um pai dedicado (segunda uma entrevista de Laura, foi uma das razões pelas quais ele a atraiu). Bom filho, bom irmão. Mas foi a doença da sua mulher que demonstrou quem realmente é Pedro Passos Coelho.
Nestes quase cinco anos nunca ouvimos Pedro Passos Coelho queixar-se da doença da sua mulher. Nunca o vimos a usar a doença da mulher, nunca se deixou fotografar no Hospital ao seu lado. Nunca permitiu que fosse ele, a sua dor, o seu cansaço o protagonista da doença de Laura. Sabemos que esteve sempre a seu lado. Que dormia no Hospital. Que recusou sempre sair do seu lado. E sabemos isto, não porque ele o tenha contado, mas porque se foram lendo e ouvido relatos de pessoas que testemunharam a sua inabalável fidelidade à mulher amada.
A doença de Laura Ferreira e a forma como PPC a acompanhou fazem luz sobre o que há de extraordinário neste homem: é que é um homem! Um homem a sério. Alguém que é honesto, integro, corajoso, mas sobretudo, alguém que cumpre o seu dever. E que o faz, não por notoriedade ou recompensa, mas porque é o seu dever. Um homem para quem o dever está acima de estados de alma e vontades pessoais.
Dizia G.K. Chesterton “The most extraordinary thing in the world is an ordinary man and an ordinary woman and their ordinary children.” Neste tempo, onde a política tantas vezes se confunde com negócios, onde vida familiar tantas se confunde com um amontoado de caprichos egoístas, um homem que coloca o dever acima do seu interesse é de facto extraordinário.
Pedro Passos Coelho faz falta. Faz falta na vida política, faz falta na vida social. Faz falta para nos mostrar que ainda há homens na vida pública. Faz falta sobretudo para lembrar a todos os homens o que é um Homem.