Assinala-se hoje 100
anos do nascimento de Karol Woytila, São João Paulo II. O Papa polaco é sem
dúvida um dos maiores homens do século XX, e um dos grandes santos da Igreja.
Órfão de pai e mãe ainda jovem, resistiu ao regime nazi e depois ao comunismo. Extraordinário actor, apaixonado pela sua Polónia. Desde cedo no seu sacerdócio, e depois como arcebispo de Cracóvia, demonstrou uma especial inclinação para os jovens. Era também um desportista. Amava as montanhas e o sky.
Quando foi eleito
Papa era uma figura imponente, com uma voz capaz de se impor ao mundo. Teve um
longo pontificado (27 anos), marcado por um renascimento da Igreja e pela
reaproximação dos jovens.
Havia tantas coisas
para dizer sobre João Paulo II. As suas viagens por todo o mundo, a sua devoção
a Nossa Senhora, a proximidade às pessoas, o seu olhar desconcertante!
Com ele a Igreja
voltou a aprender o valor da pureza e da defesa da Vida. Reaprendeu a graça da
confissão, já tão esquecida.
E depois temos também
a sua intervenção pública. A sua oposição ao comunismo foi essencial no fim da
URSS. Mas também é preciso lembrar como tantas vezes levantou a voz pela paz.
Como se opôs claramente à primeira Guerra do Golfo.
O pontificado de João
Paulo II foi uma grande graça para a Igreja e para o mundo. Mas devo confessar que a
memória que guardo de São João Paulo II não é do homem de palavras fortes e
gestos gloriosos. Eu só assisti ao fim do seu pontificado. A minha recordação é
do Papa doente, fragilizado. É de suster a respiração a cada gesto seu, rezando
para que o Papa tivesse força para continuar.
Eu bem sei que quando
falamos de João Paulo II preferimos sempre focar-nos na sua glória, e tratar a
sua doença, e sobretudo, os últimos dias da sua vida, como um pormenor.
Mas devo dizer que
foi precisamente o modo como viveu a sua doença que me fez amar João Paulo II
de maneira profunda. Porque na sua doença brilhou com clareza toda a sua Fé e
toda a sua entrega a Cristo.
Na sua última
aparição pública, no Domingo de Páscoa de 2005, já nada havia do gigante que
tinha tido o mundo a seus pés. Só estava ali um homem doente, acabado, que nem era
capaz de falar. E contudo ofereceu-se até ao fim. Na sua última aparição já
pouco havia de Karol Woytila, mas naquele homem que abençoava o seu povo estava
Cristo. Naquele homem que abraçou a cruz até ao fim, naquele que não se poupou
a nenhuma humilhação, ali estava a resposta à pergunta de Cristo a Pedro: “Senhor,
tu que sabes tudo, bem sabes que te amo”. De Karol Woytila já não havia nada, já só lá estava Pedro.
Nesta última aparição das suas enormíssimas
capacidades só sobrava a Fé. E foi a Fé que o fez um homem extraordinário. Por isso ali estava o essencial.