Assistir
à rejeição do programa de governo na Assembleia da República encheu-me de nojo:
Foi o triunfo da mediocridade, da cobardia e da desonestidade. Hoje o
Parlamento deixou de ser a Casa da Democracia, para ser o time-sharing da esquerda.
Contudo,
no meio de toda a indignação, não posso deixar de me perguntar: porque haveria de
ser diferente? Porque razão haveríamos de esperar mais do Partido Socialista? O
mesmo partido que durante seis anos aclamou José Sócrates; o mesmo partido que
elegeu Seguro para depois aplaudir à defenestração traiçoeiramente executada
por Costa; o mesmo partido que assistiu à derrota de 4 de Outubro sem qualquer
sinal de revolta.
Porque razão esperamos que a extrema-esquerda, a mesma que durante quatro anos exigiu a demissão de um governo com uma sólida maioria parlamentar, a mesma que tentou ganhar na rua o que não conseguiu vencer nas urnas, de repente respeitasse a democracia?
A
verdade é que estamos mal habituados. Os últimos quatro anos em que Pedro
Passos Coelho foi Primeiro-Ministro habituaram-nos a uma outra forma de fazer
política.
O
primeiro mandato do actual Primeiro-Ministro merece ser recordado por inúmeras
razões. Tendo herdado não apenas uma crise gravíssima, mas também um programa
de assistência internacional duríssimo, Passos Coelho e o seu Governo conseguiram
em quatro anos o que todos diziam ser impossível: cumprir o programa, manter o
défice, aumentar o emprego, equilibrar a balança comercial e regressar aos
mercados.
Tudo
isto enfrentando a oposição irracional de todos os partidos da oposição, assim
como os constantes ataques da maior parte dos comentadores, incluindo os do seu
partido, e dos media em geral.
Mais ainda, apesar de
todos os sacrifícios, apesar todos os ataques, apesar de toda a demagogia,
Passos Coelho e a coligação que liderou conseguiram aquilo que há um ano
parecia impossível. Sem nunca ceder ao eleitoralismo, mantendo sempre o rumo
que achava correcto, a coligação Portugal à Frente conseguiu convencer o povo a
dar-lhe a vitória nas urnas.
E a verdade é que este
modo de fazer político, colocando o interesse da Nação à frente do interesse
pessoal e do interesse partidário, habituou-nos mal. Habituou-nos a uma maneira séria e honrada de
fazer política.
Uma maneira de fazer
política onde os compromissos são para cumprir, as dívidas são para se pagar,
os factos são factos e não narrativas. Uma maneira de fazer política na qual o
Primeiro-Ministro responde diante do Parlamento e não dos jornais, o Governo
não tem medo de tomar medidas duras para o bem comum e a oposição é tratada com
respeito.
De facto, ao dizer "que
se lixem as eleições o que interessa é Portugal", ao recusar a demissão de
Paulo Portas, ao negar apoio a Ricardo Salgado, Pedro Passos Coelhos
habituou-nos muito mal.
Ao aceitar governar
durante quatro anos, em condições duríssimas, com imenso sacrifício pessoal,
sem nunca se esquivar às suas responsabilidades, o Primeiro-Ministro habituou-nos
à verdadeira política, aquela que existe para servir o bem comum.
Por isso nos surpreendemos
com a baixeza da esquerda, embora já devêssemos estar habituados. Mas não nos
surpreendemos quando ouvimos Pedro Passos Coelho a dizer “Sempre disse
que não abandonava o meu país. Se não me deixam lutar por ele no Governo, como
quiseram os eleitores, lutarei no Parlamento”.
Assim, apesar da indignação e do nojo com a
rejeição do programa de governo, não posso deixar de estar grato a Passos
Coelho. Grato pelo seu serviço público, pelo seu governo e sobretudo por me ter
habituado mal. Espero ter rapidamente a oportunidade de votar novamente nele,
para que nos continue a habituar mal por muitos mais anos.