É
fascinante ler o artigo de Daniel Oliveira no Expresso, Flores de estufa com espinhos. Escreve a certa altura o comentador
que “os mesmos que ao primeiro reparo se atiram para o chão num pranto, vítimas
de ignóbil censura, lançam na lama quem se atreva a levantar-lhes a voz.” e
mais à frente acrescenta “A degradação do espaço mediático e a banalização do
escândalo tornou os cidadãos menos exigentes, não mais.” e ainda “não deixar
que usem as redes sociais para a difamação.”
Um
leitor mais distraído poderia pensar que Daniel Oliveira estava a praticar
aquela tradição da esquerda que é a auto-critica. Finalmente tinha percebido o modus operandi da extrema-esquerda que
sempre apoiou, e vinha agora corajosamente denuncia-lo.
Mas
não, aparentemente Daniel Oliveira, e a maior parte da esquerda, não vê
qualquer mal quando Marisa Matias manipula informação sobre uma votação no
Parlamento Europeu para fazer uma campanha falsa contra Nuno Melo, não demonstra
qualquer sobressalto quando Isabel Moreira chama bárbaros e outros insultos a
quem dela discorda, até não se importa de partilhar memes mentirosos sobre Pedro Passos Coelho. Isto só os incomoda
quando são os “fascistas” a fazerem-no.
A
esquerda descobriu que dizer que o Governo era uma vergonha não era linguagem
apropriada para o Parlamento. Pelos visto adequado é passar quatro anos a dizer
que o governo rouba. Também descobriu o respeito institucional devido à segunda
figura de Estado. Respeito esse que não estendem à primeira, visto que passaram
dez anos a publicamente dizer tudo que havia para dizer sobre Cavaco Silva. Por
fim, a esquerda agora acha execrável o vitimismo, e que se traga para o
Parlamento as facturas dos polícias. Pena que nunca se tenha incomodado quando
um doente com hepatite foi usado politicamente para atacar Paulo Macedo (para
não falar dos amigos imaginários de Carlos César).
Nada
no populismo de André Ventura é novo, tirando o facto de não ser de esquerda.
Aquilo que o deputado do Chega e os seus apoiantes fazem hoje é igual ao que a
esquerda tem feito nos últimos quarenta anos. Desde os berros de fascista na
constituinte até as grandoladas no governo de Passos Coelho, a esquerda leva
mais de quarenta anos a degradar o debate público e político. A esquerda pode
achar Ventura um monstro, mas é um monstro que eles criaram.
A
ascensão de André Ventura é a resposta a quarenta anos de demagogia e
populismo. É a resposta da direita que se fartou da desonestidade da esquerda
que responsabilizou Passos Coelho pelos mortos numa crise de gripe e olhou para
o lado nos mortos de Pedrógão. É a resposta da direita farta de ser
achincalhada e insultada como retrógrada e diagnosticada com um conjunto de
fobias que a esquerda vai inventado ao longo do caminho. É a resposta da
direita que vê tudo a ser permitido à esquerda, mas que é suposto manter-se em
silêncio. André Ventura é fruto da frustração causada pelo populismo da
esquerda.
Evidentemente,
o populismo da esquerda não se combate com um populismo de direita. A
desonestidade da esquerda não justifica a desonestidade da direita. Mas não
vale a pena Daniel Oliveira e os seus camaradas virem agora escandalizar-se,
quando foram cúmplices na degradação da democracia que trouxe ao parlamento
André Ventura.
No
fim do seu artigo, Daniel Oliveira deixa várias estratégias para combater o
Chega. São todas inúteis. A única maneira eficaz de a esquerda combater o
populismo de direita seria ela própria abandonar o populismo. Infelizmente não
me parece que o venha a fazer, uma vez que deve o seu sucesso eleitoral à sua
capacidade amoral de manipular os factos para obter apoio das massas. Para
realmente combater o populismo da direita, a esquerda teria de olhar para o
espelho e dizer: Chega! Mas não o faz, provavelmente com medo que o seu reflexo
seja André Ventura.
Sem comentários:
Enviar um comentário