A direita-conservadora vive fixada nesse espantalho que é o
marxismo-cultural. Ou seja, vive fixa na ideia de que uma filosofia falhada e
derrotada no século XX é a principal ameaça cultural do nosso tempo.
Não digo que partes da teoria marxista, sobretudo a adaptação
da luta de classes à luta interseccional, não influencie os grandes debates culturais
do nosso tempo. Mas o problema mais dramático da cultura contemporânea não é o
marxismo, mas o liberalismo individualista.
Vivemos hoje no primado do individualismo, onde o Homem é
aquilo que diz sobre si mesmo, onde a realidade não interessa, apenas interessa
aquilo que eu digo. Um tempo onde toda a sociedade tem de aceitar aquilo que eu
digo sobre mim e tudo aquilo que se opõe à minha ideia sobre mim mesmo é uma
agressão.
Isto é especialmente vivível na causa LGBT, que vai
acrescentando sempre mais letras, de forma a acomodar cada vez mais “identidades”.
O Homem passou a ser definido pelas suas atracões e pela sua sexualidade,
deixando de ser filhos de Deus para ser filhos da moda, da sociedade, filhos de
si mesmos.
E esta maneira de olhar para a sexualidade, centrado em si
mesmo, afirmando que tudo o que me sacia sexualmente é válido (excepto o que
for crime, então aí é preciso mudar a lei) e que qualquer opinião que diga o
contrário é repressiva, é profundamente anti-humano. Esta visão da sexualidade,
centrado apenas nos meus gostos e necessidades, significa reduzir o outro a um
mero objecto de prazer. O individualismo reduz o próprio a uma criança mimada e
o resto da humanidade a objectos que existem para o meu desfrute.
O resultado está à vista, apesar de toda as promessas de
libertação sexual que há de trazer a felicidade à humanidade, finalmente livre
de barreiras da moral, temos uma sociedade cada vez mais infeliz, cada vez mais
incapaz de se relacionar, cada vez mais violenta, cada vez mais depressiva.
Por isso é especialmente preocupante ver a Igreja alinhar
nesta mentalidade. A Igreja sempre afirmou com clareza que o Homem não é
definido pelo seu pecado. O Homem foi criado para Deus, e é definido pela Graça
de Deus. E por isso a Igreja a todos acolhe como Mãe, no convite contínuo a aderir
a Cristo. Por isso a Igreja sempre falou com pessoas com tendências homossexuais,
não permitindo que a sexualidade de uma pessoa a definisse.
Infelizmente, são cada vez mais os documentos que falam de
pessoas LGBT (com mais ou menos letras), como se a sexualidade de uma pessoa definisse
quem ela é. Como se de repente, houvesse uma classe à parte, diferente de
pessoas, a quem o convite de Cristo a segui-lo não se aplicasse completamente,
por causa da sua sexualidade.
Esta falsa misericórdia não é acolher ninguém, não é
respeitar ninguém, pelo contrário, é reduzir pessoas iguais a mim a uma única
dimensão da sua vida. No fundo, mesmo que não seja essa a intenção, é dizer que
às pessoas com tendências homossexuais, ou que não se identifiquem com o seu sexo,
de alguma forma, não lhes é oferecido o mesmo que é oferecido a mim.
Isto porque a moral sexual da Igreja não é um menos, não é
uma obrigação, é uma graça. É uma forma mais Humana, mais bela, mais plena de
se viver. Tratar uma pessoa apenas de acordo com o que diz sobre si, e não de
acordo com aquilo que Deus diz sobre ela, é recusar a essa pessoa a dignidade
de criatura de Deus. E isso não é dramático apenas para a sociedade, é dramático
sobre para essas pessoas, a quem a Igreja recusa a Graça de Deus em troca de
uma ideologia mundana.
O mês de Junho, mês
do Sagrado Coração de Jesus, mês dos Santos Populares, transformou-se no mês do
Orgulho. E orgulho é o que mais define esta sociedade, onde o Homem recusa a
paternidade Divina, e prefere-se criar à sua própria imagem e semelhança. O
movimento LGBT não defende ninguém, nem promove qualquer igualdade, apenas ajuda
a impor a escravatura do individualismo egoísta. Que o poder do mundo, vergado
por esse individualismo, alinhe sem reserva nesse discurso não me espanta
(embora me dê pena). Mas a Igreja tem o dever de ser Luz do Mundo, e de
continuar a afirmar a Liberdade dos filhos de Deus num mundo de escravos do
orgulho.