Comemoram-se ontem 69 anos da declaração Schuman. Com
esta declaração deu-se inicio ao processo de construção europeia. Num tempo
onde a União Europeia atravessa aquela que é provavelmente a sua maior crise é
importante relembra não apenas esta declaração mas também o seu contexto.
Durante séculos franceses e alemães tinham sido
inimigos. Só entre 1870 e 1945 travaram três guerras. As guerras de 14-18
e de 39-45 tinham devastado os dois países.
A declaração Schuman introduziu na Europa uma
novidade: depois de séculos do equilíbrio de poderes de Richelieu, depois da paz
forçada por Wilson construída sobre a humilhação da Alemanha e do Império
Austro-Húngaro, passados cinco anos de uma guerra
mortal a França e a Alemanha propõem-se construir a paz e reconstruir a Europa num espírito de
cooperação. E fazem-no pondo em comum precisamente as indústrias que tinham
alimentado a guerra, o carvão e o aço. Nas palavras de Schuman: “A comunitarização das produções de carvão e
de aço assegura imediatamente o estabelecimento de bases comuns de
desenvolvimento económico, primeira etapa da federação europeia, e mudará o
destino das regiões durante muito tempo condenadas ao fabrico de armas de
guerra, das quais constituíram as mais constantes vítimas.”
Este esforço de ultrapassar uma relação de
desconfiança entre as nações europeias para começar uma verdadeira relação de
cooperação trouxe à Europa ocidental um dos maiores períodos de paz e
estabilidade que esta conheceu em séculos.
A minha geração, que cresceu só conhecendo a paz e
a estabilidade, não tem muitas vezes noção de que estas
não são o estado normal da Europa, mas uma novidade. A verdade é que damos a
paz como um dado adquirido.
Infelizmente a União Europeia também tem vindo
cada vez mais a esquecer-se da razão pela qual foi fundada. A União já não quer
apenas ser um meio para atingir um fim, a paz entre os povos da Europa, quer
ser um fim em si mesma. A preocupação já não é a paz, mas sim rivalizar com os Estados Unidos, a China ou a Rússia. Já não um projecto de paz, mas de poder. E para isso a União está
disposta a aprofundar a integração, até contra a vontade dos povos europeus.
Por isso vemos uma burocracia europeia cada vez
mais afastada dos cidadãos. Já não representantes das nações, mas
representantes de uma entidade abstracta que ninguém a não ser os burocratas de
Bruxelas reconhece ou deseja.
Um entidade abstracta que no seu desejo de
construir uma nova Europa, faz tábua rasa da história europeia.
Apagando não apenas as nossas diferenças culturais e históricas, mas até as
nossas raízes comuns. A mais forte e mais ignorada das quais é o cristianismo.
Entre o esquecimento dos horrores da guerra e o
crescimento despótico do poder da União o sentimento anti-união tem vindo a
crescer em todos os estados membros. A União Europeia atravessa hoje a sua
maior crise e arrisca-se a ver os partidos anti-união (que não é o mesmo que ser anti-europeísta)
a tornarem-se o maior grupo parlamentar do Parlamento Europeu. E perante isto
consegue-se adivinhar qual será a reacção da Comissão Europeia: mais integração,
mais integração, mais integração!
A União Europeia caminha para a sua destruição. E
isso é mau. Será a destruição do esforço de Schuman, Adenauer e De Gasperi e
tantos outros que permitiu construir uma paz como a Europa raramente conheceu.
É tempo de a União mudar rapidamente o seu rumo.
Desistir das suas pretensões federalistas, uniformistas, que claramente não são
desejadas pelos povos europeus. Voltar à Europa das nações de De Gaulle, nações
com história e culturas diferentes, que cooperam entre si pela paz na Europa.
Ou nas palavras de Margaret Tatcher: “Deixemos a Europa ser uma família de
nações, compreendendo-se melhor, apreciando-se mais uns aos outros, fazendo
mais unidos, mas saboreando a nossa identidade nacional não menos do que o
nosso esforço comum europeu.” Por esta Europa vale a pena lutar.