Vi
que está a ser discutido na Assembleia da República um projecto de lei do PAN
que quer obrigar os titulares de cargos público a declarar se pertencem a
alguma sociedade secreta ou discreta. Entre os exemplos apontados no tal
projecto de lei está o Opus Dei.
Ante
de mais, não posso deixar de comentar a total incompetência e inépcia dos
deputados do PAN. Escrevem leis como quem manda postas de pescadas no Facebook,
incapazes de distinguir entre um legislador e um comentador das redes sociais.
O PAN é verdadeiramente o partido anti-sistema: não tem qualquer noção de leis,
de direito, de política. Têm por junto uma agenda que querem impor a qualquer
custo sem pensar nas consequências. E o pior é que tem conseguido, às vezes com
consequências desastrosas, como no caso da proibição dos canis de abate.
Mas
a incompetência do PAN é todo outro artigo. A mim o que me espanta neste
projecto de lei é a insistência nesta lenda negra sobre o Opus Dei ser secreto,
ou mesmo discreto. É digno de quem vai buscar as suas informações ao Google ou
ao Dan Brown.
Eu
não sou, nem nunca fui, do Opus Dei. Contudo tenho bastantes parentes que
pertencem à Obra. Para além disso ao longo da vida conheci muitas pessoas
ligadas a esta prelatura. Sacerdotes, numerários, supra-numerários, alunos e
professores dos colégios da Fomento, miúdos que participam nas actividades dos
clubes, adultos que frequentam os meios de formação, nas recolecções, nos
retiros. Já estive em várias casas, centros e colégio do Opus Dei. E há uma
coisa que posso garantir: ali não há nada de secreto.
Sempre
ouvi falar de maneira completamente livre sobre a vida do Opus Dei. Sempre ouvi
falar daquilo que era ensinado, dos livros de São Josemaria, dos acampamentos,
das actividades para os miúdos. Aliás, uma experiência que tenho é que é sempre
arriscado visitar um centro do Opus Dei quando se está com pouco tempo, porque
inevitavelmente teremos direito a uma vista guiado e detalhada a todo centro.
Ainda há poucos meses fui fazer uma conferência a uma cidade fora de Lisboa,
onde conheci um numerário do Opus Dei, que mesmo tendo acabado de me conhecer
fez questão de me levar ao centro onde morava e mostrar (com orgulho evidente)
a casa toda assim como explicar-me todas as actividades que lá faziam.
Se
há algum segredo no Opus Dei então escondem-no muito mal. Aliás, esta teoria de
uma associação secreta, fechada, é absolutamente contrária ao carisma da Obra.
São Josemaria sempre pregou a santidade quotidiana, no dia-a-dia. É do carisma
do Opus Dei estar no mundo, não fugir ou esconder-se do mundo.
E
há outro erro grave que o PAN comete, o de achar que por pertencerem ao Opus
Dei os políticos de alguma maneira tem uma obediência qualquer. É absurdo e é
desconhecer completamente a história política do país. Basta pensar em Adelino
Amaro da Costa e João Mota Amaral, ambos famosos membros da Obra que nem por
isso estavam politicamente alinhados. Aliás, conheço pessoas do Opus Dei com as
mais variadas posições políticas.
Dada
a lenda negra que se tentou criar à volta de um suposto secretismo do Opus Dei
a verdade é que há poucas realidades da Igreja tão abertas e tão escrutinadas
como esta prelatura. Mais ou menos toda a informação sobre a Obra pode ser
encontrada no seu próprio site. Para além disso na última década foram
publicadas dezenas de entrevistas de membros do Opus Dei que responderam sem
qualquer problema a todas as perguntas que lhes foram feitas, desde os sacrifícios
pessoais até aos bens da prelatura.
Esta
tentativa de incluir o Opus Dei numa suposta lista de associações secretas ou
discretas é absurda. É fruto ou da ignorância (que abunda no PAN) ou da má
vontade.
Deixo
uma última questão: espero que Ferro Rodrigues, que ainda recentemente deu
provas de grande preocupação com a Constituição, não se esqueça de informar os
senhores do PAN do número 3 do artigo 41º da CRP: Ninguém pode ser perguntado por qualquer autoridade acerca das suas
convicções ou prática religiosa, salvo para recolha de dados estatísticos não
individualmente identificáveis, nem ser prejudicado por se recusar a responder.
Eu bem sei que o PAN acha que o Estado tudo pode, desde decidir que
espectáculos os portugueses devem ver até que comida devem comer. Felizmente
ainda há a Constituição para travar estes déspotas animalistas.
P.S.: Não é o tema do artigo, mas não gostava de acabar este artigo sem dizer uma coisa: como disse conheço muitas pessoas do Opus Dei. Sempre me impressionou a sua Fé, a sua disciplina, a sua simpatia e disponibilidade. A sociedade estaria bastante melhor não só se houvesse mais gente no Opus Dei, mas se mais deles se dedicassem à política.