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sexta-feira, 10 de maio de 2019

Por uma Europa das Nações.


Comemoram-se ontem 69 anos da declaração Schuman. Com esta declaração deu-se inicio ao processo de construção europeia. Num tempo onde a União Europeia atravessa aquela que é provavelmente a sua maior crise é importante relembra não apenas esta declaração  mas também o seu contexto.

Durante séculos franceses e alemães tinham sido inimigos. Só entre 1870 e 1945 travaram três guerras. As guerras de 14-18 e de 39-45 tinham devastado os dois países.

A declaração Schuman introduziu na Europa uma novidade: depois de séculos do equilíbrio de poderes de Richelieu, depois da paz forçada por Wilson construída sobre a humilhação da Alemanha e do Império Austro-Húngaro, passados cinco anos de uma guerra mortal a França e a Alemanha propõem-se construir a paz e reconstruir a Europa num espírito de cooperação. E fazem-no pondo em comum precisamente as indústrias que tinham alimentado a guerra, o carvão e o aço. Nas palavras de Schuman: “A comunitarização das produções de carvão e de aço assegura imediatamente o estabelecimento de bases comuns de desenvolvimento económico, primeira etapa da federação europeia, e mudará o destino das regiões durante muito tempo condenadas ao fabrico de armas de guerra, das quais constituíram as mais constantes vítimas.”

Este esforço de ultrapassar uma relação de desconfiança entre as nações europeias para começar uma verdadeira relação de cooperação trouxe à Europa ocidental um dos maiores períodos de paz e estabilidade que esta conheceu em séculos.

A minha geração, que cresceu só conhecendo a paz e a estabilidade, não tem muitas vezes noção de que estas não são o estado normal da Europa, mas uma novidade. A verdade é que damos a paz como um dado adquirido.

Infelizmente a União Europeia também tem vindo cada vez mais a esquecer-se da razão pela qual foi fundada. A União já não quer apenas ser um meio para atingir um fim, a paz entre os povos da Europa, quer ser um fim em si mesma. A preocupação já não é a paz, mas sim rivalizar com os Estados Unidos, a China ou a Rússia. Já não um projecto de paz, mas de poder.  E para isso a União está disposta a aprofundar a integração, até contra a vontade dos povos europeus.

Por isso vemos uma burocracia europeia cada vez mais afastada dos cidadãos. Já não representantes das nações, mas representantes de uma entidade abstracta que ninguém a não ser os burocratas de Bruxelas reconhece ou deseja.

Um entidade abstracta que no seu desejo de construir uma nova Europa, faz tábua rasa da história europeia. Apagando não apenas as nossas diferenças culturais e históricas, mas até as nossas raízes comuns. A mais forte e mais ignorada das quais é o cristianismo. 

Entre o esquecimento dos horrores da guerra e o crescimento despótico do poder da União o sentimento anti-união tem vindo a crescer em todos os estados membros. A União Europeia atravessa hoje a sua maior crise e arrisca-se a ver os partidos anti-união (que não é o mesmo que ser anti-europeísta) a tornarem-se o maior grupo parlamentar do Parlamento Europeu. E perante isto consegue-se adivinhar qual será a reacção da Comissão Europeia: mais integração, mais integração, mais integração!

A União Europeia caminha para a sua destruição. E isso é mau. Será a destruição do esforço de Schuman, Adenauer e De Gasperi e tantos outros que permitiu construir uma paz como a Europa raramente conheceu.

É tempo de a União mudar rapidamente o seu rumo. Desistir das suas pretensões federalistas, uniformistas, que claramente não são desejadas pelos povos europeus. Voltar à Europa das nações de De Gaulle, nações com história e culturas diferentes, que cooperam entre si pela paz na Europa. Ou nas palavras de Margaret Tatcher: “Deixemos a Europa ser uma família de nações, compreendendo-se melhor, apreciando-se mais uns aos outros, fazendo mais unidos, mas saboreando a nossa identidade nacional não menos do que o nosso esforço comum europeu.” Por esta Europa vale a pena lutar.

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