Li
nas redes sociais a notícia de que a SIC não convidou o PNR a participar no
debate sobre as eleições europeias que promoveu para os candidatos sem assento
parlamentar. Segundo li a SIC justificou a ausência de convite com critérios
editoriais.
Não
sinto qualquer simpatia pelo PNR, é um partido autoritário, racista e xenófobo.
A visão do nacionalismo do PNR é anti-histórica, baseada em teorias ditas identitárias,
como se ser português tivesse algo que ver com o tom da pele ou pudesse ser
reduzido à genética.
Dito
isto, não me parece que a SIC ao excluir o PNR do debate preste um bom serviço
à democracia.
Não
se defende a democracia silenciando os que não consideramos democráticos. O princípio
básico da democracia é a liberdade de pensamento e a liberdade política. Por
isso excluir o PNR em nome da democracia obriga a ferir os mais básicos
direitos políticos que a democracia garante.
Para
além disso é uma decisão absolutamente discricionária. Eu não tenho dúvidas que
o PNR é um partido que despreza a democracia. Mas o Partido Comunista,
que apoia a Coreia do Norte e o Maduro, também a despreza. E contudo tem largo
espaço mediático. O Bloco é constituído por várias facções, algumas das quais
também desprezam a “democracia burguesa” e dificilmente se vê um telejornal sem
Catarina Martins ou uma das manas Mortágua.
Se
querem afastar do debate político os partidos que desprezam a democracia, então
porque razão só o fazem com o PNR? Porque não é dado o mesmo tratamento à
esquerda anti-democrática? Quem estabelece a linha a partir da qual um partido
é de tal maneira anti-democrático que deve ser excluído do debate público?
Este
tipo de atitude, longe de fortalecer a democracia, enfraquece-a. Os partidos anti-sistema
ganham força de cada vez que o “sistema” os tenta excluir. A sua retórica
baseia-se sobretudo no ataque e na ruptura com o sistema para qual parte da
população olha com suspeita. João Patrocínio pouco teria a ganhar em participar
num debate que será dominado por Paulo Sande e André Ventura. Mas o PNR tem
muito em ganhar ao fazer-se de vítima da SIC, que o excluiu apenas porque eles
são contra o “sistema”.
Os
movimentos populistas aproveitam o descrédito em que têm vindo a cair os
sistemas democráticos para florescer. Estes partidos crescem à sombra da podridão
dos sistemas democráticos. Os constantes escândalos de corrupção; a
pornográfica intimidade entre partidos do poder e as grandes empresas; os
jornalistas activistas políticos; a protecção política concedida aos grandes
banqueiros; a falência dos serviços públicos; as constantes medidas
eleitoralistas para agradar a grupos de pressão; tudo isto fere mais a
democracia do que o PNR.
A
democracia não se defende com censura, mas com transparência. Não é o PNR que
põe em perigo a democracia. Nem são os movimentos populistas (de direita ou de
esquerda). A grande ameaça à democracia neste momento são os líderes e os partidos políticos que vivem
fechados no seu mundo, interessados apenas no poder e na distribuição de cargos
pelos militantes; são os órgãos de comunicação social movidos por interesses
políticos e empresariais próprios e não pelo dever de informação; são os cargos
políticos utilizados como trampolim para empregos lucrativos no privado; é a
mentira institucionalizada como arma política.
Aqueles
que tentam excluir o PNR (e mesmo o Chega) do debate político em nome da
democracia, fariam melhor serviço ao país se exigissem antes transparência na
vida pública. O populismo necessita da sombra criada por uma vida política
opaca para crescer. Acabem com essa sombra e o populismo ruirá.
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