Uma
dos aspectos mais negros da internet é a agressividade com que se discute.
Todos os assuntos, da política ao futebol, rapidamente se transformam numa
troca de insultos e acusações, como se estivessem dois exércitos entrincheirados.
Infelizmente
este fenómeno não é culpa da internet, mas apenas exponenciado pela capacidade
quase infinita de comunicação que esta oferece. Ou seja, a incapacidade de
manter uma discussão civilizada está hoje enraizada na sociedade (basta seguir
os debates políticos), sendo que a internet com a sua imediatez, a sua
impessoalidade e democraticidade de acesso aumenta ainda mais essa agressividade.
Muitas
vezes confunde-se a agressividade na discussão com idealismo ou coerência. Mas
é falso. A agressividade para com o outro nasce de uma total incapacidade de
olhar para ele como alguém com um coração igual ao nosso. Vivemos presos na
nossa ideologia, olhando para quem de nós discorda como um inimigo, incapazes
de reconhecer que também ele procura soluções justas e boas.
Olhar
para outro como uma pessoa não significa qualquer cedência naquilo em que
acreditamos. Eu acredito na dignidade da vida humana desde o momento da
concepção até à morte natural. E acredito que quem defende o aborto ou a
eutanásia está errado. Mas isso não significa que seja meu inimigo, ou que seja
uma pessoa má, significa simplesmente que tem uma ideia diferente (ainda que
errada) do valor da vida humana. É por isso possível discutir e argumentar
sobre esse facto, sem entrar automaticamente numa guerra mortal.
A
alternativa a olhar para quem de nós discorda como uma pessoa com um igual
desejo de justiça e de bem é uma sociedade, e por conseguinte uma política, entrincheirada,
sem capacidade de diálogo, onde cada facção tenta ganhar força suficiente para
dominar a outra. É a ditadura do 50% +1.
Se
é verdade que hoje precisamos mais do que nunca de pessoas socialmente
empenhadas com ideais claros, também é preciso mais do que nunca pessoas
capazes de dialogar e construir pontes. Pessoas capazes de debater ideias,
partindo do pressuposto de que o outro também procura o bem.
O
caminho do diálogo, da razão, da relação é mais difícil do que defender a
trincheira ideológica. Dá trabalho, gera menos espalhafato, sobretudo, atrai o
ódio dos puritanos ideológico incapazes de qualquer tipo de conversa que não
seja um debitar de cassete. Mas é a única esperança de conseguir construir uma
sociedade mais justa.
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