Ontem o Ocidente parou a
contemplar em choque o incêndio de Notre Dame. Rapidamente choveram comentários
de tristeza sobre o edifício icónico, sobre o marco histórico, a atracção
turística, o marco cultural que parecia desabar em directo para o mundo
inteiro. Logo se seguiram promessa de reconstrução e donativos, para que Notre
Dame possa rapidamente voltar a ser um marco histórico de Paris.
O incêndio e as suas reacções
são de facto simbólicos do tempo em que o Ocidente vive. Um tempo onde também o
cristianismo é reduzido a um marco cultural e social que se vai desvanecendo
diante de nós. Um tempo onde também muitos lutam para que essa cultura não
desapareça.
Contudo o drama maior é que,
tal como em Notre Dame, lutamos por um esqueleto. Lutamos por uma cultura que
foi arrancada da sua raiz. Evidentemente que é uma luta justa por algo bom:
lutar pelos valores cristãos vale a pena, porque eles são verdadeiros. Mas é
uma luta que, por si só, está perdida. Porque os valores cristãos, por muitos verdadeiros
que sejam, se estão desligados da Fé em Jesus Cristo, são apenas máximas
morais. Duram enquanto são aceites como parte da nossa cultura. Se a cultura
muda, então também esses valores mudam. Tal como Notre Dame sobreviverá
enquanto o mundo lhe reconhecer o seu valor cultural.
Não digo isto para que
desesperamos. Porque se o incêndio é símbolo da cultura ocidental, as pedras de
Notre Dame, erguidas pela Fé do povo francês, que escaparam incólumes ao
desastre, são também símbolo da força do cristianismo. Os alicerces intactos de
Notre Dame são sinal de que a Fé em Cristo, origem da cultura cristã, é capaz
de resistir ao fogo.
Os alicerces de Notre Dame sobreviveram
a guerras, a saques, a revoluções e bombardeamentos, sobreviveram também á
indiferença e a incúria da sociedade contemporânea. Também a Igreja, alicerçada
em Cristo irá sobreviver.
Ontem, no meio do desastre, um
corajoso sacerdote entrou em Notre Dame para resgatar o Santíssimo Sacramento,
a relíquia da coroa de espinhos de Nosso Senhor e a túnica de São Luís de
França. Este sacerdote deu assim testemunho ao mundo que nossa Fé não é
histórica ou cultural, que a nossa Fé não está nas pedras por mais belas que
sejam, mas é um acontecimento presente: Cristo, Deus que se fez homem (como
prova a coroa de espinhos), que nos deixou uma Igreja de Santos (como prova a
túnica de São Luís), e que ainda hoje está presente carnalmente em todos os
sacrários da terra.
É preciso continuar a defender
a Cristandade, defender a sua cultura, as suas leis e as suas obras. Mas tudo
isto será vão se não começarmos por professar Cristo. Se assim não for, até
poderemos conseguir preservar parte da cultura cristã, como ontem se conseguiu
preservar Notre Dame, mas essa cultura, tal como a Catedral, será apenas um edifício
icónico ou um marco histórico.
Muito bem escrito Zé Maria! Abraços
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