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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Comvidas: uma luz na escuridão.




Uma das consequências da pandemia que mais me assusta é o medo. O medo que nos domina e que conduz tantas vezes à desconfiança do outro e ao egoísmo. Tenho procurado resistir a essa tentação nestes últimos meses, mas nem sempre com total sucesso.

Preocupa-me sobretudo os miúdos (penso nos meus filhos) que crescem num tempo onde é dito que devemos estar distantes uns dos outros, que não devemos partilhar, que não devemos trocar abraços. Compreendo que algumas destas coisas são necessárias, mas percebo que estamos a educar uma geração para o medo do outro. E que isso é perverso.

Por isso me comove especialmente a acção do grupo Comvidas, um grupo de jovens voluntários que há meses prestam apoio a instituições afectadas pela Covid-19. Num tempo onde tudo diz que a prioridade é fugir do vírus, estes jovens voluntários vão ao encontro dele.

Não são tontos ou suícidas. Trabalham com todas as precauções, seguindo todos os protocolos, para ajudar quem precisa. Não é que desconheçam o perigo, simplesmente não se deixam dominar pelo medo.

São mais de 400 voluntários no terreno, mais de 1200 inscritos, que já trabalharam com 44 instituições. Instituições que não tinham quem apoiasse os seus utentes porque o seu pessoal estava afectado pela doença. E eles lá foram, com ingénua galhardia, lançarem-se para o meio de surtos de Covid, para garantir que não faltava ajuda aqueles velhotes.

Num tempo de medo e egoísmo, estes jovens são um testemunho de coragem e liberdade. O trabalho deles não é fazer bravatas, enchendo a boca de supostas liberdades que no fundo são apenas o egoísmo de não perder privilégios. O que eles fazem é dar a vida, ou pelo menos parte dela, para salvar outras. O seu testemunho seria sempre importante, neste tempo é essencial.

E impressiona que façam este trabalho com discrição, sem alarde, sem barulho. Não tem um plano para resolver a pandemia, não tem uma opinião sobre a epidemia. Veêm uma necessidade e vão ao encontro dela.  Sem discursos e sem teorias. 

Penso que será destes que Jesus fala quando diz: Venham, abençoados de meu Pai! Venham receber por herança o reino que está preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome e deram-me de comer, tive sede e deram-me de beber.

Estou muito grato por conhecer o trabalho do Comvidas, e por conhecer alguns dos seus voluntários. Grato não apenas pelo trabalho concreto que fazem, mas pelo que o seu gesto me educa. Os Comvidas relembram-me que não há maior amor do que a dar a vida por um amigo. Muito obrigado!

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