Qualquer dia é um bom dia para escrever sobre O Senhor dos Anéis, mas hoje é um dia
especialmente bom. Dia 25 de Março é o dia em que foi destruído o anel! O dia
em que “Sauron caiu e em que vocês foram salvos do fogo e devolvidos ao rei”.
Tolkien não gostava de alegorias e quando escreveu
O Senhor dos Anéis tinha como
objectivo apenas escrever um livro de aventuras. Muitas vezes oiço perguntar
sobre o que é este livro. A resposta é simples: é sobre a guerra do anel, ou
seja a guerra entre os povos livres da Terra Média e Sauron por causa do anel
do poder!
Como qualquer livro de aventuras o objectivo d’O Senhor dos Anéis é contar uma
história. Não é um tratado de moral ou teologia, nem sequer uma alegoria sobre
virtudes. Não vale a pena procurar significados obscuros ou tentar aplicar
teorias psicológicas. O livro é mesmo sobre uma guerra imaginária!
Dito isto, é evidente que é possível identificar
neste livro muitas das coisas que são queridas a Tolkien. Ele não se limita a
escrever uma história, escreve uma história que gosta. Como dizem os elfos “Nós
pomos o pensamento de tudo aquilo que amamos em tudo aquilo que fazemos”. Por
isso em O Senhor dos Anéis está
presente a paixão do autor pela línguas, pelos mitos, pela Inglaterra rural.
Até o seu gosto em fumar cachimbo! Evidentemente também a fé de Tolkien está
presente neste livro.
Um dos pormenores mais evidentes, e onde é mais
possível identificar a fé do professor é nesta coincidência da destruição do
anel ser no dia 25 de Março. E torna-se evidente que esta data é propositada,
quando se percebe que a viagem da Irmandade do Anel começou a 25 de Dezembro.
Ou seja, a viagem do Anel, desde Rivendell até ser destruído dá-se entre o
Natal e a Anunciação. Sendo que nos princípios da Igreja a data da anunciação
era considerada como a data da Crucifixão de Nosso Senhoa. Ou seja, toda a
viagem do anel dá-se entre o nascimento e a morte de Jesus.
E isto
introduz-nos num ponto central d’O Senhor
dos Anéis. Como apesar de todo o esforço e sacrifício a força dos homens
não é suficiente para derrotar o mal. No último momento Frodo falha e não
destrói o anel. O homem, por muito bom que seja, não é capaz de se salvar sozinho.
Só a intervenção misteriosa da providência é que permite a destruição do mal.
Este é para mim talvez das coisas mais belas de O Senhor dos Anéis. A consciência que a
realidade tem um Criador, que intervém e que actua. E que se por um lado o
esforço das criaturas não é suficiente para derrotar o mal, o Criador usa o
esforço delas, e até as suas falhas, para redimir o mundo. A consciência de que
“acima de todas as sombras ergue-se o sol”.
Muito mais haveria para dizer sobre o Senhor dos
Anéis. Mas penso que para este tempo de pandemia, para este dia da Anunciação,
vale a pena ler ou reler este livro nem que seja só para nos relembrar que Deus
é verdadeiramente Senhor da História e não abandona o homem ao seu limite e à
sua fraqueza.
Sem comentários:
Enviar um comentário