Numa das mais maravilhosas cenas do filme “A Dama de Ferro” um médico tenta perceber como Margaret Tatcher se sente. A Baronesa dá uma resposta longa sobre sentimentos e ideias. A certa altura diz “Sabe, um dos maiores problemas do nosso tempo é que somos governados por pessoas que se preocupam mais com os sentimentos, do que com pensamentos e ideias”.
A
política é cada vez mais narrativa e comunicação e cada vez menos debate de
ideias. Aos políticos parece interessar mais as sondagens, focus group e índices de popularidade do que propor um caminho para
o país. Cada vez
mais estudar o eleitorado à procura do tema ou soundbyte que permita ganhar votos e cada vez menos debater ideias para alcançar o bem comum.
Não
é de estranhar por isso o desinteresse cada vez maior da das
pessoas pela política. Se a política tem como fim adaptar o discurso e as
ideias até encontrar aqueles que permitem o melhor resultado eleitoral, então
de facto há poucas razões para ir às urnas.
É sempre bom que os políticos oiçam o que o povo diz, mas é ainda mais importante que tenham algo para dizer ao povo. Há poucas coisas mais ridículas na política moderna do que ver membros do governos e líderes partidário a “brincar” ao povo, com a única finalidade de passar a mensagem que ouvem a população.
É sempre bom que os políticos oiçam o que o povo diz, mas é ainda mais importante que tenham algo para dizer ao povo. Há poucas coisas mais ridículas na política moderna do que ver membros do governos e líderes partidário a “brincar” ao povo, com a única finalidade de passar a mensagem que ouvem a população.
É
bom que os políticos andem de transportes públicos de vez em quando. Mas o que os
utentes dos transportes públicos precisam mesmo não é de uma catrefada de
ministros, mais a sua entourage a
andar de autocarro, é mesmo que estes resolvam os problemas dos transportes
públicos.
É
bom ver políticos em trabalhos agrícolas. Mas o que os agricultores precisam
mesmo é de uma política para a agricultura que lhes permita rentabilizar o seu
trabalho.
Não
é pior que algum político utilize de vez enquanto o Serviço Nacional de Saúde.
Mas o que os seus utentes precisam mesmo, não é de olhar para o lado na sala de
espera e dizer “estás a ver este senhor tão importante também vem aqui ao
Centro de Saúde”, mas de uma política para a saúde que permite a todos acesso a
bons cuidados médicos.
Já não há paciência para o político que faz política
de proximidade, arrastando consigo uma comitiva de notáveis locais mais meia
dúzia de jornalistas. As pessoas não precisam de proximidade aos políticos,
precisam é que eles governem.
E
para governar bem é preciso ideias. Não um pragmatismo vazio, que quer resolver
os “problemas reais”, que oscila entre o voluntarismo inútil e o eleitoralismo
descarado. O país não precisa de resolver problemas avulso, conforme estes vão
aparecendo nas televisões. Precisa de ideias de como governar de modo a termos
um país mais justo.
Permito-me
agora falar concretamente do CDS, partido do qual sou militante. O CDS não pode
ser autista, fingir que o problema das Europeias foi Nuno Melo dizer que era de
direita ou que o Vox não era de extrema-direita, ignorando que o resultado vem
de encontro ao que têm sido as sondagens dos últimos tempos: sempre a
descer. Fingir que o problema foi Nuno Melo e voltar ao mantra do último
congresso, ditado por Adolfo Mesquita Nunes, do pragmatismo e das soluções
concretas para problemas concretas é repetir a estratégia que conduziu o CDS ao
seu estado actual.
É
urgente daqui a Outubro não ir deixando cair medidas aqui e ali, sobre os temas
que parecem mais “quentes”. É preciso apresentar uma ideia para o país e para
os seus problemas. Não basta dizer que somos alternativa e depois apresentar
ideias soltas. É preciso deixar claro para onde queremos caminhar.
E
isso devia ser fácil, porque o CDS tem uma doutrina clara:
-
A defesa da dignidade humana de onde decorre a defesa da Vida em todas as circunstâncias, da Democracia, das liberdade
individuais, a defesa da família enquanto célula base da sociedade, a rejeição
de engenharias sociais promovidas pelo Estado.
-
Uma economia que respeita as liberdades individuais, sem medo da iniciativa
privada, mas que tenha por fim o desenvolvimento social e não apenas o lucro.
-
Um Estado forte no combate à corrupção, ao nepotismo e à economia de compadrio
que minam a nossa sociedade. Um Estado eficiente, desburocratizado, pensado do
poder local para o poder central, aproximando os centros de decisão das
pessoas.
-
Um país aberto ao mundo, mas sem nunca esquecer a sua história e a sua cultura,
sem nunca esquecer a sua ligação histórica centenária aos países lusófonos. Um
país aberto, mas que não negoceia a sua história e a sua cultura em nome de um
falso multiculturalismo.
A
capacidade de um político mede-se pela sua capacidade aplicar as ideias em que
acredita à realidade. O verdadeiro pragmatismo não é esquecer a doutrina em
favor das circunstâncias, mas sim aplicar essa doutrina à realidade concreta.
Se
o CDS quer crescer, não apenas nas próximas eleições, mas crescer no futuro,
tem que começar já a propor com clareza aquilo que defende para o país.
Parafraseando o professor Adriano Moreira, é tempo de plantar macieiras.
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