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terça-feira, 11 de junho de 2019

“Sabe, um dos maiores problemas do nosso tempo é que somos governados por pessoas que se preocupam mais com os sentimentos, do que com pensamentos e ideias”.




Numa das mais maravilhosas cenas do filme “A Dama de Ferro” um médico tenta perceber como Margaret Tatcher se sente. A Baronesa dá uma resposta longa sobre sentimentos e ideias. A certa altura diz “Sabe, um dos maiores problemas do nosso tempo é que somos governados por pessoas que se preocupam mais com os sentimentos, do que com pensamentos e ideias”.

A política é cada vez mais narrativa e comunicação e cada vez menos debate de ideias. Aos políticos parece interessar mais as sondagens, focus group e índices de popularidade do que propor um caminho para o país. Cada vez mais estudar o eleitorado à procura do tema ou soundbyte que permita ganhar votos e cada vez menos debater ideias para alcançar o bem comum.

Não é de estranhar por isso o desinteresse cada vez maior da das pessoas pela política. Se a política tem como fim adaptar o discurso e as ideias até encontrar aqueles que permitem o melhor resultado eleitoral, então de facto há poucas razões para ir às urnas.

É sempre bom que os políticos oiçam o que o povo diz, mas é ainda mais importante que tenham algo para dizer ao povo. Há poucas coisas mais ridículas na política moderna do que ver membros do governos e líderes partidário a “brincar” ao povo, com a única finalidade de passar a mensagem que ouvem a população.

É bom que os políticos andem de transportes públicos de vez em quando. Mas o que os utentes dos transportes públicos precisam mesmo não é de uma catrefada de ministros, mais a sua entourage a andar de autocarro, é mesmo que estes resolvam os problemas dos transportes públicos.

É bom ver políticos em trabalhos agrícolas. Mas o que os agricultores precisam mesmo é de uma política para a agricultura que lhes permita rentabilizar o seu trabalho.

Não é pior que algum político utilize de vez enquanto o Serviço Nacional de Saúde. Mas o que os seus utentes precisam mesmo, não é de olhar para o lado na sala de espera e dizer “estás a ver este senhor tão importante também vem aqui ao Centro de Saúde”, mas de uma política para a saúde que permite a todos acesso a bons cuidados médicos.

 Já não há paciência para o político que faz política de proximidade, arrastando consigo uma comitiva de notáveis locais mais meia dúzia de jornalistas. As pessoas não precisam de proximidade aos políticos, precisam é que eles governem.

E para governar bem é preciso ideias. Não um pragmatismo vazio, que quer resolver os “problemas reais”, que oscila entre o voluntarismo inútil e o eleitoralismo descarado. O país não precisa de resolver problemas avulso, conforme estes vão aparecendo nas televisões. Precisa de ideias de como governar de modo a termos um país mais justo.

Permito-me agora falar concretamente do CDS, partido do qual sou militante. O CDS não pode ser autista, fingir que o problema das Europeias foi Nuno Melo dizer que era de direita ou que o Vox não era de extrema-direita, ignorando que o resultado vem de encontro ao que têm sido as sondagens dos últimos tempos: sempre a descer. Fingir que o problema foi Nuno Melo e voltar ao mantra do último congresso, ditado por Adolfo Mesquita Nunes, do pragmatismo e das soluções concretas para problemas concretas é repetir a estratégia que conduziu o CDS ao seu estado actual.

É urgente daqui a Outubro não ir deixando cair medidas aqui e ali, sobre os temas que parecem mais “quentes”. É preciso apresentar uma ideia para o país e para os seus problemas. Não basta dizer que somos alternativa e depois apresentar ideias soltas. É preciso deixar claro para onde queremos caminhar.

E isso devia ser fácil, porque o CDS tem uma doutrina clara: 

- A defesa da dignidade humana de onde decorre a defesa da Vida em todas as circunstâncias, da Democracia, das liberdade individuais, a defesa da família enquanto célula base da sociedade, a rejeição de engenharias sociais promovidas pelo Estado. 
- Uma economia que respeita as liberdades individuais, sem medo da iniciativa privada, mas que tenha por fim o desenvolvimento social e não apenas o lucro. 

- Um Estado forte no combate à corrupção, ao nepotismo e à economia de compadrio que minam a nossa sociedade. Um Estado eficiente, desburocratizado, pensado do poder local para o poder central, aproximando os centros de decisão das pessoas.

- Um país aberto ao mundo, mas sem nunca esquecer a sua história e a sua cultura, sem nunca esquecer a sua ligação histórica centenária aos países lusófonos. Um país aberto, mas que não negoceia a sua história e a sua cultura em nome de um falso multiculturalismo.

A capacidade de um político mede-se pela sua capacidade aplicar as ideias em que acredita à realidade. O verdadeiro pragmatismo não é esquecer a doutrina em favor das circunstâncias, mas sim aplicar essa doutrina à realidade concreta.

Se o CDS quer crescer, não apenas nas próximas eleições, mas crescer no futuro, tem que começar já a propor com clareza aquilo que defende para o país. Parafraseando o professor Adriano Moreira, é tempo de plantar macieiras.

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