Aquando da expulsão dos Jesuítas em Portugal pelo Marquês de Pombal,
estes tinham 30 colégios em Portugal com um número de alunos que só
voltaria a ser alcançado no século XX. A estes somavam-se os mais de 50
colégios da Companhia espalhados pelo Império (cfr. Francisco Rodrigues,
A Companhia de Jesus em Portugal e nas Missões).
Estes colégios eram verdadeiros pólos de divulgação científica e
cultural ao mais alto nível. Sobre o assunto vale muito a pena ouvir e
ler Henrique Leitão, prémio Pessoa e único português membro da Academia
Internacional de História da Ciência.
A extinção das
ordens religiosas pelo Mata-Frades será um novo golpe na educação em
Portugal. O fim das ordens religiosas ditou também o fim dos seus
colégios, incluindo o Colégio das Artes de Coimbra dos Jesuítas, que só
se aguentou dois anos.
Os
anos da monarquia liberal serão anos de avanços e recuos relativamente
às ordens religiosas. Entre 1858 e 1906 os Jesuítas construíram nove
Colégios em Portugal e 14 no Ultramar.
Mais uma vez, esses colégios destacam-se pela sua enorme qualidade pedagógica e científica. Sobre o tema vale a pena ler o artigo de Carlos Bobone, no Observador de 19 de Agosto de 2017,
sobre o Colégio de São Fiel e sobretudo a obra de Francisco Malta
Romeiras, que tem investigado o ensino dos Jesuítas nos séculos XIX e
XX.
Mas essa reconstrução do trabalho educativo da Companhia de
Jesus iria enfrentar mais uma vez a fúria ideológica do Estado. A
República de Afonso Costa tratará de expulsar mais uma vez as ordens
religiosas, tendo a Companhia direito a decreto de expulsão próprio.
Não
é possível falar de educação em Portugal sem falar da Companhia de
Jesus. Durante séculos, os Jesuítas foram os grandes educadores de
Portugal e do Império. Os seus colégios foram centros de divulgação da
cultura e da ciência que muito deram a Portugal, dos Descobrimentos ao
prémio Nobel de Egas Moniz, aluno do Colégio de São Fiel.
O
trabalho educativo dos Jesuítas é a prova de que a educação, enquanto
serviço público, não tem que ser feita pela Estado. Ao Estado cabe, sem
dúvida, garantir que todos têm acesso à melhor educação possível. Mas
esta pode, sem perder nada de serviço público, ser feita por outras
entidades que não o Estado. O critério se a educação é ou não serviço
público é a sua qualidade e a sua acessibilidade, não se a escola
pertence ou não ao Estado.
A fúria ideológica jacobina e
anticlerical, que exigiu uma educação completamente dominada pelo
Estado, trouxe danos imensos à educação em Portugal. Danos esses
sentidos sobretudo pelos mais pobres, que sem essas instituições viram
fechada qualquer hipótese de estudarem.
Este artigo vem a
propósito da notícia de que o Colégio da Imaculada Conceição em
Cernache, que pertence aos Jesuítas, vai encerrar. Ao fim de 64 anos de
actividade, de 40 anos de contrato de associação, depois de educar mais
de dez mil alunos, este colégio chega ao fim pela decisão arbitrária de
Tiago Brandão Rodrigues relativamente aos contratos de associação.
Ninguém
tem dúvidas que o CAICC prestava um verdadeiro serviço público. Que
permitia a toda população envolvente acesso a uma educação de
excelência. O seu único defeito era mesmo não ser do Estado!
Infelizmente,
não é caso único. Será o décimo segundo colégio a encerrar desde a
decisão de 2016 de reduzir ao máximo os contratos de associação. Uma
decisão que ainda permanece inexplicável. Aparentemente, haveria escolas
a mais em certas regiões. A lógica mandaria a procura de um critério
razoável para escolher quais deveriam ser apoiadas: aquelas preferidas
pelas comunidades, as que tinham melhores resultado escolares, até
eventualmente, as que custavam menos dinheiro. Infelizmente, o único
critério foi se pertenciam ou não ao Estado.
Assim, escolas que
durantes décadas prestaram um serviço público inestimável, sobretudo em
regiões mais isoladas, viram-se de um dia para outro expulsas da rede de
escolas públicas. Apenas pela fúria ideológica da geringonça.
O
fim dos contratos de associação em nada melhora o ensino Portugal, não
serve as populações, não traz qualquer vantagem aos alunos do nosso
país. É uma medida que apenas prejudica os alunos dessas escolas,
sobretudo os alunos cujos pais não têm dinheiro para os enviar para um
Colégio e que por isso irão estudar para longe de casa, provavelmente
para uma escola pior do que aquela que frequentavam.
A perseguição
ao ensino não-estatal em Portugal não tem nada de defesa da Escola
Pública. Defender o ensino público é defender o acesso universal a uma
educação de qualidade, é defender que todas as famílias tenham a
possibilidade de educar os seus filhos, é defender o papel da educação
como ascensor social. E isso faz-se independentemente da escola
pertencer ou não ao Estado.
Infelizmente, para Tiago Brandão
Rodrigues, como para o Marquês, para o Mata-Frades e para Afonso Costa, o
importante não é a educação das crianças e dos jovens, o importante é
mesmo garantir a autoridade do Estado sobre as escolas. O resultado está
à vista!
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