As reacções à derrota da legalização da eutanásia são bastante
demonstrativas do que realmente faz mover os defensores profissionais
das causas fracturantes. Não falo evidentemente daqueles que, nos
últimos dois anos, fizeram uma campanha honesta e séria para defender o
que entendiam ser melhor para Portugal. Falo dos que constroem a sua
carreira política, jornalística, artística baseados apenas num contínuo
defender da última causa fracturante que for lançada para o espaço
público.
Mais importante do que as reacções de falsa vitória a que se
assistiu no parlamento (com direito a grande cobertura da comunicação
social) onde os paladinos da morte a pedido proclamavam que voltariam a
propor a lei as vezes que fossem precisas até ganhar (demonstrado como
sempre a sua fé inabalável nos dogmas que proclamam); mais importante do
que o desprezo total que a comunicação social devotou ao tema após o
chumbo no plenário (a SIC dedicou sete minutos do seu jornal da noite à
eutanásia, maioritariamente gastos com as declarações dos que eram a
favor); mais importante do que a garantia de todos jornais de que a
eutanásia iria rapidamente ser aprovada foi acompanhar as reacções nas
redes sociais e nalguns espaços de comentário nos dias seguintes.
Aí
rapidamente se esqueceram dos doentes, da autonomia e do sofrimento e
passou a dominar apenas o discurso de ódio. O ódio de quem não suporta
que existam opiniões divergentes das suas, mas sobretudo o ódio de quem
não suporta perder uma batalha política.
Nesse campo tivemos de
tudo: desde o comentador político travestido de humorista a promover o
cyber bulling contra uma manifestante que ousou levantar um cartaz de
que ele não gostou (que isto da juventude ter participação cívica só é
permitido do lado “certo” da barricada) até aos delírios do
eminentíssimo Francisco Louçã (e digo delírios, porque a alternativa a
delírios era estar a mentir descaradamente) que (numa reedição moderna
do “fascistas!” do pós-25 de Abril) conseguiu vislumbrar a presença do
PNR numa manifestação e numa campanha onde este partido não esteve.
Houve
um ponto comum em todas estas manifestações de ódio daqueles que não
suportaram que os deputados tenham dado mais importância ao que dizem os
médicos, os especialistas de cuidados paliativos, os juristas do que
aos comediantes e estrelas de televisão que foram arregimentados para
defender a eutanásia: a constante referência à Igreja. Desde Isabel
Moreira a bradar contra a “sacristia” no Expresso, até a Francisco Louçã
a atacar o bispo do Porto na SIC, os apoiantes da morte a pedido
pareceram todos mais incomodados por a Igreja ter “ganho” do que com a
derrota da “eutanásia”.
O que revela muito sobre os profissionais
das causas fracturantes. Revela que, no fundo, o que lhe interessa
realmente não é as ideologias que tanto proclamam em campanhas bem
estudadas, mas o ódio à Igreja que demonstram quando estão irritados.
Para
estas pessoas é lhes insuportável que a Igreja continue publicamente a
ter voz e, sobretudo, que os católicos, que se moveram contra a
eutanásia, não tenham vergonha de publicamente defender aquilo em que
acreditam. Pior ainda para eles é que haja leis com a qual a Igreja
concorde e que ainda não foram revogadas. Mesmo que as leis não tenham
que ver com doutrina ou religião, só o simples facto de terem a
concordância da Igreja leva-os automaticamente a ser contra.
Francisco
Louçã, Isabel Moreira, as manas Mortáguas e seus seguidores no fundo
são como adolescentes revoltados com os pais. Os pais podem fazer o que
quiserem que eles serão sempre contra. Não se trata de razão, mas de
revolta.
O problema é que temos uma agenda legislativa que anda a
reboque da revolta adolescente destas pessoas. A sua obsessão com a
Igreja acaba por dominar a política nacional. Por isso não consigo
deixar de perguntar: não saía mais em conta contratar antes um
psicólogo? Com os adolescentes costuma funcionar!
Porta-voz da campanha Toda a Vida tem Dignidade
Sem comentários:
Enviar um comentário