Portugal é um país cada
vez mais deserto. Por todo o país existem vilas e aldeias onde já quase nada
há, a não ser um conjunto de pessoas que vão envelhecendo. Os centros de saúde
e os hospitais, as esquadras, os tribunais, as escolas, os correios, os bancos,
os serviços públicos em geral, vão se tornando cada vez mais distantes, deixando,
para quem vive fora das cidades, uma qualquer máquina automática e uma suposta
digitalização, que a população envelhecida dessas terras não compreende.
A única realidade que
se mantém presente em todo o país, muitas vezes com dificuldades e recorrendo a
alguma originalidade, é a Igreja. Em quase todas as aldeias de Portugal, por
muito longínquas e desertas que estejam, lá está a Paróquia. E sabe Deus quantas
vezes essa paróquia é acompanhada pelos únicos serviços sociais que a população
têm acesso: um centro de dia, um agrupamento de escuteiros, os Vicentinos, e
tantas outras realidades que se tornam a única vida social no país profundo.
Uma vez visitei um
sacerdote amigo meu, de Trás-os-Montes, que tinha ao seu cuidado nada menos do
que catorze paróquias. Lembro-me bem de o acompanhar a uma missa que celebrava semanalmente
ás 7h ou às 8h da manhã: uma Igreja escura, gelada, mas lá estava ele a
celebrar para meia dúzia de velhotes.
Mas não é apenas nesse
Portugal esquecido que a Igreja é a única presença social. Em quantos bairros
das grandes cidades, esquecidos pelo poder (assim como assim é quase tudo
pessoas sem direito a voto), a Igreja está presente? Penso nas Missionárias da
Caridade em Chela, nos meus amigos de Comunhão e Libertação no Casalinho da
Ajuda, nos Franciscanos do Bairro Padre Cruz, e tantos outras realidade em
tantos outros bairros.
A obra educativa e
social da Igreja em Portugal não tem qualquer paralelo. São milhares de escolas,
de lares, de centros sociais, de obras de caridade, que diariamente acolhem,
educam, alimentam, vestem, cuidam daqueles a quem o Estado a e sociedade não chegam.
Obras que vivem da vida oferecida de consagrados e leigos, e também da generosidade
do Povo de Deus. Porque mesmo aquelas obras que são IPSS só conseguem sobreviver
com a generosidade desse povo.
A Igreja permanece
hoje, como desde o princípio da nacionalidade, como a única realidade social
presente em todos os recantos do país. Também por isso é tantas vezes guardiã
da cultura e da arte do nosso povo. As nossas festas populares estão sempre
ligadas à devoção. E por isso de norte a sul a fé do povo vai mantendo vivas as
nossas tradições.
E o fruto dessa devoção,
das tradições seculares, vê-se no património religioso. Desde as catedrais às
humildes capelas perdidas no meio do nada, são milhares de obras de arte que espelham
uma vida de fé milenar. Num país onde o património do Estado vai ruindo, a fé
do povo vai mantendo vivo um património de valor incalculável.
Todo este esforço da
Igreja, se fazer presente, de servir o próximo, de conservar as tradições, de
cuidar do património, tem como fim a salvação das almas. A missão da Igreja não
é ser uma ONG, ou animador cultural, nem restauradora de património, mas
anunciar Cristo. Mas o fruto deste trabalho é que a Igreja tem em Portugal um
papel social incomparável.
Imagine-se o que seria
o nosso país sem as obras sociais da Igreja, sem a suas escolas, sem as festas
religiosas, sem os cruzeiros, as capelas, os santuários, as igrejas, as
basílicas e as catedrais. Quantos ficariam sem tecto? Quando passariam fome?
Quantos ficariam sozinhos na sua doença? Quantas famílias não teriam quem cuidasse das
suas crianças, dos seus deficientes, dos seus idosos? Quantas terras ficariam
sem as suas festas? Quantas cidades perderiam o seu património mais valioso?
Muitas vezes se fala do
suposto apoio do Estado à Igreja, tantas vezes mentido e deturpando. Mas era
bom termos a consciência de que o Estado precisa bastante mais da Igreja, do
que a Igreja do Estado. A Igreja existe há dois mil anos, e viveu nas
catacumbas de Roma e nas Catedrais de França, na Polónia comunista e na Europa medieval,
sempre sem perder a Fé. O Estado é que,
incapaz de socorrer os mais desvalidos, incapaz de se fazer presente no país
profundo, incapaz de manter o seu património cultural, depende da Igreja e do
seu povo.
Eu também espero que
não se gaste mal dinheiro na Jornada Mundial da Juventude. E também acredito na
separação entre a Igreja e o Estado. (sobretudo porque acredito na liberdade da
Igreja em relação ao poder). Mas não esqueço que existe um país real, para lá
da bolha das redes sociais, um país pobre e abandonado pelo poder. E nesse país
esquecido não estão os opinadores, os políticos, os “comediantes”, nem sequer o
Estado. Nesse país só está a Igreja.
Extraordinário como sempre. Muito obrigada
ResponderEliminarMuito bom! Obrigada. Vou partilhar.
ResponderEliminarGostei muito. Obrigada. A igreja que se vê, com razão de ser...para estar, e neste texto relembrado, para (com)viver.
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