Na minha pertença a
Cristo e à Igreja, o encontro com o Padre João Seabra, que morreu em Junho do ano passado, foi o mais decisivo da minha
vida.
No dia 12 de Novembro de
1978, em Santa-Isabel, na sua missa nova, o Padre João Seabra disse “O bom
gosto do nosso mundo perguntará, escandalizado, se eu me considero então
detentor da única verdade. E eu respondo que não. Não sou detentor da verdade.
Mas sou detido por Ela. Não sou senhor da verdade, mas sou servo da Verdade”.
Este parece me um bom
ponto de partida para a minha intervenção desta noite. Porque quando pedimos
para levar a Verdade onde houver o erro, não estamos a pedir para nos
afirmar-mos a nós mesmo, as nossa ideias, a nossa opinião.
Quando pedimos para levar
a Verdade onde houver o erro, aquilo que pedimos é para levar Cristo, a Verdade
feita carne, onde houver erro. E o primeiro lugar onde é preciso que a Verdade
vença o erro é no meu coração.
Levar a Verdade onde
houver o erro não é por isso um pretensão, ou uma arrogância. Pelo contrário,
precisa de uma humilhação: a de me fazer servo dela! A de submeter as minhas
pretensões, os meus impulsos, as minhas tentações, de submeter toda a minha
pessoa ao serviço da Verdade.
Lembro-me quando fui ter
com o padre João para lhe dizer que estava a pensar empenhar-me na política.
Lembro-me bem de onde ele estava sentado, na cabeceira de uma mesa comprida na
Sacristia Velha da Igreja da Encarnação (isto há mais de quinze anos)! Ele
disse-me três coisas.
A primeira foi “lembra-te
sempre que és cidadão dos céus e concidadãos do Santos”. Ao princípio
estranhei, mas com o tempo tenho percebido que esta consciência é essencial
para se estar na política. Porque sem o horizonte do céu é fácil ou ceder ao
desespero, ou ceder ao poder.
Porque afirmar a Verdade
diante do erro, sobretudo na política, não nos garante qualquer vitória, pelo
contrário. E se é verdade que de vez enquanto lá conseguimos ganhar, não é
menos verdade que os tempos não nos são favoráveis.
Acontece-me várias vezes,
quando falo com alguém sobre as minha lutas políticas, perguntaram-me com ar
desconfiado “mas tu achas que vão ganhar?” e a minha resposta, para algum
choque do meus amigos, é sempre a mesma “tenho a certeza que vamos perder”.
Meu caros, eu sou
católico, monárquico, miguelista, democrata-cristão, pró-vida e sportinguista!
A derrota é quase inata em mim!
Mas a mim Deus não me
pede que ganhe nada, nem sequer o céu, porque esse é Ele que o oferece. A única
coisa que que Deus pede é que sejamos fiéis à Verdade que encontrámos. A vitória
é Ele que a dá, quando e como entender.
A consciência do céu é
por isso essencial para nos mantermos fiéis à Verdade, diante da tentação do
desespero ou do poder.
A seguir o Padre João
perguntou-me se eu sabia qual era o dever de um católico na política. E eu,
cheio de boa doutrina, respondi: servir bem comum. Ao que ele que me disse que eu
estava errado. O dever de um católico na política é dar testemunho de Cristo.
Como o dever de um católico que seja professor, ou advogado, ou médico. E
explicou-me que a política era a forma mais elevada de caridade porque, se um
professor é chamado a dar testemunho de Cristo diante dos seus alunos, e um
médico diante dos seus doentes, um político é chamado a dar testemunho de
Cristo diante de toda a sociedade.
Muitas vezes ouvimos
falar da falta que fazem políticos católicos. Confesso que não concordo.
Católico não é uma categoria política: temos os deputados LGBT, os deputados antirracismo,
os deputados católicos! Não, a fé não é uma bandeira política.
O que falta é católicos
que estejam empenhados na política. Ou seja, mulheres e homens para quem o
encontro com Cristo é e tal forma totalizante, que estão dispostos a servi-lo
na vida pública! Não com umas bandeiras ideológicas convenientes para capturar
um nicho eleitoral, mas dispostos a empenhar-se seriamente na política, em
todos os assuntos, tendo como critério a Verdade.
A última coisa que o
Padre João me disse foi “tu na política segues a Isilda Pegado e o António
Maria Pinheiro Torres”. Para quem não conhece estes meus dois amigos, são dois
dos maiores protagonistas na defesa da Igreja e sobretudo da causa da Vida na
política.
Ao princípio pensei que
era apenas uma indicação prática, para alguém que estava a começar uma vida
política. Com o tempo percebi que era muito mais do que isso.
É como Jesus nos ensina
no Horto da Oliveiras: Pai, que eles sejam um só, como Tu e Eu somos um só,
para que o mundo creia. Cristo faz-se presente na comunhão de um povo que é a
Igreja. Na Ascensão Jesus não diz, onde tu estiveres, eu estarei também. Mas
sim, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio vós.
É na comunhão entre os
católicos que Jesus se faz presente. E isto é igualmente verdade na política. O
meu esforço, mesmo que esteja certo e os outros errados, por si só é estéril.
Porque em última instância é sinal apenas de mim mesmo.
A unidade com este
amigos, não apenas o António e a Isilda, mas tantos outros que fui conhecendo,
é sinal para o mundo da presença entre nós de Jesus, o único que torna possível
vencer diferenças, zangas e irritações. Não é possível dar testemunho da
verdade, sem a unidade.
E é assim, nesta amizade com estes meus amigos da Federação pela Vida, que há anos que a luta pela defesa da vida se mantém. A luta contra o aborto, pela família, pela liberdade de educação, contra eutanásia, é sustentada por esta amizade construída em Jesus. Não hesito em dizer que o povo da vida, que tanto tem feito nestes anos, nasce desta unidade!
O testemunho mais visível
do povo da vida é sem dúvida a Caminhada pela Vida. Em dez cidades do país, são
milhares os que saímos à rua para num tempo que afirma a cultura do descarte e
da morte, dar testemunho público de que a Vida Humana é sagrada desde o momento
da concepção até à morte natural. Quando falamos em levar a verdade onde houver
o erro, a Caminhada pela Vida é um momento concreto para fazer carne este
pedido.
Na vossa cadeira
encontraram um flyers a convidar-vos para a Caminhada pela Vida, já no
dia 18 de Março às 15h, no Largo Camões. Venham, convidem as vossas famílias,
convidem os vossos amigos, avisem nas vossas paróquias, nos vossos movimentos!
Senhor fazei de mim um
instrumento da Vossa paz, para que onde houver erro que eu leve a Verdade,
pedimos nós na oração que serve de mote a esta noite. Dia 18 de Março às 15h no
Largo Camões, cada um de nós tem a oportunidade para fazer esta oração com os
nossos pés, caminhando em defesa da Vida. Estão todos convidados! Muito
obrigado a todos, que Deus vos guarde!
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