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segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

A magia do Natal





Quando eu era miúdo o Natal era de facto mágico. Lembro-me de ser pequeno e de ir à Missa do Galo, com a família toda. E como durante anos foi assim, todos juntos, a ouvir o coro a cantar o Adeste Fideles, a procissão infindável de acólitos, os sinos do Glória, enquanto o Menino Jesus era levado até ao presépio. As homílias extraordinárias do Padre João e no fim, o beijo ao Menino. Mas a noite não acabava aí: seguia-se para casa dos avós, onde, depois de rezarmos e cantarmos alguns cânticos de Natal, era altura de abrir os presentes que o Menino Jesus tinha trazido. E a seguir a ceia: o chocolate quente, os pãezinhos com pasta de fiambre, a castanhada, e mais uma enorme quantidade de doces. E depois o dia 25, a correria entre as refeições que não acabavam, as conversas dos tios, as brincadeiras dos primos, os brinquedos por estrear. E o dia acabava connosco cansados, cheios e felizes.


E depois aconteceu a vida. Os primos cresceram até já não fazer sentido por o sapatinho para o Divino Menino saber onde deixar os nossos presentes, os meus avós foram quase todos para o Céu (e não foram só eles), deixamos de fazer a ceia por falta de quórum, a Igreja que hoje frequento não se pode comparar à beleza de Santos-o-Velho e da Encarnação, e as combinações com as diversas famílias tornaram-se uma tarefa logística, que exige uma eficácia alemã e uma diplomacia suiça!

Claro que o Natal continua a ter coisa muito boas e bonitas, mas já não é o Natal da minha infância. E está bem assim. A forma como vivia o Natal em criança foi essencial para amar esta festa. Mas o que realmente importa é aquilo que anunciava. Toda a beleza, todos os doces, todos os presentes, todos os cânticos, eram anúncio de um facto: “Hoje em Belém de Judá nasceu para vós um salvador!”. Que Deus se tenha feito Homem, que o Todo o Poderoso se tenha feito um bebé indefeso, que Aquele que reina eternamente sobre o Cosmos e a História, durma numa manjedoura, numa corte de pastores, é o facto mais belo, mais terno, mais comovente de toda a história!

A luz que irradia de Belém ilumina todas as trevas, penetra toda a história, redime e dá sentido a toda a dor e sofrimento. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz!”. Nada é mais belo que isto!


A recordação do Natal de quando era miúdo enche-me de alguma nostalgia, e de tristeza pelos que já morreram. Mas sobretudo enche-me de gratidão pela consciência que suscita em mim do enorme mistério do Natal.

Por isso, se hoje o Natal é menos mágico é ainda mais comovente, porque despido de tantos ornamentos, marcado pela tristeza daquilo que era e já não é, brilham ainda com mais clareza as palavras de Isaías, que todos os anos escutamos na Missa do Galo: “Um menino nasceu, um filho nos foi dado. Deus colocou a soberania sobre os seus ombros. Os seus títulos são: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”. E esta é a única “magia” que preciso para o meu Natal, porque este Menino lança luz sobre toda a existência, incluindo a minha.

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